SANTIAGO, 17 de jul de 2020 às 11:52
O Arcebispo eleito de Santiago da Guatemala, Dom Gonzalo de Villa y Vásquez, falou sobre seu vínculo com uma das fundações do bilionário George Soros e garantiu que rejeita o aborto e a ideologia de gênero.
Em diálogo com a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, em 16 de julho, Dom De Villa y Vásquez lamentou que seus vínculos com a Fundação Soros Guatemala desde meados da década de 1990 e nos primeiros anos do novo milênio não deixem de ser algo que "pode por boas ou más razões, por boas ou más vontades, ensombrecer o que é a minha missão como Pastor da Igreja na Guatemala, em concreto na Arquidiocese de Santiago”.
"Sim, posso dizer enfaticamente que eu quero expressar e defender sempre as posições fundamentais da Igreja em tudo que tem a ver com a vida e a doutrina social da Igreja", assinalou.
George Soros e aborto
A Fundação Open Society, criada por Soros em 1993, financia várias campanhas a favor do aborto em todo o mundo.
Em 2016, soube-se que a fundação Soros movimentou 1,5 milhão de dólares para silenciar o escândalo da multinacional de aborto Planned Parenthood, acusada de vender órgãos e tecidos de bebês abortados em suas instalações.
Em 2017, o governo da Irlanda ordenou à Anistia Internacional que devolvesse a Soros os mais de 160 mil dólares doados por sua Fundação Open Society para uma campanha pela legalização do aborto naquele país.
Um documento da Fundação Open Society divulgado pelo DCLeaks.com em 2016 revelou que era importante para a organização de Soros "uma vitória" a favor do aborto na Irlanda para "impactar outros países fortemente católicos na Europa".
A revista de economia Forbes estima a riqueza de George Soros em 8,3 bilhões de dólares.
O orçamento da Open Society Foundations para 2020 é de 1,2 bilhão de dólares.
Quem é Dom Gonzalo de Villa y Vásquez?
Dom Gonzalo de Villa y Vásquez nasceu em Madri (Espanha) em 1954 e foi ordenado sacerdote em 1983. Fez seus votos perpétuos na Companhia de Jesus (jesuítas), em 1993.
Foi reitor da Universidade Rafael Landívar entre 1998 e 2004.
Até hoje, Bispo de Sololá-Chimaltenango (Guatemala), Dom De Villa y Vásquez se estabelecerá na Arquidiocese de Santiago da Guatemala, em 3 de setembro deste ano, sucedendo a Dom Oscar Julio Vian Morales, que morreu de câncer em 2018 .
Dom de Villa y Vásquez também é presidente da Conferência Episcopal da Guatemala para o período 2020-2023.
O vínculo com a Fundação Soros Guatemala
Depois de tomar conhecimento da nomeação feita pelo Papa Francisco em 9 de julho, várias fontes disseram à ACI Prensa que, há duas décadas, o Arcebispo eleito de Santiago de Guatemala ocupou altos cargos na agora extinta Fundação Soros Guatemala, parte do então chamado Open Society Institute, hoje Open Society Foundations.
De fato, no arquivo do site da Fundação Soros da Guatemala, indica-se que o então Pe. Gonzalo de Villa foi seu primeiro presidente. Esta fundação declarou como visão institucional: “Uma sociedade aberta se estabelece com base nos valores relacionados com a vigência e o respeito aos direitos humanos, a participação democrática, a solidariedade, a tolerância, a inclusão, o respeito pelas diferenças e a busca do bem comum através do consenso”.
O site do Open Society Institute afirmava que a Fundação Soros Guatemala “se concentra na capacitação de liderança política e cívica, expandindo a participação de grupos marginalizados na vida pública, melhorando o desenvolvimento econômico local e utilizando a educação e os meios de comunicação para promover a tolerância e facilitar o diálogo entre os diferentes setores da sociedade na Guatemala”.
