Em 5 de novembro de 2015, o rompimento das barragens Fundão e Santarém gerou um mar de lama e causou grande destruição a Bento Rodrigues e outros distritos; mas, em meio a tudo isso, a Capela de Nossa Senhora das Mercês resistiu e agora foi tombada em caráter definitivo pelo Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) de Minas Gerais.

Em reunião on-line no último dia 13 de agosto, o Conep foi favorável ao tombamento definitivo da Capela de Nossa Senhora das Mercês, em Bento Rodrigues. Esse reconhecimento já tinha sido aprovado em 2018, mas agora foi inscrito nos Livros do Tombo de Belas Artes (II) e Patrimônio Histórico (III) do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG).

“Situada em cota elevada no povoado de Bento Rodrigues, atingido pelo rompimento da Barragem de Fundão em 2015, a Capela das Mercês foi uma das poucas edificações não afetadas pelo desastre”, ressalta o Iepha.

Capela de Nossa Senhora das Mercês em meio ao lamaçal do rompimento da barragem / Foto: Iepha

O rompimento das barragens em 2015 deixou 19 mortos e seus rejeitos causaram também grande destruição ao longo da Bacia do Rio Doce. Na época, o templo dedicado ao padroeiro da comunidade, São Bento, foi totalmente destruído.

Assim, indica Iepha, após o episódio, a Capela de Nossa Senhora das Mercês “passou de capela secundária à principal edificação de uso comunitário do local, onde acontecem reuniões não só religiosas, mas também festivas e sociais”.

Em declarações ao site ‘Estado de Minas’, o arquiteto Leônidas Oliveira, secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e também presidente do Conep, declarou que esta “é uma decisão que transcende o ato, pois representa não só o reconhecimento de um patrimônio importante, como o respeito pelas pessoas que viveram ali e por tudo o que aconteceu a elas”.

O tombamento inclui a mata no entorno do templo, garantindo proteção para o bem e impedindo futuras ocupações. Como indica o Iepha, a implantação desta capela “apresenta notável harmonia com a morfologia da paisagem e a capela pode ser interpretada como símbolo de resistência e da capacidade de resiliência da comunidade”.

A construção da Capela de Nossa Senhora das Mercês não possui uma datação precisa, mas estimada entre os anos de 1750 e 1815. Segundo Iepha, o templo, provavelmente, foi erguido após a criação da Irmandade das Mercês no povoado, no âmbito da então ermida principal do local, a antiga Capela de São Bento.

A arquitetura do templo “segue um tipo tradicional de capelas das Minas setecentistas e oitocentistas, em composição singela com três volumes descendentes da nave, capela-mor e sacristia, fachada com porta central encimada por duas janelas e óculo, estrutura de madeira sobre baldrames de pedra, vedações de adobes, coberturas em telhas cerâmicas”.

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“Internamente, os elementos de talha são de boa qualidade e possuem linguagem comum e harmoniosa entre si. Há um cemitério anexo, elemento fortemente associado às associações religiosas mercedárias”.

Fé e solidariedade em meio ao lamaçal

Logo após o rompimento das barragens, em 2015, o então Arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lyrio da Rocha, publicou uma nota na qual desejava que “a fé nos aqueça a esperança e nos estimule a solidariedade para diminuir a dor que é de todos os marianenses e que deixa enlutados este município e o Estado de Minas Gerais”.

“Exortamos nossas comunidades a prestarem sua solidariedade às vítimas, acolhendo-as, doando alimentos e roupas, confortando-as, oferecendo-lhes suas preces”, solicitou o Arcebispo, que foi atendido pelas comunidades que se mobilizaram para ajudar os atingidos pela tragédia tanto com orações como com doações.

Além disso, em meio ao lamaçal alguns fatos reforçaram ainda mais a fé da população, como um quadro de Santa Rita de Cássia, que permaneceu pendurado em uma parede cortada por rachaduras e um pouco acima da marca da lama. A casa em que estava foi quase toda destruída.  

O quadro da padroeira das causas impossíveis foi encontrado em uma casa no segundo distrito mais devastado pelo rompimento das barragens, Paracatu de Baixo. A residência quase foi abaixo, o telhado ficou dependurado, as paredes trincadas e a lama chegou à altura do queixo.

“É impressionante como só sobrou o quadro. É uma mensagem de Deus de que nossa fé não foi destruída pela lama”, disse ao ‘Estado de Minas’ o proprietário do imóvel, o lavrador Raimundo Gonçalves, de 48 anos.

Outro episódio que gerou comoção foi o vídeo de uma borboleta, em cujas asas é possível observar uma imagem que remete à padroeira do país, Nossa Senhora Aparecida. Segundo internautas, a gravação teria sido feita por um bombeiro, que ajudava na reconstrução do distrito de Bento Rodrigues.

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