PEQUIM, 25 de jun de 2020 às 10:30
Dalù, jornalista chinês convertido ao catolicismo e refugiado na Itália, que sofreu represálias do Partido Comunista por denunciar os massacres da Praça da Paz Celestial, contou à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, a sua experiência pessoal e visão da situação da Igreja Católica na China.
Apesar das dificuldades enfrentadas pela Igreja na China hoje devido à perseguição comunista, destacou a força da fé dos católicos chineses e mostrou-se convencido de que a Igreja na China terá um futuro brilhante.
Dalù explicou que, em 4 de junho de 1989, "um protesto massivo e pacífico de estudantes tomou a Praça da Paz Celestial, em Pequim, exigindo democracia e reformas na China".
“Foi um momento de esperança de democracia na China. No entanto, as autoridades não responderam às solicitações dos estudantes de forma apropriada. Combateram-nas com violência", lembrou.
Naquela época, ele era jornalista e cobriu esses eventos, inclusive, participou em manifestações de solidariedade realizadas por jornalistas.
No entanto, informar eventos deste tipo era, e é uma tarefa quase impossível devido à censura feroz do Partido Comunista. "Ninguém pode falar porque, oficialmente, o que aconteceu foi um ‘incidente violento contrarrevolucionário’ e não um movimento normal e pacífico pela democracia", afirmou.
De fato, na redação não tinham consciência da gravidade da repressão até que seu chefe mostrou a ele e aos seus colegas as capas de vários jornais publicados em Taiwán.
Neles, mostraram as ruas de Tiananmen cheias de corpos massacrados. "Ficamos surpresos, mas nosso editor-chefe nos disse que só podíamos olhá-lo, mas não divulgar".
Portanto, "não podíamos conversar sobre o que estava acontecendo nos massacres de Tiananmen, mas eu não conseguia esquecer".
A lembrança dessa injustiça o levou a transmitir na rádio, em 4 de junho de 1995, sexto aniversário do incidente na Praça da Paz Celestial, uma série de peças de rádio em memória dos eventos.
"Imediatamente após a transmissão do programa, fui censurado e obrigado a escrever uma declaração de culpabilidade e, uma semana depois, fui demitido", lamentou.
Depois disso "fiquei desempregado e nunca mais consegui um emprego porque tinha essa mancha no meu arquivo pessoal. Ninguém estava disposto a me admitir. Eu era considerado uma pessoa perigosa".
Então, ocorreu a sua conversão ao catolicismo. “Felizmente, vi um anúncio no site da diocese católica de Xangai para a inscrição de novos alunos” para o coral.
“Sou amante da música e fui a uma audição sem esperar nada. No entanto, fui aceito no coral. Esse coral era muito especial. Antes dos ensaios, havia um sacerdote que nos falava sobre o Evangelho do dia, e que as músicas que cantávamos eram hinos católicos. Era muito emocionante". Foi em 2009 e em 2010 o processo de catequese continuou.
Anos depois, compreendeu “que aquilo havia sido um chamado do Espírito Santo. Mais tarde, depois de meio ano estudando, compreendi o catolicismo. Eu fui batizado e me tornei católico".
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“Depois de me unir à Igreja Católica, tive a honra de ser escolhido pelo clero da Igreja para servir, ajudando os sacerdotes a divulgarem o Evangelho. Fui coordenador de meios de comunicação, responsável pela divulgação de notícias sobre o Vaticano, além das leituras do Evangelho e artigos devocionais. Estou feliz por poder contribuir com um pouco de mim para a Igreja Católica”, afirmou.
Sobre a vida dos católicos na China, recordou que este “é um país onde o ateísmo tem caráter oficial. O povo chinês só pensa sobre o que comer, o que vestir e em ser feliz”.
"Eles não se perguntam de onde vêm. Nos livros didáticos primários aprendemos que viemos dos macacos, nunca aprendemos que fomos criados por Deus à sua imagem. Portanto, é muito difícil para um fiel se desenvolver em um ambiente como o da China", assinalou.
Ele também enfatizou que “o catolicismo é completamente incompatível com o materialismo e o entretenimento defendidos pela sociedade. Nós somos marginalizados".
Na entrevista, também ofereceu sua opinião sobre o acordo entre o governo chinês e a Santa Sé para a nomeação de bispos.
Ele explicou que, na mente dos católicos chineses, não existe tal divisão entre uma Igreja oculta fiel a Roma e uma Igreja chinesa oficial. "Em nossas cabeças, há apenas uma igreja", assegurou.
Por isso, “sou muito grato ao Papa Francisco. Ele teve a coragem de negociar com a China e acho que é uma pessoa muito sábia. Eu também acredito que o futuro de Igreja na China será brilhante".
Dalù também ofereceu seu ponto de vista sobre se um comunista pode ser católico e, para isso, usou o exemplo de São Paulo. "Assim como São Paulo foi um perseguidor de cristãos em seu tempo e Deus o converteu e o santificou, da mesma maneira há muitas pessoas boas no Partido Comunista que não têm a oportunidade de entrar em contato com a verdade do catolicismo".
“Entre meus amigos, há pessoas interessadas em minha fé. Acredito que quando a situação mudar, a China poderá acreditar livremente em Deus e tocar a verdade”, assegurou.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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