REDAÇÃO CENTRAL, 7 de out de 2019 às 11:00
Jifna é um povoado palestino na Cisjordânia, a apenas oito quilômetros ao norte de Ramallah, a capital de fato da Autoridade Nacional Palestina, e a 22 quilômetros ao norte de Jerusalém. A aldeia de dois mil habitantes é única graças à maioria cristã preservada por quase 1.500 anos, em uma região onde os cristãos são uma minoria decrescente.
De fato, o monumento mais famoso de Jifna não é uma das elaboradas mesquitas e minaretes que dominam a paisagem palestina; são as ruínas da igreja romana de St. George, construída no século VI.
Jifna está em conflito e esses desafios são uma representação justa dos problemas complexos que ameaçam a sobrevivência das comunidades cristãs na Terra Santa.
Segundo as estatísticas oficiais do Patriarcado Latino, Jifna está perdendo cristãos por causa da migração, ficando apenas 870 na cidade, dos quais 428 são cristãos ocidentais.
Um grande grupo de cristãos deixou os territórios da Palestina durante a Segunda Intifada, um período de intensa violência entre israelenses e palestinos que começou no final de setembro de 2000 e terminou no início de 2005.
“Os cristãos são uma das comunidades mais pacíficas, educadas e com maior mobilidade de Israel. Esses cidadãos leais servem como amortecedor entre a população judaica e muçulmana e dão um poderoso testemunho do amor e perdão que Jesus Cristo oferece”, afirmou Roberto Nicholson, presidente do Philos Project e especialista em temas sobre a região.
Mas, muitos incidentes anticristãos provocados por muçulmanos tornam os cristãos cautelosos, diz Nicholson, especialmente quando os desacordos locais são enquadrados como incidentes religiosos e aumentam perigosamente.
Um episódio traumático aconteceu em 24 de abril, quando uma mulher cristã de Jifna teve um problema de trânsito com um jovem muçulmano, filho de um influente líder palestino com supostas conexões com o poderoso movimento Fatah, em Ramallah. Após o desentendimento, a mulher foi presa pela polícia palestina.
Em vingança, alguns membros da família reuniram amigos do campo de refugiados de Al-Am'ari e, em 26 de abril, viajaram para Jifna, onde destruíram propriedades e lançaram insultos anticristãos.
De acordo com o relatório da Al-Monitor, “alguns dos homens armados dispararam no ar e exigiram que os cristãos pagassem a jizyah, um imposto per capita anual chamado dhimmi, que se aplicava à população não muçulmana que vivia sob o domínio islâmico".
“Os moradores de Jifna fizeram ligações de emergência para a polícia, mas demorou três horas para alguém chegar. Parte do atraso ocorreu devido ao fato de Jifna estar na área B da Cisjordânia, administrada pelos palestinos, mas com um controle conjunto de segurança israelense-palestino, a polícia precisava da aprovação das autoridades israelenses antes de entrar”, explicou Al Monitor
Ao comentar sobre o incidente e seu impacto sobre os cristãos locais, Wadie Abunassar, diretora do Centro Internacional de Consultas, escreveu no Facebook que “os moradores de Jifna, a maioria dos quais são cristãos, manifestaram sua raiva e ressentimento por duas razões principais: primeiro, o grande ataque realizado por alguns moradores do campo de refugiados de Al-Am'ari e, segundo, o atraso na chegada das forças de segurança palestinas”.
"Esperamos que todos aprendam que os cristãos são uma parte inalienável do povo palestino, que não deveriam ser vulneráveis de forma alguma", disse Abunassar.
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Em setembro, durante uma visita à região, organizada pelo Philos Project, um grupo de líderes católicos pôde visitar a paróquia de St. Joseph, em Jifna. Eles falaram diretamente com membros da comunidade católica local e seu pároco, Pe. Joney Bahbah.
No salão paroquial, um cristão local explicou ao grupo de Philos Project que nos territórios palestinos "os cristãos temos um forte sentido de nacionalidade e identidade palestina".
A postura política de muitos cristãos na Cisjordânia reflete a da maioria dos muçulmanos. Acreditam no "direito de retorno" a terra atualmente ocupada por Israel e culpam Israel pela maioria de seus sofrimentos atuais.
Segundo Nicholson, “a sociedade palestina não pode sobreviver sem os cristãos. Embora representem apenas cerca de 1% da população, os cristãos palestinos fornecem cerca de 50% dos serviços de saúde e 70% dos programas de educação na Cisjordânia e Gaza. Não haverá um Estado Palestino florescente sem uma Igreja local forte. Autoridades palestinas devem fazer mais para capacitar e proteger os cristãos que vivem de acordo com suas regras".
Pe. Bahbah reconheceu que outra causa do declínio da população de cristãos na Terra Santa é a falta de oportunidades na região. Também assinalou o encanto da secularização ocidental. "Hoje, os jovens (palestinos) querem se divertir, dançar, viajar, não querem Jesus", assinalou.
Mas Nicholson acredita que a sobrevivência das comunidades cristãs na Terra Santa requer um compromisso significativo com Israel.
“Israel oferece uma oportunidade única, embora incomum, para o renascimento cristão no Oriente Médio: única porque Israel é um dos poucos países da região que é estável e livre, e incomum porque Israel se identifica como um Estado Judeu. Qualquer pessoa que se preocupe com os cristãos do Oriente Médio deve aproveitar esta oportunidade, encontrar maneiras de trabalhar com Israel e fortalecer a Igreja local. Mas também devemos enviar mensagens de esperança muito necessárias para aqueles que moram em outras partes da região”, afirmou.
Enquanto isso, em Jifna, o povoado cristão cercado por oliveiras, árvores de damascos e trepadeiras, Pe. Bahbah disse que continua suas tarefas diárias como sacerdote com um sentido de esperança.
"Acreditamos que a paz chegará, porque Jesus viveu aqui e ama esta terra".
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— ACI Digital (@acidigital) September 26, 2019