REDAÇÃO CENTRAL, 27 de set de 2019 às 11:30
Pe. Martín Lasarte, sacerdote salesiano e especialista nomeado diretamente pelo Papa Francisco para participar do Sínodo da Amazônia, de 6 a 27 de outubro, no Vaticano, assegurou que ordenar homens casados como sacerdotes "não resolve o verdadeiro problema de fundo".
Em entrevista concedida a ‘Europa Press’, o sacerdote que trabalha como colaborador do Dicastério Salesiano Central das Missões em Angola (África), disse que ordenar os chamados viri probati, idosos casados de comprovada virtude, é uma solução “ilusória, quase mágica, e não resolve o verdadeiro problema de fundo".
“Escutei como argumento que a ordenação de sacerdotes entre os leigos de comunidades distantes é necessária, porque o ministro dificilmente pode chegar. Ao meu modo de ver, a imposição do problema nesses termos, peca de um enorme clericalismo. Onde não está o padre ou a madre, não há vida eclesial”, afirmou o sacerdote uruguaio.
Em sua opinião, considerar que onde não há sacerdote, a Igreja não funciona é “uma aberração eclesiológica e pastoral. Nossa fé, sendo cristã, está enraizada no Batismo, não na ordenação sacerdotal”.
O sacerdote questionou então por que existem tantas vocações na África, Índia ou países comunistas como o Vietnã. "A Amazônia tem elementos culturais muito semelhantes aos nossos, como o sentido comunitário, a comunhão com a natureza, o sentido da transcendência, mas a falta de vocações se deve ao fato de ter havido impostações pastorais que foram bastante pobres", afirmou o presbítero a ‘Europa Press’.
Depois de comentar que atualmente os salesianos têm 18 vocações indígenas, o especialista afirmou que 92% da população mora nas cidades. "Às vezes, pens-se bucolicamente nos rios e nas florestas, mas a verdade é que a maioria dos jovens indígenas migra" e nas cidades é preciso "acompanhá-los e formá-los".
O sacerdote também incentivou o diaconato e a importância de promover a liderança das mulheres na Amazônia, bem como "pensar em um ritual litúrgico indo-americano".
De 6 a 27 de outubro, será realizado em Roma o Sínodo dos Bispos para a Região Pan-amazônica, convocado pelo Papa Francisco para “identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus”.
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Em outubro de 2017, o Santo Padre explicou que “o objetivo principal desta convocação é identificar novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus, especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de capital importância para nosso planeta”.
O Papa assinalou que decidiu convocar o sínodo, acolhendo o desejo de algumas conferências episcopais na América Latina, assim como as vozes de vários pastores e fiéis de outras partes do mundo.
Em 17 de junho deste ano, o Vaticano publicou o Instrumentum laboris ou documento de trabalho do Sínodo. O texto é composto por 147 pontos divididos em 21 capítulos separados por três partes, que abordam os seguintes temas: “A voz da Amazônia”, entendida como escuta deste território; a "Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres"; e a igreja "com rosto amazônico e missionário".
O Instrumentum laboris confirma que "o celibato é uma dádiva para a Igreja". No entanto, o texto também recomenda, entre outras coisas, a possibilidade da ordenação sacerdotal de idosos casados em áreas remotas.
No ponto 129, explica que, nas áreas mais remotas da região, perguntam sobre “a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã”.
Confira também:
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— ACI Digital (@acidigital) September 26, 2019