REDAÇÃO CENTRAL, 19 de fev de 2020 às 05:00
Uma história peculiar sobre como a Virgem Maria salvou um desenvolvedor de web católico da indigência, da orfandade e do suicídio foi contada por seu protagonista para divulgar assim o testemunho da ação de Deus quando parece que se perdeu toda esperança, inclusive a de continuar vivendo.
O desenvolvedor de web de 30 anos, Dimitri Conejo Sanz, criador de iniciativas como Cathopic, Mater Coeli e atualmente Holydemia, relatou em entrevista à ACI Prensa – agência em espanhol do Grupo ACI – as diferentes etapas de sua vida e como foi seu processo de conversão.
Ao longo de sua história, teve que lidar com o abandono de seus pais, sobreviver com sua irmã nas ruas de uma cidade russa após a queda do comunismo, viver por vários anos em um orfanato abusivo até sua adoção, crescer e adotar a libertinagem como forma de vida até, finalmente, ser transformado por Deus e converter-se em um grande evangelizador.
Dimitri nasceu em uma cidade pobre a 500 quilômetros de Moscou (Rússia), em 27 de junho de 1989. Seus pais biológicos lhe deram o nome de Dmitri Sóbolev, o qual foi mudado anos depois.
O jovem católico contou que seus pais eram alcoólatras e que, "por causa de sua doença", foi abandonado nas ruas com sua irmã.
“Eu me dediquei a sobreviver. Vivíamos em um barracão prestes a cair. Lembro-me de ter que mendigar em um mercadinho com a minha irmã nos braços, que nessa época era um bebê. Como morávamos perto de uma floresta, dedicava-me na época dos cogumelos a recolhê-los, também colher frutos silvestres ou pescar. Foi sobrevivência máxima”, contou Dimitri.
Após a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, Dimitri lembra que no início dos anos 1990 "havia muita pobreza".
“O comunismo deixou o país totalmente quebrado, empobrecido e com muitas crianças como eu: abandonadas. Essa situação fez as pessoas beberem, consumirem álcool e meus pais biológicos foram o resultado disso. A Rússia tem um clima muito frio e eu cheguei a ver pessoas mortas na rua. Bebiam tanto que no final caíam no chão e não acordavam porque congelavam durante a noite”, conta.
Dimitri explica que só tem lembranças a partir dos 4 anos e meio de idade. Recorda que aos 6 anos, uma professora o encontrou mendigando no mercadinho e o levou, junto com a sua irmã Marina, a um orfanato do local.
“Eu achava que o orfanato seria uma mudança radical na minha vida, porque tudo o que eu queria era poder comer junto com a minha irmã. Eu achava que, quando chegássemos ao orfanato, todo mundo iria nos tratar bem, que não haveria raiva, que ninguém iria nos bater como meu pai alcoólatra, mas isso só aconteceu por um mês, porque éramos a novidade”, lamentou.
“Ao final, continuou, a realidade do orfanato era completamente diferente e começaram os maus-tratos. Muitos cuidadores não estavam lá por vocação real, mas para buscar um trabalho; eles nos maltratavam psicologicamente dizendo que ‘essa seria a nossa vida, não seríamos ninguém, nunca sairíamos de lá porque ninguém nos amava’".
Dimitri narra que viveu assim por 4 anos até o início do ano 2000, quando soube que ele e sua irmã seriam finalmente adotados. Naquela época, tinha cerca de 10 anos.
“A primeira vez que vi meus pais, joguei-me em cima deles. Ao vê-los, eu já sabia que eram meus pais, porque já estava há dois anos pedindo a Deus para conhecê-los. Quando os vi, foi a resposta de Deus às minhas orações, naquele tempo no qual eu me escondia para poder rezar no orfanato, por estar mal visto”, narra Dimitri.
Após sua resposta, perguntaram-lhe como sabia sobre a existência de Deus, quem havia ensinado a ele e como decidiu começar a rezar, porque não havia mencionado nada sobre o criador até esse momento.
