Vaticano, 30 de mar de 2020 às 09:27
Na Missa celebrada na Casa Santa Marta nesta segunda-feira, 30 de março, o Papa Francisco encorajou a que "não nos envergonhemos de estar na igreja", que é "santa, mas com filhos pecadores"; e comparou a história de duas mulheres para dar um ensinamento sobre o que o Senhor faz diante dos inocentes, pecadores, corruptos e hipócritas.
Durante sua homilia, o Santo Padre comentou as leituras da Liturgia do dia e começou com o Salmo 23, que diz: “O Senhor é o pastor que me conduz; não me falta coisa alguma. Pelos prados e campinas verdejantes ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha, e restaura as minhas forças. Ele me guia no caminho mais seguro, pela honra do seu nome”.
Nesta linha, o Pontífice explicou que essas palavras do Salmo são "a experiência que estas duas mulheres tiveram", referindo-se à primeira leitura do livro do profeta Daniel, capítulo 13, e à passagem do Evangelho de São João (8,1-11). Em seguida, o Papa Francisco comparou a história dessas duas mulheres para lembrar que a Igreja é "santa, mas com filhos pecadores", uma figura da Igreja de um Pai da Igreja.
“Uma mulher inocente, acusada falsamente, caluniada, e uma mulher pecadora. Ambas condenadas à morte. A inocente e a pecadora. Alguns Padres da Igreja viam nestas duas mulheres uma figura da Igreja: santa, mas com filhos pecadores. Diziam numa bela expressão latina: ‘A Igreja é a casta meretrix’, a santa com filhos pecadores”, disse o Papa. .
História de duas mulheres
Nesse sentido, o Santo Padre continuou a refletir sobre essas duas histórias da Sagrada Escritura para ensinar: “Ambas as mulheres estavam desesperadas, humanamente desesperadas. Mas Susana confia em Deus. Há também dois grupos de pessoas, de homens; ambos encarregados a serviço da Igreja: os juízes e os mestres da Lei. Não eram eclesiásticos, mas estavam a serviço da Igreja, no tribunal e no ensino da Lei. Diferentes”.
“Os primeiros que acusavam Susana, eram corruptos: o juiz corrupto, a figura emblemática na história. Também no Evangelho, Jesus repreende – na parábola da viúva insistente – o juiz corrupto que não acreditava em Deus e não lhe importava nada dos outros. Os corruptos. Os doutores da Lei não eram corruptos, mas hipócritas", advertiu.
Dessa maneira, o Papa enfatizou que “essas mulheres, uma caiu nas mãos dos hipócritas e a outra nas mãos dos corruptos: não havia saída" e citou um fragmento do Salmo 23: "Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei. Estais comigo com bastão e com cajado, eles me dão a segurança!”.
“Ambas as mulheres se encontravam num vale tenebroso, caminhavam ali: um vale tenebroso, rumo à morte. A primeira explicitamente confia em Deus e o Senhor intervém. A segunda, pobrezinha, sabe que é culpada, envergonhada diante de todo o povo – porque o povo estava presente em ambas as situações, o Evangelho não diz, mas certamente rezava interiormente, pedia alguma ajuda”.
O que o Senhor faz com essas pessoas?
Nesse sentido, o Papa Francisco explicou o que o Senhor fez com essas pessoas: “À mulher inocente, a salva, lhe faz justiça. À mulher pecadora, a perdoa. Aos juízes corruptos, os condena; aos hipócritas, os ajuda a converter-se".
Da mesma forma, o Santo Padre focou na última parte da narrativa do Evangelho do dia para enfatizar que diante do povo Jesus diz: “Sim, verdadeiramente? Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra, e foram saindo um a um”.
E o Papa acrescentou que o evangelista João usou "um pouco de ironia" ao indicar que: "foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos", mas Jesus deixa um pouco de tempo para se arrepender.
Dessa maneira, o Pontífice explicou: “os corruptos não perdoam, simplesmente porque o corrupto é incapaz de pedir perdão, foi além. Cansou-se... não, não se cansou: não é capaz. A corrupção tirou-lhe também aquela capacidade que todos temos de envergonhar-nos, de pedir perdão. Não, o corrupto é seguro, segue adiante, destrói, explora o povo, como esta mulher, tudo, tudo... segue adiante. Colocou-se no lugar de Deus”.
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“E o Senhor responde às mulheres. A Susana, liberta-a destes corruptos, a faz seguir adiante, e à outra: ‘Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais’. Deixa-a ir embora. Faz isso diante do povo. No primeiro caso, o povo louva o Senhor; no segundo caso, o povo aprende. Aprende como é a misericórdia de Deus”.
Dessa maneira, Francisco alertou que “cada um de nós tem as próprias histórias. Cada um de nós os próprios pecados. E se não se recorda, pense um pouco: os encontrará. Agradeça a Deus se os encontra, porque se não os encontra, você é um corrupto”.
“Cada um de nós tem os próprios pecados. Olhemos para o Senhor que faz justiça, mas que é tão misericordioso. Não nos envergonhemos de estar na Igreja: envergonhemo-nos de ser pecadores. A Igreja é mãe de todos. Agradeçamos a Deus por não sermos corruptos, por ser pecadores. E cada um de nós, olhando como Jesus age nestes casos, confie na misericórdia de Deus. E reze, confiante na misericórdia de Deus, reze (pelo) perdão. Porque Deus me guia no caminho mais seguro".
Por fim, o Papa destacou: "Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei. Estais comigo com bastão e com cajado, eles me dão a segurança!".
Leituras comentadas pelo Papa Francisco:
João 8,1-11
Naquele tempo, 1Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los.
3Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Levando-a para o meio deles, 4disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Moisés, na Lei, mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?” 6Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. 7Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. 8E tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão.
9E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio, em pé. 10Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” 11Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu, também, não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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