Um preso, condenado a 30 anos de prisão por homicídio, fará seus votos de castidade, pobreza e obediência em um presídio italiano neste sábado, 27 de junho.

Segundo informa o jornal Avvenire dos bispos italianos, Luigi, um prisioneiro de cerca de 40 anos de idade, fará seus votos após um processo de discernimento no qual foi acompanhado pelo bispo de Reggio Emilia-Guastalla, Dom Massimo Camisasca.

O Prelado explicou ao jornal italiano que a vocação desse homem foi possível graças à pastoral penitenciária realizada pelos sacerdotes Matteo Mioni, dos Irmãos da Caridade, e Daniele Simonazzi, dos Servos da Igreja.

Dom Camisasca disse que, a princípio, não sabia como eram as prisões, mas em 2016 decidiu fazer apostolado nessa área. “Eu não sabia muito sobre a realidade da prisão, confesso. Mas, desde então, comecei um caminho de presença, celebração e partilha, isso me enriqueceu muito”, lembrou.

A história de Luigi começa na sua infância, quando entre as brincadeiras lhe chamavam de "Padre Luigi" porque gostava de rezar e ajudar na Igreja. Depois de não poder ser admitido no seminário, ele muda sua vida e começa a vivê-la de forma desordenada. De fato, o assassinato que o levou à prisão foi cometido sob a influência de álcool e cocaína.

Depois de admitir no processo que que tinha uma doença mental, Luigi voltou a rezar muito na prisão e tornou-se um leitor assíduo nas Missas dominicais.

Em uma das muitas cartas que troca com o bispo, disse que reza especialmente "pela salvação do homem que eu matei".

"Uma passagem que me tocou muito é aquela em que diz que a verdadeira cadeia perpétua não é vivida na prisão, mas quando falta a luz de Cristo", acrescenta o Prelado sobre as cartas de Luigi.

Sobre o processo de discernimento, Dom Camisasca explicou que "deveríamos esperar que ele saísse da prisão, mas foi o Pe. Daniele quem sugeriu um caminho diferente que lhe permitisse fazer esses votos solenes agora".

“Nenhum de nós é dono do próprio futuro e essa é a maior razão para uma pessoa privada de liberdade. Por isso, eu queria que Luigi pensasse, acima de tudo, sobre o que esses votos significam em sua condição atual”.

Por esse motivo, ressaltou: “Convidei-o a colocar por escrito os seus pensamentos e expectativas. No final, me convenci de que, em seu gesto de doação, havia algo luminoso para ele, para os outros prisioneiros e para a própria Igreja”.

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Em suas anotações, Luigi escreveu que a castidade lhe permitirá "humilhar o que é externo para que aquilo que é mais importante dentro de nós possa emergir". Além disso, a pobreza oferece a ele a possibilidade de se conformar com "a perfeição de Cristo, que se tornou pobre", fazendo com que a própria pobreza "passe da desgraça à bem-aventurança".

É também uma renúncia ao superficial, porque "apegar-se aos excessos é um sintoma de falta de alegria", acrescenta.

A pobreza também é a capacidade de compartilhar a vida com os outros prisioneiros como ele, enquanto a obediência é a disponibilidade para ouvir, sabendo que "Deus também fala pela boca dos 'tolos'".

O Bispo de Reggio Emilia-Guastalla comentou que “com a pandemia do [coronavírus] estamos todos vivendo um tempo de combate e sacrifício. A experiência de Luigi pode realmente ser um sinal coletivo de esperança: não para escapar das dificuldades, mas para enfrentá-las com força e consciência. Eu não conhecia a prisão, repito, e também para mim o impacto foi muito difícil no começo”.

“Parecia-me um mundo de desespero no qual a perspectiva de ressurreição era continuamente contradita e negada. Esta história, como outras que conheci, mostra que não é assim”, afirmou o Prelado.

Dom Camisasca enfatizou que o mérito dessa vocação é "da ação dos sacerdotes, do trabalho extraordinário da polícia penitenciária e de todo o pessoal da saúde, sem dúvida".

“Mas, por outro lado, há o mistério que não consigo deixar de pensar quando olho para o crucifixo em meu escritório. É do laboratório da prisão, me impede de esquecer os detidos. Seus sofrimentos e esperanças estão sempre comigo. E olham para cada um de nós", concluiu.

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