Roma, 4 de ago de 2020 às 16:00
O vaticanista Sandro Magister publicou nesta segunda-feira uma carta do Cardeal Joseph Ratzinger de 1982, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, na qual afirma que o Vaticano não autorizou o Pe. José Kentenich a liderar novamente o movimento de Schoenstatt que ele fundou.
A carta é datada de 2 de abril de 1982 e foi enviada pelo Cardeal Joseph Ratzinger ao Pe. Ludwig Münz, reitor-geral dos Palotinos, ao qual pertencia o Pe. Kentenich.
A carta é publicada quase um mês depois da divulgação de uma investigação da historiadora Alexandra von Teuffenbach sobre acusações de abusos sexuais e de poder que teria cometido o Pe. Kentenich, cuja causa de beatificação está sendo realizada na diocese alemã de Treves. O conteúdo da investigação recebeu várias respostas de Schoenstatt
Pe. Kentenich fundou Schoenstatt em 1914. No entanto, em 1951, o Vaticano ordenou uma visita apostólica à Família Schoenstatt e foi decidido que o fundador deveria ser enviado aos Estados Unidos e separado do movimento, período conhecido pela instituição religiosa como "exílio".
Somente em 1965, três anos antes de sua morte, o sacerdote conseguiu voltar à Alemanha e se encontrar com a Família Schoenstatt.
Em uma declaração de 2 de julho, o Pe. Juan Pablo Catoggio, presidente da Presidência Geral de Schoenstatt, garantiu que em 1965 “os decretos que o separavam de sua fundação foram anulados, a Causa do Fundador foi devolvida à então Congregação dos Religiosos. De fato, está assim também refutada a acusação de abuso de poder".
Contudo, a carta do Cardeal Ratzinger, publicada nesta segunda-feira por Sandro Magister, afirma que “a Congregação [para a Doutrina da Fé] não é da opinião que as respostas que o Visitador deu nessa altura à doutrina e atividade do Padre Kentenich tenham sido um erro desagradável e se tenham baseado em informações errôneas”.
“Na sessão do Santo Ofício de 29 de Outubro de 1965, nenhuma das decisões anteriores do Santo Ofício relativas à doutrina, à atividade e à pessoa do Pe. Kentenich foi anulada; simplesmente não se insistiu para que o Pe. Kentenich, tendo viajado dos Estados Unidos a Roma sem a autorização da Congregação, mas apenas com base num telegrama interpretado erroneamente, tivesse que regressar", continua a carta.
A Congregação para a Doutrina da Fé, especifica a carta, “concedeu a sua permissão quando a Congregação dos Religiosos dispensou o Padre Kentenich das suas promessas feitas na Sociedade de Vida Apostólica dos Pallotinos e lhe deu permissão para ser incardinado na Diocese de Münster, mas com a condição de que o Padre Kentenich não entrasse no Instituto Secular dos Sacerdotes de Schoenstatt e não assumisse a direcção da Obra de Schoenstatt”, diz o texto do Cardeal Ratzinger.
As denúncias de abuso contra o fundador de Schoenstatt
Um relatório da acadêmica italiana Alexandra von Teuffenbach foi publicado em 2 de julho, no blog Settimo Cielo, pelo vaticanista Sandro Magister e no jornal alemão Die Tagespost. A investigação coletou denúncias de abusos de poder e sexual contra o Pe. Kentenich que datam de meados do século XX.
Von Teuffenbach se referiu à documentação disponível nos documentos abertos recentemente do pontificado de Pio XII no Arquivo Apostólico Vaticano e às descobertas do teólogo jesuíta Sebastiaan Tromp, que fez uma visita apostólica à Família Schoenstatt, em meados do século XX, a pedido da Santa Sé.
Em seu relatório, a especialista em história da Igreja apresentou supostos diálogos de conteúdo sexual que teriam ocorrido entre o Pe. Kentenich e integrantes do Instituto das Irmãs de Maria de Schoenstatt antes da visita apostólica do Pe. Tromp. Além disso, assinalou a existência de pelo menos uma carta denunciando "abuso sexual" e disse que outras missivas com conteúdo semelhante foram rejeitadas pela então madre geral da instituição religiosa na Alemanha.