Dimitri explica que quando tinha cerca de seis anos e entrou no orfanato, não acreditava em Deus.
“Um dia, aos 7 anos e meio, mais ou menos, um pope (um sacerdote ortodoxo) veio nos dar uma palestra voluntária sobre Deus. Fomos apenas três para essa palestra e ele nos contou sobre um Pai que nos amava e estava sempre conosco”, comenta.
Ao escutá-lo, Dimitri ficou com raiva ao perceber suas próprias condições de vida e pensou que Deus o havia abandonado. O pope pediu que ele se aproximasse após a conversa; Dimitri fez isso e o religioso lhe presenteou com algumas imagens, umas velas e um livro azul. Depois, disse-lhe que deveria rezar a Deus com muita fé para que lhe concedesse os desejos de seu coração.
“Assim, comecei a me trancar no banheiro para rezar todas as noites, porque isso era de certa maneira mal visto”, disse e acrescentou: “A única coisa que eu trouxe do orfanato para a Espanha foram aqueles pequenos ícones dos santos que o pope me deu e que eu ainda tenho”.
“São como uma relíquia”, assegurou.
No começo da década de 2000, Dimitri e Marina foram adotados por Hubaldo (54) e Rosa (53), dois espanhóis católicos, não praticantes.
Segundo Dimitri, uma das coisas que surpreendeu seus pais foi que, em sua mesa de cabeceira, colocava as imagens dos santos.
“Dois ou três anos após a adoção, começou a sentir que não precisava mais de Deus e que já tinha tudo o que queria: que era ter uma família. Aos 13 anos, rompi minha relação com Deus por uma história de amor que aconteceu com uma garota. Fiquei com raiva e pensei que Deus estava me castigando. Até esse momento, eu pensava que havia um Deus castigador”, contou.
Segundo Dimitri, a partir deste momento, jogou os ícones dos santos e começou a levar uma vida afastada de Deus e da Igreja.
"Festas, meninas, fumar de tudo, fugindo de casa, fui muito egoísta e meus pais sofriam", disse.
Os anos se passaram e os pais de Dimitri decidiram fazer um curso de cristianismo; após a conclusão, realmente se converteram à fé católica.
"Todos os anos que eu estive longe da Igreja, eles rezaram muito por mim", contou.
Em 2011, quando tinha cerca de 22 anos, Dimitri serviu no exército espanhol por um período de dois anos. Foi nessa época que estava prestes a cometer suicídio.
“Uma noite, percebi que continuava tão vazio como aos 13 anos quando deixei Deus de lado. Ou seja, que esses oito anos nos quais estive afastado não havia crescido em nada. Tudo isso me levou a querer me suicidar. Eu havia afastado todos de minha vida”, relata.
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No entanto, antes de tentar acabar com sua vida, Dimitri recebeu um telefonema de uma amiga e um convite inesperado.
"Justo quando ia cortar as minhas veias, me lembrei de Deus e lhe disse: ‘Deus, porque está em silêncio comigo’. Comecei a chorar e imediatamente uma amiga me telefonou e me disse: ‘Dimitri, estou te ligando para te convidar para um curso de cristianismo’. Nesse momento, joguei a navalha e comecei a rir ao perceber a tremenda estupidez que ia cometer. Percebi que Deus novamente me pegava pela mão e fiz o curso de cristianismo”, narra.
Voltar para casa
Depois de estar afastado de Deus por aproximadamente oito anos e tendo completado o curso de cristianismo em 2011, Dimitri começou a ter uma grande devoção a Nossa Senhora.
Um dia, quando reabriu a gaveta onde havia deixado as imagens “dos santos” que o pope lhe deu na Rússia, descobriu que, na realidade, aqueles santinhos eram figuras de Maria.
“Ela esteve desde o começo em minha vida e eu não tinha notado. Foi então que eu entendi que a Virgem age de tal maneira que sempre permanece em segundo plano, porque quem deve sempre se destacar é Jesus”, afirmou.
