Vaticano, 22 de jan de 2020 às 08:22
“A hospitalidade é uma importante virtude ecumênica”, assegurou o Papa Francisco em sua catequese pronunciada nesta quarta-feira, 22 de janeiro, durante a Audiência Geral, na Sala Paulo VI do Vaticano.
O Santo Padre explicou que a hospitalidade “significa reconhecer que outros cristãos são realmente nossos irmãos e irmãs em Cristo. Nós somos irmãos. Alguém lhe dirá: ‘Mas esse é protestante, aquele é ortodoxo...’ Sim, mas somos irmãos em Cristo”.
Em sua catequese, Francisco insistiu que a hospitalidade “não é um ato de generosidade numa só direção, porque quando hospedamos outros cristãos, os acolhemos como um presente que nos é dado. Como os malteses, bons malteses, somos recompensados, porque recebemos o que o Espírito Santo semeou em nossos irmãos e irmãs, e isso se torna um presente para nós também”.
Essa reflexão do Pontífice se dá no contexto da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que está sendo celebrada de 18 a 25 de janeiro, no hemisfério norte, com o tema da hospitalidade.
O Pontífice recordou como, no livro dos Atos dos Apóstolos, descreve-se a hospitalidade praticada pela comunidade de Malta com São Paulo e seus mais de 200 companheiros de viagem, quando o barco que os levava para Roma naufragou na costa.
Nesse episódio, narra-se como “o navio em que Paulo viaja está à mercê dos elementos. Durante catorze dias eles estão no mar, e como nem o sol e nem as estrelas são visíveis, os viajantes se sentem desorientados, perdidos. Abaixo deles, o mar bate violentamente contra o navio e eles temem que o navio se rompa por causa da força das ondas. Do alto eles são açoitados pelo vento e pela chuva”.
Mas Paulo, destacou o Papa, era um homem de fé. “A fé lhe diz que a sua vida está nas mãos de Deus, que ressuscitou Jesus dentre os mortos, e que o chamou, Paulo, para levar o Evangelho aos confins da terra. A sua fé também lhe diz que Deus, segundo o que Jesus revelou, é um Pai amoroso. Portanto, Paulo se dirige a seus companheiros de viagem e, inspirado pela fé, anuncia a eles que Deus não permitirá que um fio de cabelo deles seja perdido”.
“Essa profecia – assinalou o Papa Francisco – se torna realidade quando o navio encalha na costa de Malta e todos os passageiros chegam sãos e salvos a terra firme. Ali, eles experimentam algo novo. Em contraste com a violência brutal do mar tempestuoso, eles recebem o testemunho da ‘humanidade rara’ dos habitantes da ilha”.
Os náufragos, que para os malteses eram estrangeiros, recebem a atenção dos habitantes da ilha. “Acendem uma fogueira para eles se aquecerem, lhes oferecem abrigo contra chuva e alimento. Mesmo que ainda não tenham recebido a Boa Nova de Cristo, manifestam o amor de Deus em atos concretos de bondade”.
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De fato, “a hospitalidade espontânea e os gestos de carinho comunicam algo do amor de Deus, e a hospitalidade dos malteses é recompensada pelos milagres de cura que Deus opera através de Paulo na ilha. Portanto, se o povo de Malta foi um sinal da providência de Deus para o apóstolo, ele também foi testemunha do amor misericordioso de Deus por ele”.
Após esta explicação, o Papa Francisco recordou como “hoje, o mesmo mar que fez Paulo naufragar junto com seus companheiros é ainda um lugar perigoso para a vida de seus navegantes”.
“Em todo o mundo, homens e mulheres migrantes enfrentam viagens arriscadas para fugir da violência, da guerra e da pobreza”.
Lamentou que, “como Paulo e seus companheiros, experimentam a indiferença, a hostilidade do deserto, dos rios, dos mares. Muitas vezes não deixam eles desembarcar nos portos. Infelizmente, às vezes eles também encontram a hostilidade pior dos homens. São explorados por traficantes criminosos. Hoje! São tratados como números e como uma ameaça por alguns governantes. Hoje! Às vezes, a falta de hospitalidade os rejeita como uma onda em direção à pobreza ou aos perigos dos quais fugiram”.
O Papa Francisco finalizou sua catequese afirmando que “nós, cristãos, devemos trabalhar juntos para mostrar aos migrantes o amor de Deus revelado em Jesus Cristo. Podemos e devemos testemunhar que não há somente hostilidade e indiferença, mas que cada pessoa é preciosa para Deus e amada por Ele. As divisões que ainda existem entre nós nos impedem de ser plenamente sinal do amor de Deus”.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.
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