WASHINGTON DC, 29 de jul de 2019 às 16:00
As igrejas, os santuários e os mosteiros no Oriente Médio não são apenas destinos de peregrinação, mas também lugares de identidade e esperança para os cristãos locais que sofrem ameaças existenciais, manifestaram líderes religiosos locais.
“Cristo habitou entre nós em Belém, no Egito, na Galileia e, claro, em Jerusalém. E, por seu Espírito Santo, Ele permaneceu presente ao longo dos séculos em Jerusalém, no Oriente Médio e até os confins da terra", disse o Patriarca Theophilos III de Jerusalém, que acrescentou que "nossos locais sagrados contam as histórias da história de Deus conosco”.
"Ninguém pode negar que esta região, o lugar do encontro divino-humano na história sagrada, é de fato o centro da terra", declarou o Patriarca da Terra Santa em um evento no âmbito de uma reunião mundial sobre liberdade religiosa em Washington, D.C., na semana passada.
Theophilus III se dirigiu aos sacerdotes, líderes civis e religiosos em um evento sobre "Locais sagrados cristãos e lugares sagrados no Oriente Médio", por ocasião da Conferência Ministerial para Promover a Liberdade Religiosa, organizada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos de 15 a 19 de julho em Washington, D.C..
A reunião contou com a participação de líderes religiosos e civis de todo o mundo, além de delegações de 106 países que se reuniram para discutir sobre a perseguição religiosa e estratégias para promover a liberdade religiosa.
O evento "Locais Sagrados" foi patrocinado pela Comunidade Internacional do Santo Sepulcro e pelo Grupo de Trabalho do Instituto Hudson sobre os Cristãos e o Pluralismo Religioso no Oriente Médio.
Os conferencistas se centraram não só no significado espiritual dos locais de peregrinação em todo o Oriente Médio, mas também na importância vital que têm para os cristãos que vivem lá.
Theophilos é o patriarca número 141 da Igreja Ortodoxa Grega em Jerusalém, portanto, o líder cristão mais importante na Terra Santa.
Além disso, afirmou que "os atentados dos radicais contra as propriedades da Igreja em Jerusalém continuam" e que os grupos "sabem muito bem que cada ataque contra um lugar sagrado representa outra ameaça à nossa identidade cristã".
Nesse sentido, comentou que os locais sagrados estão ameaçados em várias frentes, incluindo vandalismo, "intimidação de colonos radicais" e políticas hostis na legislatura do Knesset de Israel.
Segundo o patriarca, essas políticas cobrariam impostos municipais sobre as propriedades da Igreja em Jerusalém, como hospitais e escolas, o que poderia "arruinar" as igrejas. Além disso, outro projeto de lei teria permitido ao Estado confiscar, supostamente em defesa dos inquilinos, terras vendidas por igrejas a compradores privados.
A decisão dos líderes católicos, ortodoxos, gregos e armênios, de fechar temporariamente a Igreja do Santo Sepulcro em fevereiro de 2018, foi por causa destas políticas. "Já era suficiente e também a hora de estabelecer os limites", disse o Patriarca sobre o fechamento, afirmando também que "forças fora do nosso controle ameaçavam a santidade e a integridade de nossos lugares sagrados".
"Manter um só peregrino" fora da igreja "é uma tragédia", disse. No entanto, acrescentou que a solidariedade que milhões de pessoas em todo o mundo mostraram com as Igrejas foi alentadora.
A igreja reabriu depois que Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, interveio nos esforços para impor a política fiscal e a cidade recuou nas propostas. O Patriarca manifestou que, quando a solução foi encontrada, "a luz da Ressurreição brilhou".
Da mesma forma, expressou sua gratidão a Netanyahu e ao presidente israelense Reuven Rivlin por seus esforços para proteger os Lugares Sagrados, assim como "a contínua e fiel custódia dos lugares sagrados" do rei Abdullah II da Jordânia. Do mesmo modo, agradeceu o apoio dos legisladores dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Além disso, destacou a vigília de oração de 11 de julho, que contou com a participação de outros patriarcas e líderes da Igreja na Porta de Jaffa, em Jerusalém, após a decisão da Suprema Corte de Israel contra a Igreja Ortodoxa Grega em um controverso acordo de terras que remonta a 2005.
O acordo envolveu a venda por parte da Igreja, mais tarde disputada, de hotéis dentro do Bairro Cristão da cidade para os colonos israelenses, uma transferência de propriedade que o patriarca disse que poderia afetar a "integridade" do Bairro Cristão de Jerusalém, e possivelmente impedir o acesso de peregrinos a locais sagrados.
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Uma declaração conjunta dos patriarcas e dos chefes das igrejas locais em Jerusalém qualificou o acordo de "infrutífero" e disse que ameaçava o acordo de Status Quo da cidade.
Desta forma, Theophilos III disse que pediu aos funcionários locais que se unissem para apoiar Netanyahu e seu trabalho “para manter a rota de peregrinação aberta a todos e para manter o tecido histórico, multiétnico, multicultural e multirreligioso de nossa grande cidade, Jerusalém".
No evento, discutiu-se sobre a preservação dos lugares sagrados na Terra Santa, assim como na Síria, Iraque e Egito.
Pe. Alexi Chehadeh, do Patriarcado Ortodoxo Grego de Antioquia e Todo o Oriente, contou que centenas de igrejas e mosteiros "em toda a Síria" foram total ou parcialmente destruídos durante a guerra civil que afetou o país, e que isso significou bilhões de dólares para a sua reconstrução.
"Não se pode ignorar a importância simbólica da reconstrução dos lugares sagrados", reforçou o Patriarca e outros líderes cristãos.
Segundo Pe. Chehadeh, muitos locais sagrados do Patriarcado são igrejas que datam do século II ou III, e que reconstruí-los é "cuidar das raízes do cristianismo" e "sinal de um ambiente pacífico" que encoraje os cristãos a retornarem à Síria. Cerca de metade das comunidades cristãs sírias deixaram o país durante a guerra civil.
Pe. Salar Kajo, sacerdote em Teleskov, expressou que o Cardeal Louis Raphael I Sako, chefe da Igreja Católica Caldeéia, deu ordens para iniciar o processo de reconstrução na região de Nínive (Iraque), principalmente nas casas dos sobreviventes do genocídio cristão.
No entanto, o presbítero afirmou que "as pessoas insistiam em começar com os lugares sagrados, igrejas e mosteiros". "Este é o único sinal de esperança que temos, e vamos voltar a esses lugares", disse.
Por sua parte, a fundadora do grupo de órfãos coptos, Nermien Riad, comentou que depois da derrubada do presidente Hosni Mubarak, em 2011, no Egito, a Irmandade Muçulmana "veio depois das igrejas".
Por que eles se dirigiram às igrejas? "Reconhecemos que há uma redução gradual do espaço público para os cristãos no Egito, porque os extremistas querem eliminar os ícones e as estátuas públicas", disse Riad.
Também expressou que a exclusão dos cristãos dos espaços públicos possivelmente chegou ao esporte; atletas cristãos denunciaram atos de discriminação ao se associarem a clubes e à seleção nacional de futebol.
Nesse sentido, afirmou que “as igrejas se tornaram o centro da comunidade cristã e servem como um centro de apoio vital e um local de refúgio para os cristãos, o que os ajuda a enfrentar as mensagens insidiosas que os chamam ‘cidadãos de segunda classe'”.
"O mais importante é o último vestígio de que existimos", concluiu.
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— ACI Digital (@acidigital) July 26, 2019