Vaticano, 22 de ago de 2019 às 16:02
Dom Paul Richard Gallagher, Secretário do Vaticano para as Relações com os Estados, denunciou que está ocorrendo na sociedade uma relativização dos direitos que tem como consequência o surgimento de um laicismo doentio.
Durante sua intervenção no Meeting de Rimini pela Amizade entre os Povos, que acontece de 18 a 24 de agosto, na cidade italiana de Rimini, organizado pelo movimento Comunhão e Libertação, Dom Gallagher explicou que nos últimos cinquenta anos a “interpretação de alguns direitos foi progressivamente sendo modificada, incluindo uma multiplicidade de novos direitos, muitas vezes opostos a outros, criando as premissas daquilo que o Papa define como a moderna colonização ideológica”.
“Este processo de relativização dos direitos está intimamente conectado à progressiva exclusão da esfera religiosa da vida social, por sua vez, fruto de um laicismo doentio que coloca César antes de Deus em vez de favorecer sua interação positiva, embora com a óbvia distinção de âmbitos”.
Em sua intervenção, também recordou o político italiano, pai da União Europeia, Alcide De Gasperi, que em seu discurso em Bruxelas em 1948 definiu os pilares do projeto europeu de unificação: “A defesa da liberdade, a promoção da justiça e a construção da paz".
Dom Gallagher enfatizou que a solidariedade é a "premissa indispensável para conseguir os outros bens, pois, sem ela, o outro permanecerá sempre como alguém estranho, um adversário e, portanto, alguém que se deve combater e dominar". "A solidariedade é o antídoto para a opressão tirânica".
Em termos cristãos, pode-se dizer que a solidariedade "se baseia na consciência de fazer parte de um corpo único no qual, se um membro sofre, todos sofrem".
"Um dos resultados dramáticos desse processo é a fragmentação da existência", que favoreceu a "solidão e o individualismo" como "sinais preocupantes do nosso tempo".
"O desgaste do sentido de dever e a subjetivação progressiva dos direitos debilitaram o próprio coração do projeto europeu", afirmou.
Questão migratória
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Com essa premissa, Dom Gallagher fez uma reflexão sobre a resposta europeia à "delicada questão migratória". Para ensaiar uma resposta correta, assinalou que é necessário "redescobrir mais os deveres do que os direitos que estão em jogo”.
Em primeiro lugar, “existe o dever mais óbvio: o da solidariedade humana para com a pessoa que está em necessidade, que sofre e que, com frequência, está em perigo. É um dever que, antes de corresponder aos Estados e aos governos, corresponde a nós”.
“O dever de ajudar o próximo é um dever fundamental, mas certamente não é o único. Deve, por sua vez, ser equilibrado com o importante dever que pertence aos Estados de oferecer uma oportunidade de integração aos migrantes e segurança aos próprios cidadãos”.
Em segundo lugar, “há o dever de solidariedade dos Estados. É um princípio fundamental da própria existência da União Europeia. Não se pode pensar que esta questão possa interessar apenas aos ‘países de fronteira’. Obviamente, oferecer soluções práticas a este ponto de vista não corresponde nem a mim nem à Santa Sé, porque é uma questão interna”.
Finalmente, “deve se recordar que existe também um dever dos próprios migrantes. É o dever de se familiarizar com a terra na qual foram acolhidos, aprender o idioma, conhecer as tradições culturais e religiosas”.
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— ACI Digital (@acidigital) April 14, 2018