Roma, 13 de mai de 2020 às 11:00
A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) assinalou que milhões de pessoas deslocadas em Burkina Faso vivem isoladas e exigem que o governo as proteja e lute contra o terrorismo com a mesma determinação e seriedade que luta contra o coronavírus.
Os deslocados das cinco regiões do norte e leste de Burkina Faso, mais afetados pelo terrorismo, experimentam "uma desgraça dentro de uma desgraça" ao enfrentar a crise da COVID-19; e alguns entrevistados da diocese de Dori, Kaya e Fada N'Gourma concordam que, em alguns locais, a situação permanece "a mesma ou é ainda pior do que antes da pandemia", assinalou a ACN.
Após quase cinco anos de ataques terroristas em Burkina Faso, quase um milhão de pessoas deslocadas internamente deixaram suas aldeias vazias por medo de serem mortas, segundo dados da ACN, em fevereiro de 2020.
"Faixas inteiras" dos departamentos de Bourzanga, na região Centro-Norte, e Djibo, na região do Sahel, "encontram-se isoladas, não devido ao confinamento por causa da pandemia, mas por causa da total insegurança". Além disso, as poucas aldeias que ainda estão povoadas "abrigam milhares de pessoas deslocadas internamente, mas estão cada vez mais isoladas do resto do país", afirmou a ACN.
Infelizmente, Djibo e Arbinda, onde vivem 150 mil e 60 mil pessoas deslocadas internamente, respectivamente, e são "os últimos enclaves devida na província e a única muralha de salvação diante da ocupação terrorista”, também foram bloqueados pelo terrorismo.
Desde meados de janeiro deste ano, Djibo foi bloqueada pelos terroristas e é considerada a cidade mais afetada, porque “não há transporte, não há suprimentos, não há acesso de entrada ou saída, há escassez de água, combustível, comida, cortes de energia etc...”, assinalou ACN.
Da mesma forma, na Diocese de Kaya, localizada na região norte, comunidades como Namisgma e Dablo estão isoladas das localidades que as abasteciam até agora, e a comunidade de Pensa, após ataques repetidos, foi isolada do resto do território desde que foi tomada por terroristas.
Em Kaya, "as aldeias estão quase desertas" e "perderam o ritmo da vida", embora "ainda haja sinais de esperança", disse um sacerdote à ACN que "também teve que fugir devido a ameaças contra sua paróquia".
"Das 75 aldeias da minha paróquia, apenas 10 ainda são habitadas. Todas as pessoas foram embora. Como as aldeias foram abandonadas, grande parte do território está nas mãos de terroristas, escapando ao controle do Estado", acrescentou.
O sacerdote destacou que muitas das pessoas que buscaram refúgio em sua paróquia precisam cobrir "necessidades básicas" e "o problema crucial ainda é a água", uma falta que "força as mulheres, com todos os riscos que isso implica, a retornar às cidades vizinhas abandonadas por causa das ameaças terroristas, a tentar obtê-lo e transportá-lo em triciclos”.
Diante disso, o sacerdote disse a ACN que "a maioria das pessoas de Burkina se sente impotente diante da desgraça", especialmente agora que a atenção do Governo "está focada na pandemia de Coronavírus" e se esquecem "de que o terrorismo também produz vítimas, inclusive mais do que a doença COVID-19”.
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Para os cidadãos afetados, "as autoridades locais e nacionais compartilham o drama que a população está sofrendo, mas na maioria das vezes, seus esforços são rapidamente cancelados devido à falta de recursos", acrescentou.
O sacerdote também informou que “apesar da presença de tropas estrangeiras, especialmente francesas, muitos cidadãos se mostram céticos e se queixam de não ver nenhum resultado. Além disso, criticam que, se o exército nacional tivesse as mesmas condições de transporte e armas que as forças estrangeiras, poderiam ser mais efetivos”.
Outro sacerdote da região de Fada N'Gourma, cuja paróquia sofreu violentas incursões e recebeu apoio da fundação pontifícia para construir um muro de segurança, declarou à ACN "angustiado" que, para os cidadãos de Burkina, "é muito difícil saber o que é pior", pois eles estão no meio de dois perigos que têm a mesma consequência: "criar situações de morte".
Por isso, "exigem das autoridades a mesma decisão e seriedade para melhorar a situação das pessoas deslocadas internamente e combater o terrorismo que para combater a pandemia" e "muitos lamentam, além disso, que fora do país não se saiba da dimensão da tragédia”, concluiu.
Até 2019, mais de mil pessoas entre cristãos, seguidores da religião tradicional e muçulmanos foram assassinados pelo terrorismo no país; pelo menos 8 paróquias fecharam e comunidades católicas como "treze padres, sete congregações religiosas e 193 coordenadores pastorais tiveram que abandonar os locais onde se encontravam em missão por questões de segurança", assinalou a ACN.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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