Vaticano, 17 de out de 2019 às 14:30
O sacerdote salesiano pertencente à comunidade indígena brasileira Tuyuka e que participa do Sínodo da Amazônia, Pe. Justino Sarmento Rezende, afirmou que, com oração e esforço, qualquer pessoa de qualquer cultura do mundo pode viver o celibato, também os indígenas.
Durante sua intervenção para os meios de comunicação credenciados ante o Vaticano no briefing informativo realizado nesta quinta-feira, 17 de outubro, na Sala de Imprensa da Santa Sé, para informar sobre os avanços dos trabalhos sinodais, Pe. Sarmento disse que “é importante que as pessoas vivam o celibato com esforço, com oração e com a ajuda das pessoas. Vivê-lo da forma mais equilibrada possível”.
Contradizendo o que afirmou o Bispo Emérito de Xingu (Brasil), que assegurou aos meios de comunicação, em 9 de outubro, que "os povos indígenas não entendem o celibato", Pe. Sarmento assinalou que “o celibato é uma virtude que pode ser vivida por qualquer pessoa, homem ou mulher”.
O presbítero indígena deixou claro que se “pensasse que o celibato não é para mim, eu deixaria o sacerdócio. Porque, se algum dia de minha vida eu ver que estou sofrendo muito com isso e que já não estou sendo mais testemunho de vida para as pessoas de minha comunidade, de minha Igreja, já não teria nenhum sentido para mim”.
"O celibato não é algo que nasce com a pessoa humana, é algo que se estabelece ao longo da história", continuou.
“Nenhum de nós que estamos aqui, nem eu nem vocês, estamos preparados para viver o celibato. Por isso, eu já escrevi artigos nos quais falo que o celibato é um dom de Deus”, assinalou.
Assegurou que “pessoas de qualquer cultura que existe no mundo podem conseguir viver o celibato a partir do momento em que, livremente, não forçadamente, diga ‘eu quero assumir este estilo de vida’”.
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“Eu digo isso por experiência própria. Minha mãe não me disse 'você vai ser sacerdote, viva o celibato'. Pelo contrário, quando entrei no seminário, ela chorou porque queria ter um filho casado para ter a alegria de criar seus netos. Meu avô, que era mestre de grandes cerimônias tuyuka, também me disse: ‘Ser sacerdote não é para nós, os tuyuka. De onde você tirou essa ideia?'".
Recordou que “para nós, também para mim, os únicos capazes de serem sacerdotes eram os brancos, e não nós (os tuyuka). Quando os indígenas se tornam sacerdotes, surgem as perguntas ou dúvidas. Dizem: os indígenas têm muita dificuldade para viver o celibato. Sim, eu tenho porque sou uma pessoa normal. Talvez outras pessoas não tenham isso”.
No entanto, apesar das dificuldades que possam existir, "o celibato é uma virtude que pode ser experimentada por qualquer pessoa, homem ou mulher".
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— ACI Digital (@acidigital) October 17, 2019