WASHINGTON DC, 3 de jun de 2020 às 12:04
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta terça-feira, 2 de junho, uma ordem executiva "para promover a liberdade religiosa internacional", depois de visitar o Santuário Nacional de São João Paulo II, em Washington, DC.
A ordem chama a liberdade religiosa de "um imperativo moral e de segurança nacional" e a declara "uma prioridade para a política externa dos Estados Unidos".
A ordem exige um compromisso "sólido" com organizações cívicas em outros países e também solicita ao Secretário de Estado Mike Pompeo, em consulta com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que desenvolva um plano para "priorizar” a liberdade religiosa na política externa e assistência externa. A liberdade religiosa internacional também fará parte da diplomacia norte-americana.
Também exige um orçamento de pelo menos 50 milhões para programas que ajudem a conter a violência religiosa, a perseguição no exterior e para proteger as minorias religiosas.
Segundo um alto funcionário do governo, a ordem executiva baseia-se no discurso de Trump aos líderes mundiais, em setembro, na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), onde chamou os países a "colocarem fim à perseguição religiosa".
“Que acabem os crimes contra as pessoas de fé. Libertem os prisioneiros de consciência. Revoguem leis que restrinjam a liberdade de religião e crenças. Protejam os vulneráveis, os indefesos e os oprimidos", disse Trump em setembro.
A ordem de terça-feira, 2 de junho, segundo o funcionário, implementa essa visão da liberdade religiosa internacional na política externa dos Estados Unidos.
Trump assinou a ordem depois de visitar o santuário de João Paulo II, no nordeste de Washington, DC, onde colocou uma coroa de flores diante de uma estátua do Papa São João Paulo II. A colocação da coroa comemorava o centésimo aniversário do santo, que ocorreu em 18 de maio, de acordo com a conselheira do presidente, Kellyanne Conway.
A visita ao santuário ocorreu em meio aos distúrbios nacionais generalizados e conflitos pela resposta de Trump aos protestos, incluindo uma aparição controversa na Igreja Episcopaliana de São João, na noite de segunda-feira. Trump caminhou até a igreja, depois que a Polícia despejou alguns manifestantes e os meios de comunicação, supostamente usando bombas de fumaça ou gás lacrimogêneo, junto com projéteis não letais, no que os manifestantes descreveram como uma demonstração de força.
Essa aparição ocorreu imediatamente depois que Trump disse que enviaria o Exército para sufocar os distúrbios, se considerasse necessário, um anúncio cuja legalidade já foi questionada.
O santuário disse que a visita de Trump, em 2 de junho, foi planejada muito antes das recentes controvérsias.
Um porta-voz do santuário disse que a Casa Branca "originalmente agendou essa [visita] como um evento para o presidente assinar uma ordem executiva sobre a liberdade religiosa internacional". O presidente assinou a ordem na terça-feira após a visita, e não no santuário.
O Arcebispo de Washington, DC, Wilton Gregory, disse na terça-feira de manhã, pouco antes da visita de Trump ao santuário, que considerava "desconcertante e repreensível que qualquer instalação católica permita ser tão atrozmente usada e manipulada de tal maneira que viole nossos princípios religiosos, os quais nos chamam a defender os direitos de todas as pessoas, inclusive daquelas com quem poderíamos estar em desacordo”.
O Papa João Paulo II, continuou Dom Gregory, "não toleraria o uso de gás lacrimogêneo e outros elementos de dissuasão para silenciá-los, dispersá-los ou intimidá-los para uma oportunidade de tirar fotos diante de um local de culto e paz".
Robert Nicholson, presidente do Projeto Philos (cujo objetivo é promover e defender a participação religiosa no Oriente Médio) disse à CNA, agência em inglês do grupo ACI, na terça-feira, 2, que embora o momento da visita ao santuário do presidente “tenha sido inoportuno e infeliz ”, está “agradecido que os Estados Unidos liderem a campanha pela liberdade religiosa em todo o mundo”.
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“Precisamos de mais religião neste mundo, não menos. Numa época em que reina o caos e a humanidade se enreda em correntes de sua própria criação, a necessidade de ter fé na verdade transcendente se torna ainda mais clara. A supressão da religião não interrompe o impulso religioso. Com o impulso de adorar, os homens serão novos deuses de raça e estado", acrescentou Nicholson.
“A crise que estamos testemunhando hoje nos Estados Unidos se baseia em uma perda de cultura moral compartilhada, um vocabulário comum de verdade sobre o qual se constrói o resto da sociedade", acrescentou.
Também assegurou que "a liberdade religiosa internacional é a causa de todas as causas" e "representa o princípio do livre pensamento que Deus construiu no mundo, um componente essencial da imago Dei".
"Se existe uma só causa que devemos promover e difundir incansavelmente, é essa", afirmou.
Durante a visita à Igreja Episcopal de São João, Trump levantou uma Bíblia em frente às câmeras em uma aparente sessão de fotos. A igreja sofreu danos por incêndio durante os protestos na noite de domingo.
De acordo com o Washington Examiner, a polícia dispersou as multidões ao redor da igreja pouco antes da visita de Trump, supostamente para impor um toque de recolher às 19h declarado pelo prefeito de Washington, DC, Muriel Bowser.
No entanto, a agência informou que os protestos nas áreas próximas continuaram muito depois do toque de recolher e que os manifestantes ao redor da igreja foram expulsos para dar espaço à visita do presidente.
A conselheira do presidente, Conway, disse aos jornalistas que foi informada de que "havia um plano para expandir o perímetro" da polícia na área e que Trump não sabia "como a polícia está manejando seus movimentos".
Além disso, afirmou que a assinatura da ordem de liberdade religiosa, junto com a visita ao santuário e a recente orientação dos Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) sobre a reabertura de casas de culto, fazem parte de "uma continuidade bastante consistente para este presidente na defesa dos direitos religiosos".
"Acho muito lamentável que as pessoas de fé questionem o que está no coração de alguém, incluindo o do presidente, o que o obriga a ir a São João e segurar a Bíblia”, concluiu Conway.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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