PORTLAND, 25 de abr de 2019 às 11:00
Embora a vida eremítica tenha sido abandonada aos poucos na Igreja Católica, ainda existem religiosos que asseguram que esta vocação pode ser vivida em pleno século XXI, caracterizado pelo avanço da tecnologia nas comunicações.
É o caso do Irmão Rex, um eremita da Irmandade Little Portion da Diocese de Portland, localizada no estado de Maine (Estados Unidos), que reconhece que esta é uma vocação válida na Igreja e é muito mais que somente práticas e isolamento ascético.
“A graça me atraiu para esta forma de discipulado. Os exemplos dos Padres e Madres do deserto me atraíram para esta vida. O exemplo também de muitos dos grandes santos ao longo da história, como Francisco de Assis, um santo conhecido que viveu como eremita por um tempo antes de ser chamado para fundar uma fraternidade religiosa de Irmãos”, contou o Irmão Rex à CNA, - agência em inglês do Grupo ACI.
A palavra “eremita” vem do grego “eremos”, que significa deserto ou lugar isolado. A vocação do eremita era mais popular entre os primeiros cristãos, que inspirados por santos como Elias e João Batista, desejavam viver uma vida isolada e, portanto, se retiravam ao deserto para viver em oração e penitência.
A definição de eremita se encontra no cânon 603 do Código de Direito Canônico, a norma que rege a Igreja Católica.
“§ 1. A Igreja, além dos institutos de vida consagrada, reconhece a vida eremítica ou anacorética, pela qual os fiéis por meio de um mais estrito apartamento do mundo, do silêncio na solidão, da oração assídua e da penitência, consagram a sua vida ao louvor de Deus e à salvação do mundo”, estabelece.
Um dia na vida de um eremita ou ermitão
Irmão Rex assegura que um dos aspectos mais alegres de sua vida é a oportunidade que o Senhor lhe concede de “passar longos períodos em silêncio e solidão” para “estar na presença de Deus e do próximo através da oração”.
“Um aspecto alegre da minha vocação é que tenho a bênção de fazer parte das vidas de outras pessoas, já que me convidam a estar unido a elas através do ministério da oração intercessora”, relatou.
Irmão Rex conta que seu dia começa por volta das 4h, depois, às 5h, dedica uma hora de Adoração ao Santíssimo Sacramento e, em seguida, participa da Missa em uma paróquia local, às 7h.
Ao voltar da Missa, toma o café da manhã e dedica o resto da manhã à Lectio Divina, e muito de vez em quando atende alguma pessoa com quem tenha marcado horário para direção espiritual.
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“Depois da oração de meio-dia e do almoço, à tarde (aproximadamente entre 13h e 17h) é um período de trabalho durante o qual respondo e-mails e recebo pedidos de oração”, explica.
Mais tarde, às 17h reza as Vésperas, janta às 17h30 e faz sua oração da noite às 19h. Finalmente, apaga as luzes às 20h.
“Este horário é suficientemente rígido para proporcionar estabilidade à minha vocação no silêncio da solidão, mas também suficientemente flexível para poder fazer recados, marcar consultas médicas, realizar tarefas na ermida, etc.”, esclarece Irmão Rex.
Sobre a vida de outros eremitas que conhece, afirma que raramente se aventuram fora de sua ermida.
“Alguns ermitãos se aventuram alguns dias da semana a algum tipo de trabalho para proporcionar apoio financeiro. A quantidade de tempo que um eremita passa fora ou encontra outras pessoas está determinada em grande medida pela interpretação do Cânon 603 em diálogo com o seu ordinário (bispo) ou seu representante, e a regra ou plano de vida do eremita”, descreve.
Ao concluir a entrevista, Irmão Rex afirma que “a vida eremítica é um chamado de Deus e inclui o amor aos demais”, e que se afasta do que alguns consideram ser uma “misantropia”, definida por ele como uma “resposta psicologicamente desadaptada ao mundo”.
“O que rezo pelos outros católicos, cristãos não católicos e pela sociedade em geral é que tanto eles, como eu, possamos experimentar a liberdade, a felicidade e a alegria que vem de submeter a própria vontade e vida ao senhorio amoroso de Jesus Cristo em qualquer estado de vida que se encontrem”, conclui.
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— ACI Digital (@acidigital) April 15, 2019