O Papa Francisco presidiu nesta segunda-feira, 4 de novembro, a Missa celebrada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em sufrágio pelos Cardeais e Bispos falecidos no decorrer deste ano.

Em sua homilia, o Santo Padre recordou que “não nascemos para a morte, mas para a ressurreição”.

“Hoje podemos interrogar-nos também nós: Que me sugere o pensamento da ressurreição? Como correspondo à minha vocação para ressuscitar? Uma primeira ajuda, recebemo-la de Jesus que diz no Evangelho de hoje: ‘Quem vier a Mim, Eu não o rejeitarei’. E formula este convite: ‘Vinde a Mim’. Vamos a Jesus, o Vivente, para ser vacinados contra a morte, contra o medo de que tudo acabe. Vamos a Jesus: pode parecer uma banal e genérica exortação espiritual”.

A seguir, a homilia completa do Papa Francisco:

As Leituras que escutamos lembram-nos que viemos ao mundo para ressuscitar: não nascemos para a morte, mas para a ressurreição. De fato já desde agora, como escreve São Paulo, «a cidade a que pertencemos está nos céus» (Flp 3, 20); e Jesus diz, no Evangelho, que ressuscitaremos no último dia (cf. Jo 6, 40). E é o mesmo pensamento da ressurreição que sugere a Judas Macabeu – segundo a primeira Leitura – uma ação muito boa e nobre (cf 2 Mac 12, 43). Hoje podemos interrogar-nos também nós: Que me sugere o pensamento da ressurreição? Como correspondo à minha vocação para ressuscitar?

Uma primeira ajuda, recebemo-la de Jesus que diz no Evangelho de hoje: «Quem vier a Mim, Eu não o rejeitarei» (Jo 6, 37). E formula este convite: «Vinde a Mim» (Mt 11, 28). Vamos a Jesus, o Vivente, para ser vacinados contra a morte, contra o medo de que tudo acabe. Vamos a Jesus: pode parecer uma banal e genérica exortação espiritual; mas tentemos concretizá-la, interrogando-nos: Hoje, nos casos que me passaram pelas mãos no serviço, aproximei-me do Senhor? Fi-los motivo de diálogo com Ele? E, nas pessoas que encontrei, envolvi Jesus, levei-as a Ele na oração? Ou fiz tudo fechado nos meus pensamentos, limitando-me a regozijar-me com o que me saía bem e a lamentar-me do que resultava mal? Em resumo, vivo a caminho do Senhor ou girando sobre mim mesmo? Qual é a direção do meu caminho? Procuro apenas causar boa impressão, defender a minha função, os meus tempos e os meus espaços, ou vou ter com o Senhor?

A frase de Jesus – quem vier a Mim, Eu não o rejeitarei – é intrigante; como se supusesse a expulsão para o cristão que não vai a Ele. Para a pessoa que acredita não há via intermédia: não se pode ser de Jesus e girar sobre si mesmo. Quem é de Jesus vive em saída para Ele.

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A vida é, toda ela, uma saída: do ventre da mãe para vir à luz, da infância para entrar na adolescência e na juventude, da juventude para a vida adulta, etc… até à saída deste mundo. Hoje, ao mesmo tempo que rezamos pelos nossos irmãos Cardeais e Bispos, que saíram desta vida para ir ao encontro do Ressuscitado, não podemos esquecer a saída mais importante e difícil, que dá sentido a todas as outras: a saída de nós mesmos. Só saindo de nós próprios é que abrimos a porta que leva ao Senhor. Peçamos esta graça: «Senhor, quero vir a Vós através das estradas e dos companheiros de viagem de cada dia. Ajudai-me a sair de mim mesmo, para ir ao encontro de Vós, que sois a vida».

Um segundo pensamento alusivo à ressurreição, gostaria de o tirar da primeira Leitura, do nobre gesto realizado a favor dos defuntos por Judas Macabeu. Fê-lo, como está escrito, porque «acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem com sentimentos de piedade» (2 Mac 12, 45). Por outras palavras, são os sentimentos de piedade que geram uma bela recompensa. A piedade, a compaixão pelos outros abre as portas da eternidade. Inclinar-se sobre os necessitados para os servir é antecâmara do paraíso. De facto, como lembra São Paulo, se «o amor jamais passará» (1 Cor 13, 8), então este é precisamente a ponte que liga a terra ao Céu. Assim, podemos interrogar-nos se estamos a avançar por esta ponte: Deixo-me comover pela situação duma pessoa que passa necessidade? Sei chorar por quem sofre? Rezo por aqueles em quem ninguém pensa? Ajudo alguém mesmo que nada possua para me restituir? Não se trata de sermos bonzinhos, não é caridade mesquinha; é questão de vida, questão de ressurreição.

Finalmente um terceiro estímulo tendo em vista a ressurreição, tiro-o dos Exercícios Espirituais, quando Santo Inácio sugere para, antes de tomar uma decisão importante, nos imaginarmos na presença de Deus no fim dos nossos dias, ou seja, naquela chamada inadiável a comparecer, no ponto de chegada para todos, para todos nós. Pois bem, enfrentada nessa perspectiva, cada opção de vida será bem orientada, porque está mais próxima da ressurreição, que é o sentido e o objetivo da vida. Tal como a partida se calcula a partir da meta, como a sementeira se julga a partir da colheita, assim também a vida se julga bem a partir do seu fim. Santo Inácio escreve: «Considerando como se me encontrasse no dia do julgamento, pensar como teria decidido então sobre o presente; e a regra que eu gostaria de ter seguido então, tomá-la agora» (Exercícios Espirituais, 187). Pode ser um exercício útil ver a realidade com os olhos do Senhor, e não apenas com os nossos; para ter um olhar projetado para o futuro, para a ressurreição, e não apenas fixo no hoje que passa; para realizar opções que tenham o sabor da eternidade, o gosto do amor.

Saio de mim, cada dia, para ir ter com o Senhor? Tenho sentimentos e gestos de piedade para com os necessitados? As decisões importantes, tomo-as na presença de Deus? Deixemo-nos provocar ao menos por um destes três estímulos. Ficaremos mais sintonizados com o desejo de Jesus, no Evangelho de hoje, que é não perder nenhum daqueles que o Pai Lhe deu (cf. Jo 6, 39). Por entre as inúmeras vozes do mundo que fazem perder o sentido da existência, sintonizemo-nos com a vontade de Jesus, ressuscitado e vivo: façamos do dia de hoje que vivemos um alvorecer de ressurreição.

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