REDAÇÃO CENTRAL, 19 de fev de 2020 às 16:00
Na segunda-feira, 17 de fevereiro, o famoso cantor católico da nação centro-africana de Ruanda, Kizito Mihigo, foi encontrado morto em uma cela da polícia em Kigali, capital do país.
Mihigo era um católico devoto conhecido por suas canções que promovem a cura e o perdão.
Segundo assinalam os meios locais, a polícia e o Departamento de Investigação de Ruanda (RIB) confirmaram a morte de Mihigo por volta das 17h, durante um controle de rotina realizado por policiais na delegacia de Remera (Ruanda).
No relatório preliminar, a polícia indica que o músico, de 38 anos, "usou lençóis para se estrangular até a morte".
Em 2015, Mihigo foi condenado por cumplicidade na tentativa de derrubar o presidente Paul Kagame e recebeu uma sentença de 10 anos de prisão. Três anos depois, o presidente Kagame o perdoou com a condição de precisar de uma autorização judicial para deixar o país.
Na quinta-feira, 13 de fevereiro, foi preso e acusado pela polícia de Ruanda de tentar deixar o país ilegalmente para se juntar a grupos rebeldes no Burundi, que está em guerra contra Ruanda.
A polícia explicou que sua tentativa de deixar o país sem uma autorização judicial desabilitou o perdão presidencial que recebeu em 2018.
“Eu estava lá, o vi. Os moradores que o detiveram disseram que ele estava tentando atravessar para Burundi. Daqui até a fronteira, há menos de cinco minutos a pé”, assinalou à BBC Great Lakes um morador do distrito sudoeste de Nyaruguru, Ruanda.
Alguns membros da família de Mihigo e seu advogado o visitaram sob custódia policial na sexta-feira, 14 de fevereiro, informou The New Times.
O diretor da Human Rights Watch (HRW) da África Central, Lewis Mudge, cuja área de operações abrange Ruanda, Burundi, República Centro-Africana (RCA), Camarões e República Democrática do Congo (RDC), solicitou uma investigação para determinar a causa da morte de Mihigo.
"Ele poderia ter sido maltratado ou morto sob custódia", disse o funcionário da HRW. "Com muita frequência, casos sensíveis em Ruanda resultam em mortes ou desaparecimentos misteriosos", acrescentou Mudge.
Breve Biografia
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Mihigo ficou órfão durante o genocídio de 1994 e fugiu para o Burundi, onde se juntou aos membros sobreviventes de sua família.
O compositor ingressou no seminário maior Petit Seminaire de Butare, onde desenvolveu seu interesse pela música e seu talento, sendo conhecido como o organista e compositor mais popular da Igreja Católica em Ruanda, durante seu período no seminário.
Um ex-seminarista, que conheceu Mihigo durante seu período no seminário, disse que o falecido foi atraído pela música desde tenra idade, começando a compor músicas aos nove anos.
Em 2001, aos 20 anos, participou na composição do hino nacional de Ruanda, uma oportunidade que lhe permitiu criar laços estreitos com a Presidência de seu país.
Graças ao apoio financeiro do presidente Paul Kagame, Mihigo recebeu uma bolsa presidencial para estudar música no Conservatório de Paris, na França, onde fez cursos de composição e órgão.
Retornou ao seu país natal, Ruanda, em 2011, tornando-se um músico popular e respeitado.
Seu ministério musical foi popular pela mensagem de reconciliação que ele transmitia com suas músicas religiosas, graças às quais foi uma importante figura cultural em Ruanda.
Foi preso em 2014 pela publicação de sua música "O significado da morte", que desafiava a narrativa oficial do genocídio.
Publicado originalmente em ACI África. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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