Funcionários do Vaticano explicaram, na quinta-feira, o que se pode esperar da abertura do Arquivo Apostólico do Vaticano (antigo Arquivo Secreto) em relação ao período do pontificado do Papa Pio XII, no próximo dia 2 de março.

“Trata-se de um evento histórico pelo fato em si da abertura desta parte dos arquivos da Santa Sé dedicada ao pontificado de Pio XII, mas também histórico porque é um evento que nos fala da história, que a coloca no centro e a estuda”, disse o diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, aos jornalistas.

A abertura afeta documentos que estão no Arquivo Apostólico do Vaticano (antigo Arquivo Secreto) e documentos de outros arquivos, como o Arquivo da Congregação para a Doutrina da Fé, o Arquivo Histórico da Congregação para a Evangelização dos Povos e o Arquivo Histórico da Seção para as Relações com os Estados da Secretaria de Estado.

Por sua vez, o Cardeal José Tolentino Calaça de Mendonça, Arquivista do Vaticano, explicou que “a preparação dos documentos para a consulta dos pesquisadores é um processo tecnicamente longo e delicado. É preciso verificar a ordem com a qual os documentos foram coletados e transmitidos”.

Com esses documentos, disse o Cardeal português, “será possível pesquisar sobre o período da guerra ou a penosa pós-guerra, com a oposição crescente entre os dois blocos. Será possível estudar o eco da discussão teológica ou o reflexo de contrastes políticos, mas o centro está sempre no Papa” Pio XII, que liderou a Igreja entre 1939 e 1958.

“Precisamos ter a paciência de esperar e de escutar os resultados de um trabalho de estudo e de elaboração que, inevitavelmente, será lento e complexo. Só assim será possível realizar discursos seguros e fundamentados sobre os documentos”, afirmou.

Mons. Alejandro Cifres Giménez, funcionário do Arquivo da Congregação para a Doutrina da Fé, destacou que, com esses documentos, os pesquisadores encontrarão “todas as questões teóricas, teológicas e de pensamento em geral que vieram à tona nesses 20 anos" como, "por exemplo, todos os temas do Concílio Vaticano II, que foi inaugurado pelo sucessor imediato, João XXIII".

Quanto ao "silêncio" do qual alguns detratores acusam o Papa Pio XII, Mons. Cifres disse que espera que "esses documentos esclareçam esse assunto. Não aparecerão documentos específicos sobre a pergunta concreta, se falou ou não falou, porque falou ou não falou; mas, sim aparecerá todo o contexto no qual a Santa Sé se moveu”.

Por outro lado, Dr. Alejandro M. Dieguez, funcionário do Arquivo Apostólico do Vaticano, comentou que “a busca de um documento é extremamente perigosa, porque se pode ignorar outros 100 que confirmam ou desmentem o que o documento singular pode informar. Portanto, o importante é que agora será possível acessar toda a documentação disponível”.

O especialista disse que o Arquivo Apostólico do Vaticano, que será aberto em 2 de março, contém 121 seções, com um total de 20 mil unidades de arquivos entre caixas e fascículos.

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O especialista lembrou que, na época de Pio XII, a Santa Sé se opunha às "leis eugênicas do nazismo", uma linha "que a Igreja sempre seguiu".

O Papa Pio XII é vítima de uma lenda negra que o acusa de antissemita e cúmplice dos crimes dos nazistas durante a ocupação alemã da Itália na Segunda Guerra Mundial.

No entanto, as pesquisas realizadas até o momento rejeitaram a lenda negra e afirmam que, pelo contrário, o Pontífice teria ajudado a salvar as vidas de cerca de 800 mil judeus.

Agora, com acesso aos documentos referentes ao seu pontificado, será possível conhecer a atuação da Igreja durante o pontificado de Pio XII.

Quando Pio XII morreu em outubro de 1958, a ministra das Relações Exteriores de Israel, Golda Meir, enviou um telegrama ao Vaticano que dizia: "Quando o mais terrível martírio atingiu nosso povo durante os dez anos de terror nazista, a voz do Pontífice se levantou em favor das vítimas. Lamentamos ter perdido um servidor da paz".

Em 2001, o rabino e historiador de Nova York, David Dalin, afirmou na Itália que, "durante a Segunda Guerra Mundial, Pio XII salvou mais vidas de judeus do que qualquer outra pessoa, inclusive mais que Raoul Wallenberg ou Oskar Schindler".

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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