ISTAMBUL, 26 de jun de 2020 às 10:00
O doutor em Religião Comparativa e pesquisador sênior adjunto do Instituto de Estudos Internacionais e Religião da Universidade de Cambridge, Alexander Görlach, escreveu uma coluna de opinião na qual denuncia e expõe a atual e crescente perseguição de cristãos na Turquia
“Uma das igrejas cristãs mais antigas do mundo está sob a extrema pressão do estado turco. Isso não é um bom presságio para o futuro”, assinalou em DW News o colunista alemão, que também é conhecido na academia por ser o principal pesquisador do Conselho Carnegie de Ética em Assuntos Internacionais e Doutor em Linguagem e Política.
O especialista, que mora em Nova York, deixou claro que a "perseguição aos cristãos na Turquia continua", pois "o mundo está ocupado lutando contra a pandemia da COVID-19, lidando com o desemprego em massa e uma recessão global".
“O governo turco está aproveitando a situação para pressionar ainda mais as minorias. A marginalização dos cristãos na Turquia não é novidade para o presidente Recep Tayyip Erdogan: Está ocupado reorganizando sua república secular em uma mistura de otomanismo e islamismo há algum tempo", escreveu.
Görlach comenta que, recentemente, os cristãos sírios-aramaicos do sudeste do país começaram a temer por seus direitos e propriedades.
“As autoridades turcas simplesmente começaram a destinar terras de propriedade de uma comunidade ou de uma pessoa particular a outros proprietários, expropriando os cristãos. Durante o confronto armado com os curdos, as igrejas nesta parte do país também foram destruídas", afirmou o acadêmico sobre a situação atual.
Ele também comentou que, devido à recente ofensiva militar turca no norte da Síria, cerca de 200 mil pessoas, entre estas muitos cristãos, não tiveram escolha a não ser "fugir de casa" e agora "não podem retornar devido ao conflito".
"Erdogan prometeu deixar que as igrejas sejam reconstruídas, mas a discriminação sistemática e de longa data contra a minoria cristã da Turquia sugere que ele não está realmente falando sério sobre reviver a vida religiosa cristã", escreveu o Dr. Görlach.
Para explicar a discriminação, deu o exemplo de Sefer Bilecen, um sacerdote ortodoxo sírio de Mardin (sudeste da Turquia), que em janeiro foi acusado de ser membro de um grupo terrorista.
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"Dizem que ele deu água e pão aos combatentes curdos que bateram à porta de seu mosteiro", contou, acrescentando que, em sua defesa "o sacerdote argumentou que ajudaria qualquer pessoa que peça, é seu dever cristão".
"Desde então, foi libertado da prisão depois que várias organizações humanitárias intervieram, mas ainda está em julgamento", acrescentou o Dr. Görlach.
Em sua análise, o especialista em religião acredita que "se os cristãos continuarem cada vez mais próximos das milícias curdas que lutam contra o estado turco, provavelmente serão mais marginalizados aos olhos dos apoiadores de Erdogan, cerca de um em cada dois turcos”.
"Passo a passo, usando a retórica nacionalista e islâmica, os cristãos na Turquia estão se tornando um bode expiatório bem-vindos para Ancara (capital turca). Erdogan calculou mal em várias frentes na Síria e na Líbia e agora está procurando alguém para servir como distração. O destino de Sefer Bilecen, que ainda aguarda seu veredicto, reflete o de uma minoria cujo futuro em sua terra natal é tudo, menos certo", concluiu o Dr. Görlach.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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