Vaticano, 10 de mai de 2019 às 11:30
Em seu encontro com a Diocese de Roma, da qual é Bispo, o Papa Francisco propôs 3 atitudes para escutar “os gritos” na Cidade Eterna.
O Santo Padre chegou na noite de quinta-feira, 9 de maio, à Basílica de São João de Latrão, a Catedral de Roma, onde foi acolhido pelo Cardeal Angelo De Donatis, Vigário do Papa.
Dentro do templo, Francisco se encontrou com os sacerdotes e os fiéis, no marco do caminho de reflexão e reconciliação empreendido pelas paróquias e escolas católicas da diocese.
Antes de se dirigir as presentes, o Pontífice escutou o testemunho de um sacerdote, o qual comentou que atualmente existe uma crise de fé e que “é doloroso dizer que Roma se converteu em terra de missão”, por isso que “é hora da nova evangelização” com uma Igreja em saída.
Também participou com seu testemunho a leiga Simona Basoluci, uma mãe de três crianças e encarregada de duas casas para pessoas com deficiências, assim como o testemunho de uma família com dois filhos.
“Falar da família é falar de cada um de nós, cada um de nós é um pedaço da família. Trazemos, Santidade, o grito dos casais que querem se casara para sempre, diante do medo de enfrentar a cotidianidade. Somos a voz das crianças e jovens aos quais devemos dar raízes e as asas para alçar o voo”, disse a mãe da família que se apresentou na basílica.
Por último, o diretor da Cáritas de Roma, Pe. Benoni Ambarus, refletiu brevemente sobre a ajudar aos mais necessitados e a importância de responder a eles, embora a tarefa sempre “nos ultrapasse”.
A proposta do Papa Francisco
Para ser capazes de escutar e responder eficazmente aos gritos da cidade, o Papa Francisco propôs três atitudes: a humildade, o desinteresse e fazer experimentar as bem-aventuranças.
1. Humildade
Depois de escutar a passagem do Evangelho de Mateus, no qual o Senhor acolhe as crianças, o Papa destacou que é importante ter em consideração “na mente, no coração, que quando o Senhor quer converter a sua Igreja chama o menor de todos e coloca-o no centro, convidando todos a se tornarem pequenos e a humilhar-se como Ele fez”.
“A reforma da Igreja começa com a humildade e continua com as humilhações, assim vai contra os ares de grandeza”, indicou.
Francisco recordou que, abaixo “dos 12 anos, as crianças não tinha nenhuma relevância social naquele tempo. Quem busca a própria glória não saberá escutar os outros nem Deus. Como poderá colaborar com a missão?”.
“Entre nós há tantos liturgistas equivocados que, em vez de incensar o Senhor, incensam a si mesmos e vivem assim. Quem procura a sua própria glória, como poderá servir a Deus? Não terá olhos ou ouvidos para os outros”, lamentou.
“Se olha de cima, será apenas para levantar alguém que está abaixo. Em outro momento isso não é lícito. Aqueles que olham de cima para baixo para desprezar não podem ser justificados. Quem despreza nunca será um bom evangelizador, porque nunca verá além da aparência. Pensará que os outros são inimigos e que não têm Deus”, explicou o Santo Padre.
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O Papa ressaltou que, para escutar o Espírito Santo e às pessoas, “é necessária a humildade”.
2. Desinteresse
“O segundo dado necessário para escutar o grito é o desinteresse. Na passagem evangélica estava o pastor que busca a ovelha, preocupado para que ninguém se perdesse. Temos interesses pessoais. Nós, nesta noite, perguntemo-nos, qual é meu interesse pessoal em minha atividade eclesial?”, questionou Francisco.
O Santo Padre ressaltou que “o desinteresse para com si mesmo é a condição necessária para se interessar pelos outros. (É necessário) combater o pecado do espelho . Nós, sacerdotes, religiosos, leigos com vocação, caímos muito no pecado do espelho, chama-se narcisismo e autorreferencialidade, que nos sufocam. O Senhor não tinha o espelho, tinha a consciência da oração com o Pai. Com isso, foi adiante”.
“Nós, ao contrário, temos ficado obcecados pelas poucas ovelhas que ficaram no recinto e nos convertemos em ‘penteadores’ de ovelhas requintadas. E se passa o dia todo ali com elas. São muitas? Não, 10”. “Já não temos a coragem de nos encontrarmos com os outros”, lamentou.
3. Experimentar as bem-aventuranças
O Pontífice disse que o terceiro ponto “para escutar o grito das pessoas é fazer experimentar as bem-aventuranças (...). As bem-aventuranças são uma mensagem cristã, mas também humana que nos faz viver, nos faz ir adiante”.
Experimentar as bem-aventuranças, explicou, “significa ter aprendido do Senhor a alegria verdadeira, a que o Senhor nos dá”.
“Quem se equivoca no caminho se arrisca a equivocar outros. Vemos isso em alguns movimentos pelagianos ou gnósticos, que são incapazes de andar adiante. São propostas egocêntricas. Em vez disso, as bem-aventuranças te levam adiante mais rápido para seguir Jesus”, sublinhou o Papa.
“Às pessoas frágeis, devemos oferecer o caminho das bem-aventuranças, que nós também encontramos no encontro com Deus”, incentivou Francisco, que também pediu para ter uma “olhar contemplativo sobre os demais”.
O Santo Padre incentivou a buscar as pessoas para “compreender como vivem e saber o que pensam os habitantes de nossos bairros. Conheçamos as histórias de vida exemplares”.
“Tenham um olhar contemplativo. Aproxime-se assim. Aproxime-se tocando as realidades” e olhem “contemplativamente as novas culturas da cidade para encontra-las e entendê-las”, concluiu.
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— ACI Digital (@acidigital) May 10, 2019