Neste domingo, 24 de novembro, às 10h45 (hora do Japão), o Papa Francisco visitou o Monumento dos Mártires de Nagasaki, onde exortou a levantar a voz para que se garanta a liberdade religiosa em todo o mundo e não se manipulem as religiões.

A seguir, o discurso completo do Papa:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Estava ansioso pela chegada deste momento. Venho como peregrino para rezar, confirmar e também ser confirmado na fé por estes irmãos, que nos mostram o caminho com o seu testemunho e dedicação. Agradeço-vos as boas-vindas.

Este santuário evoca as imagens e nomes dos cristãos que foram martirizados há muitos anos, a começar de Paulo Miki e seus companheiros em 5 de fevereiro de 1597, e a multidão doutros mártires que consagraram este campo com o seu sofrimento e a sua morte.

Mais que de morte, porém, este santuário fala-nos do triunfo da vida. São João Paulo II viu este lugar não só como o monte dos mártires, mas também como um verdadeiro Monte das Bem-aventuranças, onde podemos captar o testemunho de homens repletos de Espírito Santo, libertos do egoísmo, das comodidades e do orgulho (cf. Gaudete et exsultate, 65). Pois aqui a luz do Evangelho brilhou no amor que triunfou sobre a perseguição e a espada.

Este lugar é, antes de mais nada, um monumento que anuncia a Páscoa, porque proclama que a última palavra – não obstante todas as provas em contrário – não pertence à morte, mas à vida. Não somos chamados à morte, mas a uma Vida em plenitude: assim o anunciaram eles. É verdade que, aqui, há a obscuridade da morte e do martírio, mas anuncia-se também a luz da ressurreição, pois o sangue dos mártires torna-se semente da vida nova que Cristo nos quer dar a todos. O seu testemunho confirma-nos na fé e ajuda-nos a renovar a nossa dedicação e compromisso de viver o discipulado missionário que sabe trabalhar por uma cultura capaz de proteger e defender sempre toda a vida, através do «martírio» do serviço diário e silencioso prestado a todos, especialmente aos mais necessitados.

Receba as principais de ACI Digital por WhatsApp e Telegram

Está cada vez mais difícil ver notícias católicas nas redes sociais. Inscreva-se hoje mesmo em nossos canais gratuitos:

Venho a este monumento dedicado aos mártires para me encontrar com estes homens e mulheres santos, e quero fazê-lo com a pequenez daquele jovem jesuíta que vinha dos «confins da terra» e encontrou uma fonte profunda de inspiração e renovação na história dos primeiros mártires japoneses. Não esqueçamos o amor do seu sacrifício! Que não fique uma gloriosa relíquia de feitos passados, bem conservada e honrada num museu, mas seja memória e fogo vivo da alma de todo o apostolado nesta terra, capaz de renovar e inflamar incessantemente o zelo evangelizador. Que a Igreja no Japão de hoje, com todas as suas dificuldades e promessas, se sinta chamada a escutar cada dia a mensagem proclamada por São Paulo Miki, do alto da sua cruz, e a partilhar com todos os homens e mulheres a alegria e a beleza do Evangelho que é Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14, 6). Possamos cada dia libertar-nos de todo o peso que nos sobrecarrega e impede de caminhar com humildade, liberdade, ousadia e amor.

Irmãos, neste lugar, unimo-nos também aos cristãos que hoje, em tantas partes do mundo, sofrem e vivem o martírio por causa da fé. Mártires do século XXI, que nos interpelam com o seu testemunho a seguir corajosamente o caminho das Bem-aventuranças. Rezemos por eles e com eles, e ergamos a voz para que a liberdade religiosa seja garantida a todos nos vários cantos do planeta; e ergamos a voz também contra toda a manipulação das religiões «pelas políticas de integralismo e divisão, pelos sistemas de lucro desmesurado e pelas tendências ideológicas odiosas, que manipulam as ações e os destinos dos homens» (Documento sobre a fraternidade humana, Abu Dhabi, 4/II/2019).

A Nossa Senhora, Rainha dos Mártires, a São Paulo Miki e a todos os seus companheiros que, ao longo da história, proclamaram com a vida as maravilhas do Senhor, peçamos que intercedam pela vossa terra e por toda a Igreja a fim de que o seu sacrifício suscite e mantenha viva a alegria da missão.

Confira também: