O Vaticano publicou nesta segunda-feira, 17 de junho, o documento de trabalho, em latim “Instrumetum laboris”, que ajudará os participantes da próxima Assembleia especial do Sínodo dos Bispos a preparar a reflexão dos prelados que terá como tema “Amazônia: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, e que será realizada entre os dias 6 a 27 de outubro de 2019.

O Instrumentum laboris deste Sínodo para a Região Panamazônica foi publicado em três idiomas: espanhol, italiano e português. O texto é composto por 147 pontos divididos em 21 capítulos separados por três partes. A primeira parte se titulada “a voz da Amazônia” e tem a finalidade de apresentar a realidade do território e de seus povos.

Conforme indica a introdução do Instrumentum laboris, o texto está estruturado “com base nas três conversões às quais nos convida o Papa Francisco: a conversão pastoral, a qual nos chama através da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (ver-escutar); a conversão ecológica, mediante a Encíclica Laudato Si’, que orienta o rumo (julgar-atuar); e a conversão à sinodalidade eclesial, através da Constituição Apostólica Episcopalis Communio, que estrutura o caminhar juntos (julgar-atuar). Tudo isto, num processo dinâmico de escuta e discernimento dos novos caminhos, ao longo dos quais a Igreja na Amazônia anunciará o Evangelho de Jesus Cristo durante os próximos anos”.

Na segunda parte deste texto vaticano, intitulada “Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres”, adverte-se sobre a “destruição extrativista” e abordam questões relevantes como “os povos indígenas em isolamento voluntário (PIAV)” e outros fenômenos de interesse mundial, como “a migração”, “a urbanização”, “a família e a comunidade”, “a saúde”, “a educação integral” e “a corrupção”.

Sobre a corrupção

O texto denuncia no numeral 81 que “nas últimas décadas aumentou o investimento na exploração das riquezas da Amazônia por parte de grandes companhias. Muitas delas perseguem o lucro custe o que custar, sem se importar com o dano socioambiental que provocam”.

“Os governos que autorizam tais práticas, necessitados de capital para promover suas políticas públicas, nem sempre cumprem seu dever de preservar o meio ambiente e os direitos de suas populações. Assim, a corrupção afeta as autoridades políticas, judiciais, legislativas, sociais, eclesiais e religiosas que recebem benefícios para permitir a atividade destas companhias”, acrescenta.

Além disso, o documento destaca o grave problema da presença do narcotráfico na região e seus muitos malefícios. “Em muitas ocasiões, a corrupção está vinculada ao flagelo do narcotráfico ou do narconegócio e, por outro lado, vem destruindo o tecido social e econômico em regiões inteiras”.

Problemática pastoral

Na terceira parte do Instrumentum laboris, reflete-se sobre os desafios e esperanças da região e incentiva a Igreja a ter um papel “profético na Amazônia”, apresentando “a problemática eclesiológica e pastoral” da região.

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Por isso, o documento descreve a importância de chegar a uma Igreja “com rosto amazônico e missionário”, em concreto através “da celebração da fé” em “uma liturgia inculturada”.

O texto fala ainda do diálogo ecumênico e interreligioso e explica alguns dos desafios da inculturação e da evangelização nas cidades da região.

Entre as questões pastorais que emergem, destaca-se no texto o pedido para que se estude a possibilidade de que alguns homens casados, de preferência oriundos das comunidades indígenas locais, recebam a ordenação sacerdotal para atender as regiões mais longínquas.

“Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja, pede-se que, para as áreas mais remotas da região, se estude a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã", diz o documento na seção de Sugestões, localizada no numeral 129.

Outro ponto que cabe destacar é o capítulo dedicado à “missão dos meios de comunicação”. O ponto 141 indica que os meios de comunicação da Igreja “podem ser um instrumento muito importante para transmitir o estilo de vida evangélico, seus valores e seus critérios. Também são espaços para informar o que acontece na Amazônia, principalmente no que diz respeito às consequências de um estilo de vida que destrói, e que os meios nas mãos de grandes corporações ocultam. Já existem alguns centros de comunicação social geridos pelos próprios indígenas, que experimentam a alegria de poder fazer ouvir suas próprias palavras e sua voz, não somente às suas comunidades, mas também fora delas”.

Por último, o texto vaticano assinala a relevância do “papel profético da Igreja e a promoção humana integral”, aprofundando a importância de alcançar uma “Igreja em saída” e uma “Igreja em escuta” na região Panamazônica.

A íntegra do Instrumentum Laboris sobre o Sínodo dos Bispos para a Amazônia pode ser lida em: http://www.sinodoamazonico.va/content/sinodoamazonico/pt/documentos/instrumentum-laboris-do-sinodo-amazonico.html

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