REDAÇÃO CENTRAL, 1 de jun de 2020 às 10:10
Nem loira ou ruiva, tampouco com cabelos longos, a verdadeira aparência física de Santa Joana D’Arc é de uma mulher morena com cabelos curtos, conforme revela um trabalho de reconstrução realizado por brasileiros em 2017.
O jornalista, escritor e especialista em relíquias da Arquidiocese de São Paulo, Fábio Tucci Farah, é um dos responsáveis por este trabalho. Ele assumiu no dia 23 de março de 2017 a cadeira 34 da Academia Brasileira de Hagiologia, cuja patronesse é Santa Joana D’Arc.
Como uma homenagem a sua patronesse, Fábio realizou uma vasta pesquisa que resultou no “retrato artístico mais fidedigno” da santa, desenvolvido junto com o artista Marcelo Braga.
Durante seu discurso de posse na Academia, explicou que fez dois projetos para homenageá-la: a reconstrução da aparência física da santa; e uma oração que recebeu a aprovação eclesiástica do Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, no dia 2 de março daquele mesmo ano.
A imagem reconstruída apresenta uma jovem de pele clara, cabelos escuros e bem curtos, como usado pelos soldados na época em que a santa atuou ao lado do exército de Carlos VII para salvar a França dos ingleses.
Fábio Tucci explicou que “a reconstituição facial baseia-se na reconstrução forense do rosto a partir de uma relíquia de primeira classe: o crânio dos santos”, citando como exemplo os trabalhos desenvolvidos pelo também brasileiro Cícero Moraes, o qual já realizou a reconstrução das faces de santos como Madre Paulina, Santa Rosa de Lima, São Nicolau, entre outros.
Porém, no caso de Santa Joana D’Arc, Fábio não contava com o crânio da jovem francesa, pois, “como todos sabem, Joana D’Arc foi queimada. E, em determinado momento, conta-se que seu crânio explodiu por causa da pressão do vapor acumulado”.
Além disso, “seus restos foram reunidos e lançados ao rio Sena – na tentativa de evitar que se tornassem relíquias ou fossem utilizados para feitiçaria”.
Entretanto, muitas foram as representações feitas dessa santa, embora o seu rosto ainda permanecesse uma incógnita.
O especialista em relíquias recordou em seu discurso que, “em 3 de março de 1431, quando estava presa, um de seus juízes perguntou se ela tinha mandado fazer um autorretrato. Provavelmente, desejava acusá-la de presunção, já que ser retratado era prerrogativa de reis, bispos e outras personalidades”.
“Joana respondeu que certa vez tinha visto uma pintura assinada por um artista escocês. Parecia-se com ela. Em 1429, outra provável imagem de Joana combatendo os ingleses estava em circulação e à venda”. Mas, “nenhum desses ‘retratos’ foi preservado”.
As imagens que chegaram aos dias de hoje, Fábio afirmou que “a que ornamenta a obra Le Champion des Dames, datada em 1440, é considerada, por vários estudiosos, a imagem antiga mais fidedigna da santa. Mas é póstuma”.
Outra imagem contemporânea que chegou aos dias atuais, “infelizmente, não foi executado por alguém com dotes artísticos. Trata-se de um esboço na margem de um documento, feito por um escrivão do Parlamento de Paris, em 10 de maio de 1429”.
Fábio lembrou ainda que “de três a sete décadas após a morte de Joana, um monumento foi construído sobre a Pont des Tourelles, em Orléans”, com a santa ajoelhada à esquerda da pietà, com rosto redondo e pescoço curto.
Sobre esta representação, o especialista considerou que “talvez só tenha pecado por um detalhe: Joana não tinha cabelos compridos caindo-lhe sobre os ombros. Ela os usava bem curtos, como os soldados”.
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A primeira estátua da santa, de acordo com Fábio, foi destruída em 1792. Porém havia uma cópia na catedral de Saint-Étienne de Toul, a qual “foi erigida sob os auspícios de um dos descendentes da família d´Arc: Claude Hordal”. Assim, considerou, “é razoável supor que, entre os modelos disponíveis, ele tenha escolhido o mais fiel à imagem da ilustre antepassada”.
Além disso, o sobrinho de Joana, Etienne Hordal, encomendou uma réplica, décadas mais tarde, para um oratório na cidade natal da santa.
“Apesar disso – ressaltou –, ela tem duas características dissonantes. Além dos cabelos curtos, já mencionados anteriormente, eles não eram loiros ou ruivos, conforme sugeriria resquícios de cor na escultura em Domrémy. Joana era morena”.
Foi com base nesses estudos que Fábio Tucci Farah e Marcelo Braga desenvolveram o “retrato artístico mais fidedigno” da santa, o qual será apresentado em breve na França, terra de Joana D’Arc.
Ao retratado, soma-se a seguinte oração com aprovação eclesiástica do Cardeal Scherer:
“Santa Joana, desde pequenina ouvistes o chamado do Reino dos Céus. Tocai em meus ouvidos para que eu também ouça a voz do Alto. E acolha, sem tibieza, as missões que o Senhor me confiar.
Com vossa espada, livrai-me dos inimigos da alma. À sombra de vosso estandarte, protegei-me dos golpes traiçoeiros e cuidai de minhas feridas. Tocai em meus olhos para que, como vós, eu enxergue os irmãos desamparados e oprimidos. E liderai-me nas justas batalhas para socorrê-los.
Santa Joana, tocai em meus lábios para que eu professe com a sabedoria do Espírito as verdades da Fé. E saiba defendê-las dos ataques dos sábios deste mundo. Possa meu testemunho afugentar lobos e trazer ovelhas perdidas de volta ao rebanho de Cristo.
Tocai em meu coração para que se mantenha sempre leal ao Rei do Céu. Que eu nunca renegue minha cruz. E tenha coragem de levá-la, se preciso for, até o mais doloroso martírio.
Santa Joana, intercedei por mim para que, ao final de minha peregrinação por este mundo, mereça alcançar a Pátria Celeste. E, ao seu lado, possa unir minha voz ao coro dos anjos e dos santos na glorificação eterna de Nosso Senhor”.
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— ACI Digital (@acidigital) April 17, 2019