O Cardeal Jorge Urosa Savino, Arcebispo Emérito de Caracas, denunciou que o governo de Nicolás Maduro é "um violador dos direitos humanos" e deve deixar o poder para permitir que os graves problemas da Venezuela sejam resolvidos.

"No final do mês de junho, Michelle Bachellet, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, esteve na Venezuela. Depois de sua visita, ela publicou um relatório que revela e desmascara a realidade do atual governo da Venezuela como um violador dos direitos humanos", disse o Cardeal Urosa em entrevista concedida ao Grupo ACI.

"Esse relatório corrobora as críticas e denúncias que os bispos venezuelanos vêm fazendo há vários anos", acrescentou.

Bachelet visitou a Venezuela de 19 a 21 de junho, convidada pelo regime de Nicolás Maduro. Durante sua viagem, reuniu-se com autoridades do país, bem como com vítimas de violações dos direitos humanos e organizações que as atendem.

Em seu relatório, a ONU alertou que, "por mais de uma década, a Venezuela adotou e implementou uma série de leis, políticas e práticas que têm restringido o espaço democrático, enfraquecido as instituições públicas e minado a independência do poder judiciário", permitindo ao governo "cometer numerosas violações dos direitos humanos".

O Cardeal Urosa recordou que, em 11 de julho, "no contexto da nossa assembleia geral ordinária, os bispos venezuelanos emitimos um documento no qual, entre outras coisas, indicamos a necessidade de que Nicolás Maduro abandone o poder que ocupa de fato. Já em janeiro deste ano, havíamos indicado a ilegitimidade da pretensão de Maduro de continuar governando a Venezuela”.

"Agora, em julho, pela primeira vez, indicamos a necessidade de que ele deixe o poder para permitir uma mudança de governo que resolva os graves problemas que o povo venezuelano enfrenta”, disse o purpurado ao Grupo ACI.

"Chegamos a essa decisão devido à convicção de que Maduro não é capaz de administrar a marcha do país. Ele simplesmente não pode fazê-lo", enfatizou o Cardeal.

"A Venezuela está em ruínas. A inflação absolutamente incontrolável; não há luz, água, gás ou gasolina; não há dinheiro em efetivo, papel moeda; não há comida ou os preços estão muito caros; não há medicamentos, nem peças de reposição para veículos ou máquinas. Simplesmente, Maduro não sabe e não pode governar”.

Além disso, continuou Cardeal Urosa, o governo de Maduro "violou sistematicamente os direitos humanos dos venezuelanos. Portanto, como eu disse em repetidas declarações desde abril deste ano, Maduro deve sair".

Grave situação dos presos políticos na Venezuela

"Um aspecto muito grave da situação atual que quero enfatizar é a situação dos presos políticos, alguns dos quais morreram sob custódia do governo, em circunstâncias que indicam a responsabilidade de funcionários do Estado", explicou o Cardeal ao Grupo ACI.

"Há prisioneiros militares e civis sujeitos a isolamento e violação de direitos, como o deputado Edgar Zambrano e outros. Recentemente, o capitão de Corveta, Rafael Acosta Arévalo, morreu assassinado depois de sofrer torturas durante vários dias em uma instalação militar. Isso clama ao céu, deve parar imediatamente e deve ser castigado severamente pela lei”.

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O caso do capitão Acosta começou em 21 de junho, quando foi capturado pela Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM), que o teria torturado. A notícia de sua morte foi confirmada apenas oito dias depois.

O promotor Tarek William Saab o acusou de participar da suposta tentativa de assassinato de Maduro e, na noite de 26 de junho, foi apresentado aos tribunais militares.

Segundo informa o jornal ‘El País’, aqueles que o viram disseram que Acosta entrou em cadeira de rodas e com sinais evidentes de tortura, conforme uma publicação do Twitter feita pela advogada Tamara Suju, diretora do Instituto Casla. Em maio passado, esta ativista apresentou à OEA os vídeos e testemunhos sobre a tortura sofrida pelos detentos da DGCIM.

Devido à morte do capitão Arévalo, dois membros da DGCIM foram levados à prisão preventiva.

Em diálogo com o Grupo ACI, o Cardeal Urosa afirmou que, "há vários anos, nem Hugo Chávez nem Nicolás Maduro responderam nossas mensagens, nem sequer quando, há algum tempo, com a melhor boa vontade, enviamos opiniões e conselhos para resolver os problemas do povo”.

"Esporadicamente, responderam a algumas declarações com alguns ataques, mas não à nossa exortação pastoral de 11 de julho", lamentou.

Uma mensagem para os venezuelanos

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O Arcebispo Emérito de Caracas recordou que, na exortação pastoral de 11 de julho, os bispos convocaram “o povo a uma convivência cívica plural e pacífica, em justiça, liberdade e solidariedade”. “Devemos participar ativamente da renovação ética e espiritual da Venezuela".

Aos venezuelanos que se viram obrigados a emigrar, o Cardeal expressou sua "solidariedade e um chamado à fortaleza para enfrentar a dura situação na qual se encontram e à esperança. Que se aproximem de Deus, que os ajudará a superar as dificuldades atuais”.

"E uma saudação e gratidão aos povos e governos, como o Peru, que receberam tantos venezuelanos que foram forçados a emigrar. Bênçãos para todos!", concluiu o purpurado venezuelano.

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