Vaticano, 30 de set de 2020 às 16:00
Gianluigi Torzi, um empresário italiano, forneceu informações detalhadas aos investigadores do atual escândalo financeiro no Vaticano, segundo informam meios internacionais. Esta cooperação vem após a renúncia do Cardeal Angelo Becciu como prefeito da Congregação para as Causas dos Santos e aos Direitos do cardinalato, e depois que o Papa Francisco nomeou um novo promotor de justiça para fortalecer o caso.
Segundo já informou CNA, agência em inglês do Grupo ACI, Torzi foi preso por investigadores do Vaticano em junho, acusado de "extorsão, peculato, fraude agravada e autolavagem".
Na segunda-feira, o jornal italiano La Repubblica informou que, após sua prisão, Torzi passou três dias com as autoridades do Vaticano explicando os detalhes do caso e que as autoridades italianas estão agora colaborando com o Vaticano para rastrear várias centenas de milhões de euros dos fundos do Vaticano.
O Vaticano também informou, na segunda-feira, que o Papa Francisco nomeou um advogado italiano e professor de direito empresarial para trabalhar como promotor de justiça, em meio a algumas expectativas de que o Cardeal Becciu e alguns de seus colegas anteriores na Secretaria de Estado pudessem ser julgados criminalmente no Vaticano.
No mesmo dia, o site de notícias italiano Domani apresentou uma reportagem sobre uma cervejaria de propriedade de um irmão do cardeal Becciu que recebeu um empréstimo de 1,5 milhão de euros de um empresário africano ligado ao Purpurado e à Secretaria de Estado. O empréstimo foi feito pelo angolano Antonio Mosquito, um conhecido de muitos anos do Cardeal Becciu. O Purpurado serviu como Núncio Apostólico na Angola entre 2001 e 2009.
Em 2012, e já em Roma como Substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, o Cardeal Becciu fez parte das considerações da Secretaria para um investimento de 200 milhões de dólares na empresa de Antonio Mosquito, chamada Falcon Oil.
Depois de estudar sobre o investimento durante um ano, a Secretaria finalmente optou por investir o dinheiro com o italiano Raffaele Mincione, o que levou à polêmica compra de um imóvel em Londres e que deu início à atual investigação.
Mario Becciu, irmão do Cardeal, disse a Domani que o dinheiro se destinava a ajudar crianças com autismo. O Cardeal Becciu renunciou na quinta-feira após uma reunião não programada com o Papa Francisco, na qual o Santo Padre lhe disse que havia perdido a confiança nele e ordenou que renunciasse. Na manhã seguinte, o jornal italiano L'Espresso publicou uma nota na qual o cardeal era acusado de usar sua posição na Cúria do Vaticano para arrecadar fundos para sua própria família.
A renúncia do Cardeal Becciu ocorre depois de mais de um ano de investigação da CNA e de outros meios de comunicação sobre os escândalos financeiros em torno do Cardeal e da Secretaria de Estado do Vaticano, onde serviu como substituto por quase uma década até ser nomeado Cardeal e prefeito da Congregação para as Causas dos Santos em 2018.
Muitas das notícias surgiram a partir dos investimentos polêmicos da Secretaria de Estado -realizados através do italiano Raffaele Mincione, um sócio de Torzi- incluindo a compra da propriedade de Londres por centenas de milhões de dólares.
Além da prisão de Torzi, em junho, a polícia italiana emitiu, a pedido dos promotores da justiça do Vaticano, um mandado de busca e apreensão para Mincione em julho.
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Na busca foram apreendidos celulares e tablets. Mincione disse várias vezes que não fez nada de errado e, no início deste ano, entrou com uma ação contra s Secretaria de Estado em um tribunal do Reino Unido, pedindo a um juiz que estabeleça que ele agiu de boa fé em suas negociações com o Vaticano.
Na segunda-feira, os advogados da família do Cardeal Becciu emitiram um comunicado à imprensa no qual afirmam que apresentaram denúncias oficiais por “calúnia e difamação agravada” de seus clientes e pelo “vazamento ilegal de informação e documentos confidenciais” aos meios.
O comunicado não fez nenhuma menção específica a qualquer meio de comunicação ou a quem apresentou as denúncias.
Desde outubro, os investigadores do Vaticano realizaram vários mandados de busca e apreensão em diferentes dicastérios relacionados com as propriedades de Londres e vinculados aos investimentos. Os investigadores fizeram a busca nos escritórios da Secretaria de Estado e da Autoridade de Inteligência Financeira (AIF), o órgão de supervisão das finanças do Vaticano, apreendendo computadores, telefones e, inclusive, suspendendo vários funcionários.
Mais tarde, os investigadores realizaram a busca na casa e nos escritórios de Mons. Alberto Perlasca, que trabalhou com o Cardeal Becciu e com a Secretaria de Estado.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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