Em um relatório de 2002, no qual o nome do Pe. Gonzalo de Villa é mencionado como vice-presidente da Fundação Soros Guatemala, o Open Society Institute descreve seus esforços em prol da ampliação do acesso ao aborto em países europeus como Croácia, Letônia , Lituânia e Eslováquia. Naquele ano, assinalou o relatório, "ofereceu financiamento para fortalecer a capacidade de defesa local e regional, especialmente nos países da região onde os direitos ao aborto estão sendo prejudicados".
O mesmo relatório destaca que, nos Estados Unidos, “OSI continuou educando o público e capacitando provedores em novas e precoces opções para o término da gravidez (…). O apoio foi aos Centros de Treinamento de Opções Precoces para a capacitação de médicos de prática familiar em procedimentos de aborto precoce.
Nesse mesmo ano, o Open Society Institute, matriz da Fundação Soros Guatemala, financiou a Liga Nacional de Ação pelo Aborto e Direitos Reprodutivos (NARAL, na sigla em inglês).
Em um relatório de 2003, o atual Arcebispo eleito de Santiago da Guatemala também aparece como vice-presidente da Fundação Soros Guatemala. No documento, o Open Society Institute destaca que financiou a Planned Parenthood Federation, uma multinacional de aborto acusada nos últimos anos de tráfico de órgãos e tecidos de bebês abortados em suas instalações e o Centro para os Direitos Reprodutivos (Center for Reproductive Rights). , que promove a legalização do aborto em vários países como El Salvador.
"Naquela época, não era consciente" da agenda de Soros.
Sobre estes relatórios, Dom Gonzalo de Villa y Vásquez assegurou que "não me lembro, para ser franco, que esses temas tenham aparecido em nossas discussões".
“Provavelmente eu li essa publicação naquele ano ou a vi superficialmente, mas não a li como alguém que se prepara para uma prova. Li rapidamente, sem entrar em detalhes”, acrescentou.
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O Prelado disse que não sabia o que Soros estava fazendo nos diferentes países em que tinha fundações, descobriu "quando eu também comecei a me envolver mais no mundo episcopal da Guatemala".
"Mais do que me arrepender (por ter feito parte da Fundação Soros Guatemala), o que eu diria (é que) naquela época, não era consciente ou, pelo menos, não tenho nenhuma lembrança de que nesse momento eu fosse consciente”.
Dom de Villa y Vásquez lembrou que a Fundação Soros Guatemala foi criada entre 1995 e 1996, mas teve aprovação legal "como fundação" desde 1997.
"Eu estive vinculado à Fundação desde o início", lembrou. "Naquela época, eu era vice decano de Ciências Políticas da Universidade Católica (Rafael Landívar, a Universidade Jesuíta da Guatemala), dava aulas no Seminário".
“Convidaram-me e explicaram o plano para mim. Eu não tinha muita ideia, mas aceitei, entrei e fiquei efetivamente vinculado por vários anos a essa fundação na Guatemala", disse, lembrando que a organização financiada por George Soros "nasceu no marco da assinatura da paz após o longo conflito armado” que o país experimentou entre 1960 e 1996.
O novo Arcebispo de Santiago da Guatemala declarou que pertenceu ao conselho de administração da Fundação Soros Guatemala até 2007. “Lembro-me de que quando fui nomeado Bispo Auxiliar da Guatemala (em 2004), o Cardeal (Rodolfo) Quezada, que era o Arcebispo, soube: sabia desse tema. Acho que algum outro bispo da época também sabia deste tema”.
“E, finalmente, acho que por volta de 2007, quando cheguei a Sololá (como Bispo titular), parei de participar. Mantive alguma relação, eles me convidavam para um jantar no Natal, mas eu não fazia mais parte da fundação, que por outro lado iniciou um processo de fechamento", lembrou.
Dom De Villa y Vásquez considera uma “armadilha” que sua relação com a Fundação Soros Guatemala seja lembrada após sua nomeação como Arcebispo de Santiago da Guatemala.