Schoenstatt Respostas
Uma primeira resposta à investigação da historiadora italiana foi feita por Pe. Juan Pablo Catoggio, Presidente da Presidência Geral de Schoenstatt, que em um comunicado emitido em 1º de julho indicou que "sabe-se que, durante a visitação eclesiástica da Obra de Schoenstatt, nos anos 50, algumas pessoas fizeram acusações contra o Fundador de Schoenstatt às autoridades do Vaticano, que levaram o Fundador ao exílio de 14 anos. Estas questões também foram retomadas e esclarecidas no processo de beatificação, aberto em 1975. Então, foi colocado à disposição das autoridades eclesiásticas competentes todos os documentos e testemunhos, que de algum modo fossem pertinentes".
"Caso ainda houvesse dúvidas sobre a integridade moral do fundador de Schoenstatt, o seu exílio não teria terminado e o Vaticano não teria dado o nihil obstat para abrir seu processo de beatificação", acrescentou.
Em 2 de julho, em um novo comunicado, Pe. Catoggio expressou sua rejeição às acusações de suposto abuso sexual contra mulheres consagradas pelas mãos do fundador da instituição religiosa, o falecido Pe. José Kentenich.
Pe. Catoggio então assegurou que "refutamos decididamente a acusação de que José Kentenich é culpado de abuso sexual de membros das Irmãs de Maria de Schoenstatt".
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"Seu procedimento para com outras pessoas, sobretudo mulheres, foi sempre pronunciadamente respeitoso e expressão de sua estima, assim como determinado pelo princípio da intangibilidade física, que também imprimiu à sua comunidade", afirma.
Em 2 de julho, o Bispo de Encarnación (Paraguai), Dom Francisco Javier Pistilli Scorzara, incentivou a instituição a "buscar respostas sem medo e sem a necessidade de desenhar um fundador perfeito".
Em um artigo publicado no site Schoenstatt.org, Dom Pistilli Scorzara, que fez seus votos perpétuos como membro do Instituto de Padres de Schoenstatt, em 1996, e recebeu ordenação sacerdotal no ano seguinte, disse que “vai ser exigido de nós muita objetividade. De alguma forma, nosso fundador é colocado à prova. Confiamos em que a prova passará, mas deve poder se mostrar assim, com imparcialidade”.
“Estou convencido de que não se trata de ficar na defensiva, mas de incentivar à luz. Pode ser doloroso, certamente o será”, assinalou.
Por sua parte, o Pe. Diogo Barata, superior dos Padres de Schoenstatt na Espanha, garantiu seu compromisso de realizar uma “profunda investigação histórica que nos leve a conhecer toda a verdade”.
Em um artigo publicado no site Schoenstatt.org, o Pe. Barata assinalou que esse processo “requer um tempo de profunda investigação dos fatos e da referida documentação, o que nos levará a compreender, tanto a situação das pessoas afetadas como, as ações do Padre Kentenich”.
“Que outras dimensões do que aconteceu durante esses anos sejam conhecidas, só pode ser uma coisa boa. Para o Movimento e para a Igreja”, assegurou.
Pe. Patricio Moore, porta-voz do Instituto dos Padres de Schoenstatt no Chile, pediu perdão à instituição religiosa e ofereceu uma explicação sobre a história e o contexto das denúncias de abuso recentemente apresentadas contra seu fundador, Pe. José Kentenich.
Em uma videoconferência de cerca de uma hora e meia realizada na noite de 3 de julho, na qual participaram mais de 2.000 pessoas, o P. Moore disse que “a primeira coisa que quero fazer é, na realidade, pedir perdão e pedir perdão primeiro em forma pessoal, eu mesmo", pois "acho que nós ou eu não estivemos à altura de divulgar uma série de coisas que deveríamos ter divulgado no momento oportuno”.
"Não estivemos à altura de realmente entregar tudo o que sabíamos, especialmente pensando que todas as pessoas que participaram dessa história já haviam morrido", lamentou.
No dia 7 de julho, Dom Stephan Ackermann, Bispo de Treves (Alemanha), anunciou a criação de uma nova comissão de historiadores para analisar a causa de beatificação do fundador da Família Schoenstatt, Padre José Kentenich.
Até o fechamento desta edição, as autoridades de Schoenstatt não comentaram a carta publicada hoje por Sandro Magister.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
Confira também:
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— ACI Digital (@acidigital) July 2, 2020