“Quando voltei para casa (para a Igreja Católica), percebi que o que me levou a fazer todo esse mal em minha vida foi uma grande ferida por causa do abandono de meus pais biológicos. O tema é que eu os odiava tanto que lhes desejava a pior das mortes. No entanto, o Senhor me mostrou como eu estava errado ao me ensinar que eu deveria respeitá-los e agradecê-los por uma única ação que realizaram: dar-me a vida”, acrescentou.
Após essa descoberta, Dimitri conta que passaram quatro anos nos quais, embora fosse à Missa aos domingos e se sentisse como “bom católico”, nunca se formou na fé e, no fundo, não entendia o que era realmente ser católico.
“Depois de conversar com uma amiga, percebi o quão longe eu estava de Deus, que havia me afastado sem perceber. Eu via um Deus castigador até que, de repente, vi que Deus me amava com loucura e comecei a ver a minha vida como um autêntico milagre. Neste momento, decidi me voltar totalmente para Ele e deixar minha vida anterior”, narra.
Depois de pertencer às Forças Armadas da Espanha entre 2011 e 2013, Dimitri estudou Engenharia de Telecomunicações, quando descobriu que seus dons estavam no desenvolvimento da web; por isso, fez um curso superior de desenvolvimento de aplicativos web e criou a sua própria empresa.
“Quando deixei Deus entrar na minha vida, comecei a ler notícias e ver sites católicos e percebi que havia uma grande necessidade de saber como transmitir o conteúdo e, acima de tudo, implementar um bom design e modernizar absolutamente tudo, porque havia muitos sites que permaneceram muitos anos-luz atrás ”, explicou Dimitri.
Foi nesse momento que foi levantado que a Igreja deveria "estar na mesma altura" que o mundo e ser "profissional nesse sentido".
“Na JMJ Cracóvia 2016, percebi que Deus me chamava para isso: para renovar a Igreja na Internet, através de projetos de evangelização de qualidade, profissionais e comprometidos com a doutrina”, contou.
Dimitri disse que foi assim que nasceu a Cathopic, uma plataforma de fotografias católicas de qualidade profissional totalmente gratuitas, lançada em janeiro de 2017, onde, além disso, qualquer fotógrafo pode contribuir com suas próprias imagens.
Mais tarde, fundou Mater Coeli, "um projeto de agradecimento à Virgem", no qual qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, pode se preparar por 33 dias para se consagrar à Mãe de Deus seguindo o método de São Luis Maria Grignion de Montfort.
“Agora tem mais de 3 mil consagrados, mas isso quem faz é a Virgem porque o que eu fiz foi criar um algoritmo matemático que fizesse todos os cálculos. As pessoas se inscrevem e eu não fico sabendo”, contou Dimitri.
Atualmente, o jovem nacionalizado espanhol está desenvolvendo uma nova plataforma chamada "Holydemia", que abarcará a formação católica remota para todo nível e que será lançado nos próximos meses.
“Sinto um grande chamado do Senhor para entrar nesse mundo. Eu acho que existem muitos cursos de formação, mas estão espalhados. Acho que os católicos não temos um centro de formação ao qual possamos acudir e formar-nos no que quisermos com diferentes instrutores”, explica.
Além deste projeto, Dimitri começou a fazer parte da área de Tecnologia da Informação do Grupo ACI, do qual ACI Digital faz parte.
No final da entrevista, Dimitri contou com alegria que se casará nos próximos meses. Antes de começar a namorar, passou por um processo de “purificação” que durou mais de um ano, no qual esteve sozinho e no qual pediu a Deus que o preparasse para o dia em que conheceria o amor de sua vida.
"Quando terminei essa fase da minha vida, Deus me apresentou à minha prometida e começamos um namoro", disse.
Também comentou que a relação com seus pais melhorou muito e hoje é estupenda.
O jovem afirmou que Deus “tem tudo tão bem pensado. Minha vida é um conjunto de vários erros que Deus os converteu em algo perfeito. Se eu tivesse que ver minha vida em um nível geral, diria que é uma obra-prima”, concluiu Dimitri.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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