Para o Prelado, Soros "em algum momento mudou sua agenda, parou de se preocupar com a Europa Oriental, a Guatemala ou o desenvolvimento e entrou no mundo das guerras culturais gringas".
"E então se meteu em temas de empoderamento das mulheres que, no final, tinham a ver logicamente com o que se chama nesses mundos de direitos reprodutivos, e em geral tudo o que tem sido a agenda da ideologia de gênero, mas que também, obviamente, esteve vinculado nos Estados Unidos ao Partido Democrata", afirmou.
"Isso fez com que Soros fosse visto nos últimos 10 anos e tratado como 'o diabo', que financia a Planned Parenthood. Acho que ele realmente deu dinheiro à Planned Parenthood. A partir de que momento eu não sei. Mas na Guatemala, esses temas na fundação nunca estiveram presentes”, reiterou.
O Arcebispo eleito de Santiago da Guatemala assegurou que “quando fui conhecendo mais, que foi mais nos últimos anos, toda a dimensão do que esse apoio significou via Planned Parenthood, na época (também de Barack) Obama, no mundo das influências que os Estados Unidos e suas forças exercem no resto do mundo, eu claramente me afasto completamente de qualquer posição de apoio a qualquer causa relacionada ao aborto ou à promoção do aborto”.
"Certamente afirmo que não apoio de nenhuma maneira o tema pró-aborto ou o tema das diferentes coisas no lobby que são tratadas hoje e, em geral, de todo esse mundo da ideologia de gênero", enfatizou.
No entanto, o Prelado disse que “esses temas hoje estão sujeitos a pressões políticas nas quais acontece que aqueles que lutam bravamente contra o aborto depois estão muito a favor da venda de armas ou do racismo, que essas coisas também acontecem nos Estados Unidos. E isso contamina muito".
Diante do aborto e da ideologia de gênero, garantiu: “Minha perspectiva é a da Igreja. Ou seja, uma perspectiva em que como causa, como projeto, como bandeira, certamente sentimos como algo colonizador, como diz o Papa Francisco. Algo que desejam impor e de fato conseguem impor em muitos países, alterando as legislações”.
Outra das controvérsias que surgiram do passado para Dom De Villa y Vásquez é a de sua posição em relação aos contraceptivos.
O relatório “Guatemala: O financiamento do desenvolvimento humano”, publicado pelo Sistema das Nações Unidas na Guatemala em 2001, defende o uso de anticoncepcionais em mulheres guatemaltecas. No prefácio do documento aparece a assinatura do atual Arcebispo eleito de Santiago da Guatemala, então reitor da Universidade Rafael Landívar.
“O número de filhos que as mulheres pobres têm ao longo de suas vidas reprodutivas desempenha um papel importante na dinâmica demográfica. Dados recentes indicam que, à medida que o nível de renda diminui, aumenta a brecha entre o número de gestações desejadas e indesejadas. Portanto, se as mulheres pobres tivessem as mesmas oportunidades de acessar informações e serviços de saúde reprodutiva que as mulheres não pobres, e pudessem controlar a gravidez, o número de crianças nascidas atualmente em famílias pobres seria reduzido em cerca de 80 mil anualmente”, indica o relatório.
Consultado sobre sua posição em relação ao uso de contraceptivos, o bispo De Villa y Vásquez assegurou que "minha posição é a da Igreja".
O Catecismo da Igreja Católica, em seu número 2399, considera a esterilização direta e a contracepção como "meios moralmente repreensíveis".
Em relação a George Soros, o prelado observou que “tenho referências de referências, não tenho vínculo direto nem informações privilegiadas. Eu leio coisas, sei de coisas que aparecem, que se dizem sobre Soros, não tenho certeza se tudo é verdade, mas imagino que isso seja verdade”.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
Confira também:
Facebook usa site financiado por George Soros para censurar campanha contra o aborto https://t.co/QXk4o5CYDU
— ACI Digital (@acidigital) June 30, 2020