REDAÇÃO CENTRAL, 27 de ago de 2019 às 16:00
A declaração do Superior da Companhia de Jesus, Pe. Arturo Sosa Abascal, de que o diabo é uma "realidade simbólica" está "fora do magistério ordinário e extraordinário solene" da Igreja, alertou a Associação Internacional de Exorcistas (AIE).
A AIE, que tem entre seus fundadores o famoso exorcista Gabriele Amorth, emitiu um comunicado após as declarações de Pe. Sosa à revista italiana ‘Tempi’, publicadas em 21 de agosto.
Quando perguntado se o diabo existe, o sacerdote respondeu: “de várias maneiras. É necessário entender os elementos culturais para se referir a esse personagem. Na linguagem de Santo Inácio, é o espírito maligno que leva você a fazer as coisas que vão contra o espírito de Deus. Existe como mal personificado em várias estruturas, mas não nas pessoas, porque não é uma pessoa, é uma forma de executar o mal”.
“Não é uma pessoa como a pessoa humana. É uma forma do mal estar presente na vida humana. O bem e o mal estão em luta permanente na consciência humana e nós temos os meios para indicá-los. Reconhecemos Deus como bom, inteiramente bom. Os símbolos são parte da realidade e o diabo existe como uma realidade simbólica, não como uma realidade pessoal”, afirmou o Superior Geral dos Jesuítas.
Em seu comunicado de 22 de agosto, a associação que reúne exorcistas de todo o mundo alertou que as declarações de Pe. Sosa Abascal são "graves" e "desorientadas", porque "a existência real do diabo, como sujeito pessoal que pensa e age e que fez a escolha de se rebelar contra Deus, é uma verdade de fé que sempre fez parte da doutrina cristã”.
Nesse sentido, recordaram que, em 15 de novembro de 1972, durante a Audiência Geral da quarta-feira, São Paulo VI disse que o mal que existe no mundo é “ocasião e efeito de uma intervenção em nós e no mundo de um agente escuro e inimigo, o demônio.
“O mal não é apenas uma deficiência, mas um ser vivo, espiritual, pervertido e perversor. Realidade terrível. Misteriosa e assustadora”, alertou São Paulo VI.
A AIE observou que o Papa também afirmou a necessidade de acreditar que o diabo é um ser criado por Deus e não como um princípio absoluto independente ou como um simples símbolo do mal. Quem se nega a reconhecer a realidade do demônio vai contra “o ensinamento bíblico e eclesiástico”.
São Paulo VI, indicou a AIE, reiterou que o diabo “é o inimigo número um, é o tentador por excelência. Sabemos assim que esse ser escuro e perturbador existe de verdade”.
Da mesma forma, o Papa Francisco, "em várias circunstâncias, reiterou com insistência e fortemente a realidade do demônio", como em sua exortação apostólica Gaudete et exultate, na qual abordou profundamente "sobre a temática demoníaca". Indicou que o Pontífice lembrou que o caminho para a santidade "é uma luta permanente na qual se requer força e coragem para resistir às tentações do demônio".
“O Papa ressalta que, ao falar sobre a luta contra o diabo, não se trata apenas de uma luta contra a mentalidade mundana ou contra as inclinações pessoais ao mal, mas, mais especificamente, refere-se a uma luta contra um ser real 'que é o príncipe do mal'. Com essa expressão, vem destacada a dimensão de sujeito ou pessoa no concreto, que é uma entidade subsistente real, que se chama e é o Maligno. O próprio Jesus o derrotou e se alegra”, assinala a Associação Internacional de Exorcistas.
Do mesmo modo, indicou que Francisco “explica que, nos tempos de Jesus, podia-se confundir, por exemplo, uma epilepsia com a possessão do demônio, no entanto, é necessário reconhecer que Jesus fez muitas libertações de obsessões. A ação diabólica confirma a existência real do diabo e sua presença constante, desde o início da criação, como resulta das primeiras páginas das Escrituras, em referência ao relato de gênesis sobre a sedução da serpente do primeiro casal humano, Adão e Eva".
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"Portanto, não se pode argumentar que ‘o diabo não existe ou não age’. O Pontífice diz que o próprio Jesus, quando ensinou aos discípulos a oração do Pai-Nosso, colocou como último pedido a libertação do mal: ‘A expressão usada não se refere ao mal em abstrato’, mas se indica propriamente e adequadamente o Maligno, que é um ser pessoal, o tentador”, indicou AIE.
Além disso, o Papa alerta para “os erros que se difundem em torno da figura de Satanás: ‘Não pensemos que seja um mito, uma representação, um símbolo, uma figura ou uma ideia. Este engano leva-nos a diminuir a vigilância, a descuidar-nos e a ficar mais expostos’".
A associação de exorcistas assinalou que "a afirmação é clara e não admite dúvidas ou discussões sobre a existência real de Satanás", pois, como o Papa adverte, "se esta verdade for negada (...) cai-se facilmente nas garras do diabo, que ‘como um leão a rugir, anda a rondar-vos, procurando a quem devorar'”.
"Portanto, a Igreja, baseada nas Escrituras Sagradas e na Tradição Apostólica, ensina oficialmente que o diabo é uma criatura e um ser pessoal, e adverte contra aqueles que, como o padre Sosa, o consideram apenas como um símbolo", expressou a AIE.
Finalmente, a Associação Internacional de Exorcistas conclui sua declaração recordando o que a Conferência Episcopal Italiana afirma na apresentação do novo rito de exorcismos, promulgado pela Santa Sé, em 22 de novembro de 1998.
“O discípulo de Cristo, à luz do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja, acredita que o Maligno e os demônios existem e atuam na história pessoal e comunitária dos homens. O Evangelho, de fato, descreve a obra de Jesus como uma luta contra Satanás. Também a vida de seus discípulos envolve uma batalha que 'não é contra sangue e carne, mas contra principados, contra potestades, contra os governadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal'”, recordou.
No numeral 391 do Catecismo, a Igreja Católica afirma a existência do diabo ao ensinar que Satanás é "um anjo destronado" que tentou "nossos primeiros pais". "A Igreja ensina que ele tinha sido anteriormente um anjo bom, criado por Deus".
Da mesma forma, o numeral 395 afirma que “o poder de Satanás não é infinito. Ele não passa de uma criatura, poderosa pelo fato de ser puro espírito, mas sempre criatura: não é capaz de impedir a edificação do Reino de Deus”.
Confira também:
Superior dos jesuítas insiste em negar a existência do diabo https://t.co/YmHHRxdMSo
— ACI Digital (@acidigital) August 22, 2019