WASHINGTON DC, 17 de ago de 2020 às 11:58
Mais de um quarto dos jovens adultos com idades entre 18 e 24 anos pensaram seriamente em suicídio no mês passado, de acordo com uma nova pesquisa dos Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC).
O relatório intitulado “Mental Health, Substance Use, and Suicidal Ideation During the COVID-19 Pandemic — United States, June 24–30, 2020” foi lançado em 14 de agosto. Os dados foram coletados de adultos nos Estados Unidos no final de junho.
Tommy Tighe, conselheiro matrimonial e familiar e apresentador do podcast católico de saúde mental "Saint Dymphna's Playbook", disse à CNA - agência em inglês do grupo ACI- que considerou que os dados são "realmente dolorosos, embora esperados".
Após meses de confinamentos prolongados em todo o país e ansiedade devido à pandemia do coronavírus, Tighe disse que "nosso nível básico de ansiedade aumentou durante essa experiência".
"Tentar viver com essa base mais alta certamente afetou nossa capacidade de tolerar a frustração e o estresse", afirmou.
De acordo com o CDC, “40,9% dos entrevistados relataram pelo menos uma condição adversa de saúde mental ou comportamental, incluindo sintomas de transtorno de ansiedade ou transtorno depressivo (30,9%), sintomas de transtorno relacionado com o trauma e o estresse (TSRD) relacionado à pandemia (26,3%) e ter iniciado ou aumentado o consumo de substâncias para enfrentar o estresse ou emoções relacionadas à COVID-19 (13,3%) ”.
Esses números aumentaram consideravelmente entre certos grupos. Quase três em cada quatro adultos com idades entre 18 e 24 anos, e pouco mais da metade dos adultos com idades entre 25 e 44 anos, informaram “pelo menos um sintoma de saúde mental ou comportamental adverso” na pesquisa. Entre os hispânicos, 52,1% dos entrevistados informaram pelo menos um sintoma de saúde mental adverso relacionado à pandemia, assim como dois terços dos entrevistados que não haviam completado o ensino médio.
54% dos trabalhadores essenciais entrevistados disseram ter experimentado pelo menos um sintoma comportamental ou mental adverso relacionado à COVID-19.
De todos os entrevistados, 10,7% informou “ter considerado seriamente o suicídio” nos 30 dias anteriores à realização da pesquisa. Esse número aumentou para 25,5% nos entrevistados com idades entre 18 a 24 anos, para 18,6% dos hispanos entrevistados e para 15,1% dos entrevistados negros não hispanos. Um pouco mais de 30% dos “cuidadores de adultos não remunerados que realizaram uma autoavaliação” e 21,7% dos trabalhadores de serviços essenciais autoavaliados disseram que eles também haviam considerado seriamente o suicídio no último mês.
Tighe disse que os números sombrios refletem uma falta de consciência sobre saúde mental na cultura mais ampla e a falta de acesso aos serviços.
“Nossa cultura, em geral, ignora os sintomas de saúde mental e as habilidades de enfrentamento saudáveis para combater esses sintomas e, portanto, muitos de nós não estão preparados para enfrentar uma experiência dessa magnitude”, disse.
Com a pandemia da COVID-19, escolas de todos os níveis em todo o país fecharam o ensino presencial. Para os estudantes de último ano que se formam em colégios e universidades, a maioria dos quais estão no grupo de idade de 18 a 24 anos, isso significou que seu último semestre da universidade foi on-line. Muitos estudantes tiveram seus trabalhos e estágios cancelados devido aos efeitos econômicos instáveis da pandemia.
James Marafino, um assistente social católico na área de Washington, DC, disse à CNA que esses fatores certamente desempenharam um papel nos sentimentos relatados por jovens de 18 a 24 anos.
“Esta é a idade em que [os jovens] vão para a faculdade e encontram emprego. Esta é uma de suas primeiras experiências com uma vida independente e o mais provável é que estejam lidando com a pandemia por conta própria”, disse Marafino.
“Isso causaria uma angústia mental/emocional significativa. Podem sentir que suas vidas estão paralisadas ou atrasadas e não sabem quando podem 'retomar suas vidas'”, disse.
Sophia Swinford, fundadora da Catholic Mental Health, uma organização sem fins lucrativos que visa aumentar a conscientização e o acesso a recursos de saúde mental para católicos, disse à CNA que está preocupada que o estigma em torno do suicídio impeça que as pessoas, principalmente as de fé religiosa, obtenham ajuda.
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“É irônico, 'estigma' vem de uma palavra que se refere a uma marca ou marca em um escravo, e é dessa palavra que obtemos 'estigmas'. Portanto, talvez seja precisamente o 'estigma' em torno ao sofrimento dessas pessoas o que deveria deixar claro que estamos chamados a servir a Cristo neles”, disse Swinford.
Swinford chamou as taxas de suicídio e de ideação suicida de "fracasso social".
"Nós, como sociedade, falhamos com essas pessoas, e é hora de começarmos a discernir seriamente como podemos mudar isso", disse.
Tanto Tighe como Marafino acreditam que é importante se comunicar durante esse tempo.
“Precisamos falar entre nós e ver como as pessoas estão. Vivemos em uma época na qual temos tecnologia para estar em contato constante entre nós”, afirmaram.
A espiritualidade também desempenha um papel na saúde mental.
As pessoas precisam rezar umas pelas outras como se tudo dependesse disso”, disse Tighe. Também sugeriu que as pessoas que enfrentam o estresse reservem um tempo para "fazer uma pausa, respirar, rezar, meditar" e tomar nota de seus sentimentos sem julgar.
Tighe sugeriu que tomar um descanso dos meios e de outros entornos que também aumentam a ansiedade é importante.
"Lembre-se de fazer pausas no conteúdo perturbador", acrescentou Tighe.
“As redes sociais realmente funcionam contra nós. Se estamos tentando trabalhar a nossa ansiedade, devemos estar atentos ao impacto que ela tem sobre nós e fazer pausas quando necessário”, concluiu.
Publicado originalmente em Catholic News Agency. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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