Damasco, 10 de jul de 2020 às 09:30
Nesta semana se recorda um dos massacres de cristãos mais cruéis da história contemporânea, onde mais de 20 mil fiéis morreram em Damasco, na Síria, nas mãos do Império Otomano.
No contexto da guerra civil de 1860 no Monte Líbano, que começou no norte como uma rebelião dos camponeses maronitas contra os drusos e cuja luta se espalhou e terminou na cidade de Damasco, ocorreu um dos massacres de cristãos mais cruéis da história contemporânea, com o apoio de autoridades militares, soldados turcos, grupos drusos e grupos paramilitares sunitas.
O terrível ato de violência durou três dias, de 9 a 11 de julho; no entanto, o dia 9 de julho é lembrado como a data mais sangrenta, quando milhares de cristãos foram mortos e muitas igrejas, conventos, escolas missionárias e vilas inteiras foram destruídas e queimadas. O massacre terminou com a fuga de milhares de pessoas e a ocupação da Síria por um exército francês.
No livro chamado Santoral de Galicia: Cincuenta Semblanzas Hagiográficas o historiador José Ramón Hernández Figueiredo, doutor em História Eclesiástica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e especialista em Arquivística pela Escola de Paleografia, Diplomática e Arquivística da Cidade do Vaticano, explicou a razão do terrível massacre contra os cristãos. Além disso, coletou importantes dados e testemunhos dos cristãos que sofreram o ataque.
"Na paz de Paris, assinada em 30 de março na Crimeia, a assembleia francesa exigiu certas reformas do Império Otomano, principalmente no que diz respeito à tolerância das minorias cristãs", disse Hernández.
"Como naquele ano, o sultão emitiu um decreto pelo qual todos os súditos do império tinham os mesmos direitos em impostos e ocupação de cargos públicos, os maometanos ficaram indignados já que consideravam os cristãos como 'guetos' de raças inferiores excluídas da lei durante doze séculos", explicou.
Nesse sentido, o conflito culminou no terrível massacre "porque o governador de Beirute [capital do Líbano], Pasha Khursud, havia incitado muçulmanos na Síria a tal ponto que a revolta começou em Bait Mari, devido a um litígio entre um druso e um jovem cristão maronita”.
Segundo narra o historiador, "as primeiras vítimas ocorreram nos povoados maronitas do centro e sul do Líbano, com quase 6 mil cristãos sendo mortos, mutilados ou abusados". Em seguida, no meio da manhã de 9 de julho, "os drusos chegaram a Damasco durante a vigília do Ramadã e começaram o assassinato de cristãos".
Durante o terrível ato, “o bairro cristão de Arat-el-Nassara foi atacado, com suas 3.800 casas e os conventos europeus de jesuítas, Paulinos, Filhas da Caridade e Franciscanos. As vítimas do crime atingiram, em três dias, o número de cerca de três mil mortos”, afirmou.
Infelizmente, "o governador, Pasha Ahmed, não impediu a matança"; no entanto, "o emir argelino Abb-al-Kadar, um grande defensor do Islã, deu asilo a 1.500 cristãos, incluindo alguns europeus".
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Entre os refugiados estavam religiosos jesuítas, paulinos, Filhas da Caridade e Franciscanos; no entanto, eles não deixaram o convento e foram torturados por uma violenta multidão de beduínos e metolanos, explicou Hernández.
“Os franciscanos foram objeto de ludibrio e escárnio, atormentados com o facão dos beduínos e com as baionetas dos turcos. Cada assassinato era recebido com imensa alegria por aquela multidão, ansiosa por exterminar", afirmou.
Hernández disse que os criminosos primeiro "pretendiam que renunciassem à fé cristã e prestassem culto a Alá e seu profeta Maomé. Como eles se recusavam, ofereceram-lhes riquezas. Como se recusaram novamente, entregaram-lhes ao martírio. Todos morreram naquele instante”, com exceção de dois sacerdotes, que morreram no dia seguinte, entre os quais o Pe. Engelbert.
O beato Pe. Engelbert "manifestou seu amor sem limites pela religião de seus pais, ‘opondo-se de forma decidida e tenaz a pisar na cruz do Redentor, protestando em língua árabe contra os atos de selvageria dos partidários de Maomé presenciados por ele, suportando e perdoando como Deus manda perdoar os inimigos da Igreja'”, concluiu.
Segundo os dados do historiador, no início de 1860 havia 30 mil cristãos e 140 mil muçulmanos em Damasco. Atualmente, a Igreja Católica reconhece um número significativo de santos e beatos mártires por causa do terrível massacre ocorrido.
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— ACI Digital (@acidigital) January 15, 2017