MADRI, 21 de jan de 2020 às 18:00
Nos últimos dias, foram dadas várias respostas de todos os âmbitos às polêmicas declarações da ministra de Educação e Formação Profissional da Espanha, Isabel Celaá, a qual disse que “não podemos pensar, de maneira alguma, que os filhos pertencem aos pais”.
María Teresa Corzo, mãe de cinco filhos, um dos quais com Síndrome de Down, e decana da Faculdade de Ciências Econômicas e Empresariais da Pontifícia Universidade de Comillas, e José Antonio Méndez, jornalista e pai de três filhos, responderam a esta pretensão do governo do partido PSOE-Podemos.
María Teresa Corzo publicou no jornal ABC uma carta dirigida à ministra Isabel Celaá, na qual explica que ela é mãe de cinco filhos, gasta suas energias no cuidado de seus pequenos e em fazer seu trabalho na universidade.
“Mas nunca, ninguém de nenhum governo me ajudou quando levantaram à noite, nem quanto ficaram doentes, nem me ajudaram quando foram internados. Ninguém correu para buscar uma criança na escola enquanto eu ou meu marido estávamos no hospital com meu filho recém-operado do coração. Nem mesmo alguém me deu e me acompanhou nos exames médicos do meu filho com síndrome de Down. Foram apenas as associações não governamentais sem fins lucrativos que nos ofereceram ajuda. Desse ‘papai governo’, nem sinal. Não vi vocês, senhoras e senhores”, assegurou.
María Teresa Corzo continua e explica que, “agora, que a criança está na escola, veja bem, agora eu quero ser seu pai, agora quero doutriná-lo da minha maneira. Tirar a liberdade de educação dos pais, porque ouça, e se a mãe não pensa como o governo? Bem, dizemos que não se pode pensar de outra maneira e é isso, dizemos que é direito da criança ser educada, como se estivéssemos falando de analfabetismo”.
“E se a Sra. (Irene) Montero (ministra da Igualdade) lhe parecer que a mãe é uma louca? Ou se a mãe diz algo que para as deusas do Olimpo, guardiãs do bem, não é bom? Ou muito pior, e se o pai o disser? Meu sangue congela com ao pensa-lo... Isso seria terrível, se o pai disser será machismo em sua essência mais pura, exceto algo claro, quando convenha às deusas, ou são ‘duas deusas’. Elas sabem tudo. Elas decidem o que é dito e o que não é”, expressou.
“Sra. Celaá, certamente suas filhas não tiram seu sono à noite, então você está convidada a vir aqui em casa para ajudar meu marido e a mim quando nos chegamos cansados do dia de trabalho ou, como você tem um salário vitalício, para nos pagar alguma fatura. Aprenderemos com seu exemplo, e isso sim será coerência. Assim, começará a me mostrar que os filhos são seus”, sublinhou.
E afirmou: “Se as crianças agora pertencem ao estado totalitário do Sr. Sánchez e do Sr. Iglesias, então também pertenceriam ao estado de Franco, quando Franco estava no comando, certo? E se o próximo presidente do governo for o Sr. Abascal, os filhos deste país também pertencerão a ele, certo?
“Depois de 17 anos desde que minha filha mais velha nasceu, muito trabalho, muitos médicos, muitas noites de sonos interrompidos e muitas olheiras, só me faltava ouvir esse insulto às liberdades e à inteligência. Mas agora as coisas mudaram, os pais não têm mais liberdade. Não, agora não porque as deusas falaram ”, finalizou.
Roubar a pátria potestade
Por sua vez, José Antonio Méndez, pai de três filhos, respondeu em um vídeo nas redes sociais às reivindicações do governo do PSOE-Podemos.
“Os filhos não são propriedade dos pais como se fossem um livro ou um móvel ou algo assim. Os filhos pertencem a uma família porque têm vínculos infinitamente mais fortes, mais importantes, duradouros e transcendentais do que podem ter com qualquer comunidade, inclusive o Estado. Porque a família é anterior ao Estado e mais importante do que a política”.
Méndez explica que a controvérsia surgiu porque a verdadeira pretensão do governo é “impor uma moral do Estado. Eles estão tentando nos dizer e impor aos nossos filhos desde a mais tenra infância como eles devem pensar. Não o que é legal ou ilegal, mas o que é certo ou errado e o que sai daí deve ser perseguido, sancionado e ridicularizado”.
Segundo afirma este pai, com essas declarações do governo, “tentam fazer com que saiamos e digamos ‘não, os filhos são propriedade dos pais!’ E ficamos como anão rabugento da história. Quando nesta história vocês [o governo] são o lobo, porque estão tentando sequestrar a mente e o coração de nossos filhos, tentando roubar a pátria potestade das famílias e querem dizer aos nossos filhos: ‘Ignore o que te dizem teu pai e tua mãe. Venha comigo por este caminho que eu vou te ensinar...’. Para engoli-los e que engrossem sua ideologia, seu partido ou seu modo de pensar”.
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Além disso, destacada que isso não se trata de “uma questão de direitas ou esquerdas”, porque, “se deixamos que nos roubem a pátria potestade, quando mudar o governo e vier os que pensam de outro modo, não podemos defender nossos filhos”.
Esse pai de três filhos também lembra que “qualquer tipo de totalitarismo pretende que todos os cidadãos pensem o mesmo e não sejamos livres para pensar o que queiramos e não sejamos livres para ensinar aos filhos uma maneira concreta de ver o mundo, que pode ser sua ou não, outra”.
Por isso, insiste que, para combater esses totalitarismos de pensamento único existe “a declaração de direitos humanos, a Constituição espanhola e qualquer ordenamento jurídico democrático que reconhece o direito dos pais de educar s filhos conforme nossas convicções morais, religiosas, éticas”.
Termina incentivando todas as famílias a levantar a voz porque “o lobo já mostrou os dentes, tirou o disfarce”, “não queremos que nos tirem a pátria potestade, que ensine aos filhos sobre questões que sejam moralmente controversas, nas quais alguns podem pensar uma coisa e outros o contrário. Mas nada acontece, aí está a grandeza da convivência”.
“Seus filhos confiam em você e há quem queira tirar o mais importante que têm, que é o vínculo com a família. Vamos dizer ao lobo que não vamos deixá-lo se aproximar de nossos filhos”, afirmou.
Pin parental
As polêmicas declarações da ministra Isabel Celaá e as sucessivas respostas que ela recebeu de todas as áreas estão relacionadas com a implantação do chamado “pin parental” nas escolas.
O “pin parental” é um documento que os pais de menores têm que assinar para dar consentimento explícito ao centro escolar para que os filhos participem de oficinas de todos os tipos, embora a polêmica se concentre nas palestras de educação sexual.
Trata-se de uma iniciativa promovida por Vox na Região de Múrcia, implantada desde setembro passado e que pode ser exportada para outras comunidades como Andaluzia ou Madri.
Pedro Sánchez, presidente do governo da Espanha, assegurou através do Twitter que “o pin parental viola o direito dos meninos e meninas à educação. Trata-se de um direito fundamental, um direito constitucional ”e que o Ministério da Educação recorrerá diante dos tribunais desta decisão do governo da Região de Múrcia.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.
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