PEQUIM, 9 de jun de 2020 às 08:00
As autoridades católicas patrocinadas pelo Estado em algumas partes da China emitiram regulamentos sobre a reabertura das igrejas durante a pandemia de coronavírus, incluindo a exigência de pregar sobre o "patriotismo" para poder reabrir.
Na província oriental de Zhejiang, a Associação Patriótica Católica Chinesa (CPCA, na sigla em inglês), controlada pelo Governo, e o comitê de administração educativa católica chinesa da província, emitiram uma declaração, em 29 de maio, sobre a retomada da Missa para a semana seguinte.
O texto indica que só os "lugares religiosos que atendam às condições de prevenção de epidemias" podem celebrar a Missa a partir de 2 de junho. Entre essas condições estava o requisito de acrescentar "patriotismo" à celebração da liturgia.
Os católicos chineses locais, em declarações à UCA News, consideraram as novas medidas inapropriadas.
“O primeiro requisito no aviso é ensinar uma boa lição sobre o patriotismo. É incorreto. Como membros da Igreja Católica universal, não podemos aceitar e glorificar o que os comunistas consideram educação patriótica”, disse Pe. Liu, da província de Hebei, à UCA News.
Um católico de Wenzhou chamado Jacob Chung assegurou que a medida representa uma interferência adicional do governo "nos assuntos internos da religião".
O Partido Comunista Chinês procura "reprimir e transformar" a Igreja Católica na China para promover melhor os valores comunistas, acrescentou.
A China reabriu lentamente as instituições após a pandemia de coronavírus, incluindo serviços religiosos. Os regulamentos diferem por província, e algumas paróquias devem verificar as temperaturas dos fiéis antes de poderem entrar no edifício.
Em Sichuan, aqueles que querem ir à igreja devem obter a permissão de um funcionário do governo.
As novas regras surgem quando o governo chinês toma medidas cada vez mais fortes para promover a "sinicização" na prática da religião, ou seja, a campanha do governo para adaptar todas as religiões à cultura e ao comunismo chinês.
Em 2019, a Agência de Notícias Xinhua informou que um membro do Comitê Permanente do Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista da China supervisionou uma reunião que discutiu sobre a criação de uma tradução das Escrituras que esteja de acordo com a sua ideologia política.
Segundo os relatórios, a reunião incluiu "pessoas religiosas de base" e acadêmicos. Seu objetivo era criar "interpretações precisas e autorizadas das doutrinas clássicas para acompanhar o ritmo dos tempos".
Para atingir esse objetivo, as passagens que violem os "valores socialistas centrais" do partido serão removidas de textos como a Bíblia e o Alcorão.
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O Partido Comunista visa "criar uma nova versão do cristianismo sem suas visões e valores transcendentes", disse Xi Lian, professor da Escola de Divindade da Universidade Duke, ao Wall Street Journal.
Desde que chegou ao poder em 2013, o presidente chinês, Xi Jinping, ordenou a "sinicização" de todas as religiões na China, uma medida que a Comissão dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa Internacional chamou de "uma estratégia de longo alcance para controlar, governar e manipular todos os aspectos da fé em um molde socialista infundido com 'características chinesas'”.
O governo chinês está no meio da implementação de um "plano de sinicização" de cinco anos para o Islã, uma religião que enfrenta crescente perseguição no país, com pelo menos 800 mil muçulmanos uigures detidos em campos de concentração.
A aceitação católica do programa de "sinicização" tem sido um assunto muito debatido após a formalização do acordo de 2018 entre o Vaticano e a China, que regularizou os bispos designados pelo governo do país junto à Santa Sé.
Anteriormente, os bispos afiliados à "Associação Católica Patriótica Chinesa" foram consagrados ilicitamente e fora da comunhão com Roma.
Em 2019, o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, disse que a "inculturação", uma prática missionária católica e "sinicização" podem ser "complementares" e "podem abrir caminhos para o diálogo".
"A inculturação é uma condição essencial para uma proclamação sólida do Evangelho que, para dar frutos, exige, por um lado, salvaguardar sua autêntica pureza e integridade e, por outro, apresentá-la de acordo com a experiência particular de cada povo e cultura”, disse.
“Estes dois termos, ‘inculturação’ e ‘sinicização’, referem-se entre si sem confusão e sem oposição”, acrescentou.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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