REDAÇÃO CENTRAL, 18 de dez de 2019 às 17:00
Um sacerdote deve falar claramente a uma pessoa que opta por suicídio assistido ou eutanásia voluntária e esclarecer que está cometendo um pecado grave, disse um cardeal holandês à CNA – agência em inglês do Grupo ACI –, nesta semana.
“Pela mesma razão, um sacerdote não pode estar presente quando se realiza a eutanásia voluntária ou o suicídio assistido. Isso poderia implicar que o sacerdote não tem problemas com a decisão ou inclusive que esses atos, moralmente ilícitos, não são tais em algumas circunstâncias, de acordo com os ensinamentos da Igreja”, disse o Cardeal Willelm Eijk, Arcebispo de Utrecht.
Doutor em medicina antes de descobrir sua vocação, o Cardeal Eijk dedicou a dissertação de seu doutorado, em meados da década de 1980, às leis da eutanásia. Lidera os fiéis em um dos países com a lei de eutanásia mais liberal do mundo.
O Cardeal Eijk explicou à CNA que "um sacerdote deve dizer claramente àqueles que optam pelo suicídio assistido ou pela eutanásia [voluntária] que ambos os atos violam o valor intrínseco da vida humana, isso é um pecado grave".
O Purpurado não negou a possibilidade de acompanhamento espiritual, mas enfatizou que o sacerdote não deveria estar presente no momento da realização destas práticas.
Do mesmo modo, fez uma distinção entre a eutanásia voluntária e o suicídio assistido. Disse que, “com o suicídio assistido, é o paciente que toma intencionalmente os medicamentos que o médico prescreveu para cometer o suicídio. Depois, há uma eutanásia voluntária, é quando o próprio médico administra os medicamentos para acabar com a vida do paciente após a solicitação do mesmo. No entanto, as responsabilidades do paciente e do médico são as mesmas nos dois casos”.
Para esclarecer, o Cardeal Eijk disse que “a responsabilidade do paciente é igualmente grave, tanto no suicídio assistido quanto na eutanásia [voluntária], porque tomou a iniciativa de acabar com a sua vida, e é a mesma coisa se ele próprio coloca fim a sua vida ou se o médico o faz”.
Os médicos também são igualmente responsáveis nos dois casos, ressaltou.
Ao realizar a eutanásia, o médico viola diretamente o valor da vida, "que é um valor intrínseco. Ao ajudar no suicídio assistido, o médico coopera com a vontade do paciente e isso significa que ele compartilha a intenção do paciente. Por esta razão, inclusive a mera cooperação é um ato intrinsecamente malvado, tão sério como se o médico tivesse acabado pessoalmente com a vida do paciente”, detalha.
O Cardeal Eijk admitiu que “o suicídio assistido talvez seja menos pesado psicologicamente para o médico. No entanto, não há diferença moral significativa entre as duas coisas”.
O Cardeal também abordou o assunto de um eventual funeral para pessoas que escolheram suicídio assistido ou eutanásia.
"Se um paciente pede ao sacerdote que administre os sacramentos (confissão ou unção dos enfermos) e planeja um funeral antes que o médico acabe com a sua vida a seu pedido ou se suicide, o sacerdote não pode fazê-lo", disse o Cardeal. Indicou que há três razões para essa proibição.
A primeira é que "uma pessoa pode receber os sacramentos somente quando estiver em uma boa disposição e esse não é o caso quando uma pessoa quer se opor à ordem da criação, violando o valor intrínseco de sua vida".
A segunda razão é que a pessoa “que recebe os sacramentos coloca sua vida nas mãos misericordiosas de Deus. No entanto, quem quer terminar sua vida pessoalmente, quer levar sua vida em suas mãos”.
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A terceira razão é que, "se o sacerdote administra os sacramentos ou planeja um funeral nesses casos, o sacerdote é culpado de um escândalo, pois suas ações podem sugerir que o suicídio ou a eutanásia estão permitidos em certas circunstâncias".
O Cardeal Eijk também explicou que um sacerdote pode celebrar o funeral de uma pessoa que morreu por suicídio assistido ou eutanásia voluntária apenas em algumas circunstâncias, embora o suicídio seja sempre ilícito.
“Desde a antiguidade, os sacerdotes aceitaram celebrar os funerais de pessoas que cometeram suicídio ou solicitaram eutanásia em casos de depressão, de qualquer outra doença psiquiátrica. Nesses casos, devido à doença, a liberdade das pessoas diminui e, assim, acabar com a vida não pode ser considerado um pecado mortal”, afirma o Cardeal Eijk.
Além disso, ressaltou que o sacerdote deve "julgar sabiamente se está diante de um caso de liberdade diminuída" e, "se for o caso, ele poderá realizar o funeral".
Segundo o Purpurado, para combater a tendência pró-eutanásia, a Igreja deve "anunciar que Deus criou o ser humano à sua imagem em sua totalidade, alma e corpo".
“A constituição do Concílio Vaticano II Gaudium et spes descreveu o ser humano como um unidade de alma e corpo. Isso significa que o corpo é uma dimensão essencial do ser humano e faz parte de seu valor intrínseco. Portanto, não é lícito sacrificar a vida humana para acabar com a dor ”, acrescentou.
O Cardeal também disse que os cuidados paliativos são uma resposta positiva e a Igreja recomenda frequentemente solicitá-los, enquanto "existem muitos grupos cristãos ou religiosos que os fornecem em centros especializados".
O Purpurado também disse que, para combater a tendência pró-eutanásia do Ocidente, a Igreja "deve fazer algo contra a solidão".
“As paróquias costumam acolher comunidades onde as pessoas têm vínculos sociais e cuidam umas das outras. Na sociedade contemporânea hiperindividualista, os seres humanos geralmente estão sozinhos. Há uma grande solidão em nossa sociedade ocidental”, destacou.
A Igreja “incentiva a formação de comunidades para não deixar as pessoas sozinhas. Uma pessoa que vive em solidão, sem a atenção e o cuidado dos demais, é menos capaz de suportar a dor”, disse.
Finalmente, o Cardeal Eijk acrescentou que a Igreja “anuncia uma espiritualidade cristã e uma fé vivida. Isso implica que também pode se unir ao Cristo sofredor e suportar a dor com ele. Então, nunca estamos sozinhos”.
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— ACI Digital (@acidigital) December 13, 2019