Após rumores infundados de que o Papa Francisco poderia aprovar a ordenação sacerdotal ou diaconal das mulheres, o Cardeal Antonio Cañizares, Arcebispo de Valência (Espanha), garantiu aos fiéis da Espanha que este é um ponto de fé "irreformável" e que nem o contexto cultural nem a opinião da maioria determinarão uma eventual mudança doutrinária a esse respeito.

Em um artigo intitulado "Ordenação sacerdotal de mulheres?", publicado em 18 de setembro, no jornal espanhol ‘La Razón’, o Cardeal Cañizares explicou que tanto diante do início do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, como diante do anúncio dos Bispos alemães que também projetam celebrar outro sínodo, apareceram “informações de que vão tratar da modificação da disciplina eclesial do celibato, da ordenação de homens casados, viri probati, ou da ordenação das mulheres”.

"Com relação aos temas do sacerdócio, acredito que nem o Papa Francisco nem um servidor veremos esta tentativa, se é que há, se tornar realidade”, assegurou o Cardeal Cañizares e recordou a Carta Apostólica dirigida aos bispos de todo o mundo sobre a ordenação sacerdotal, reservada apenas aos homens.

Além disso, explicou que a razão apresentada pelo Papa São João Paulo II a esse respeito é "básica e tem grandes consequências para toda a Igreja", pois esta, "de maneira alguma, tem a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres", porque, explicou o Cardeal, “assim nos veio da Revelação que aconteceu de maneira irrevogável e definitiva em Jesus Cristo e pela Tradição da Igreja, que, auxiliada pelo Espírito Santo, atualiza, não a cria nem a modifica, essa Revelação ao longo dos séculos”.

Nesse sentido, o Cardeal Cañizares ressaltou que a concepção católica de “Revelação” contém “uma realidade que é dada ao homem como algo que, soberanamente, vem a ele e é independente dele”, ou seja, “a revelação é baseada na manifestação do próprio Deus em pessoa através dos acontecimentos, além das interpretações e decisões do homem”.

“Por isso, como a Revelação, a qual também pertencem os acontecimentos – e, sobretudo, o Acontecimento único e irrepetível de Jesus Cristo –, não é obra do homem, tampouco está em nossas mãos modificá-la conforme as experiências humanas, as situações sociais e históricas ou das diversas culturas”, assegurou.

Por isso, disse que, ser parte da Revelação gera uma consequência muito “importante para toda a Igreja, para todo aquele que pertence à sua identidade e sua constituição: que ninguém pode dispor da fé e da vida cristã, nem nos sentir donos ou senhores dela”.

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Ou seja, "não podemos mudar seus elementos essenciais de acordo com os movimentos mutantes da história ou com as ‘exigências’ de um determinado tempo ou cultura. Isso só seria possível se a fé fosse o produto da especulação e criação dos homens. Mas não é assim. Quando a cultura é convertida em um critério e na medida da fé, põe-se em questão o próprio fundamento da fé”, assegurou.

“Se a cultura é o que decide o que é válido e o que não é na fé e na vida da Igreja, então estamos dizendo que Jesus Cristo não aconteceu. Sua pessoa, suas obras, seus gestos não teriam um valor definitivo de Revelação última e plena. Nesse caso, não seria Ela Palavra de Deus feita carne, na qual Deus nos disse tudo; teríamos que esperar por outra revelação; não estaríamos salvos”, destacou o Purpurado.

“E é isso que está em jogo na ordenação sacerdotal da mulher. É uma questão que pertence à entranha da fé. E, por isso, a Igreja, mesmo que quisesse, não pode fazer nada além de seguir o que Cristo fez, reunido nas Escrituras Sagradas, o qual elegeu seus Apóstolos apenas entre os homens”, insistiu.

Nesse sentido, o Cardeal explicou que se pode estar "muito tranquilos", porque "não chegaremos a nenhum cisma", mas incentivou a rezar muito "pela plena unidade e comunhão da Igreja e pela fidelidade ao Papa, à Revelação e à Tradição da Igreja, e isso não será questionado, mesmo que sejam muito diferentes, nem no Sínodo da Amazônia, nem na Alemanha. Isso não pode ser feito, deixaria de ser a Igreja que Jesus quis”.

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