HAVANA, 2 de out de 2020 às 09:23
Sacerdotes da Ordem dos Mercedários disseram à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) que sua missão em Havana (Cuba) poderia terminar se não superassem em breve a grave crise econômica que enfrentam, e que foi agravada pelos danos que sofreu o templo e a casa paroquial onde residem após o tornado devastador que atingiu a cidade no ano passado.
Em 27 de janeiro de 2019, um tornado que durou 16 minutos e apresentou ventos de mais de 300 quilômetros por hora, varreu 20 quilômetros e meio de largura de Havana. O fenômeno deixou quatro mortos e vários danos em vários edifícios, incluindo a paróquia de Jesús del Monte a cargo de cinco sacerdotes missionários mercedários.
A igreja, localizada no morro Jesús del Monte, é um "lugar emblemático" para Havana "por ter testemunhado revoltas e a defesa heroica da cidade contra as invasões estrangeiras", assinalou ACN. Além disso, é patrimônio local por ser o primeiro templo construído "fora dos muros" da cidade.
Pe. Rodolfo Rojas, sacerdote da Ordem Mercedária, disse à ACN que a igreja ainda mantém "registros batismais de 1689" e que "tudo aqui gira em torno do templo". Ele explicou que os moradores do bairro Diez de Octubre costumam ir à paróquia para desenvolver suas atividades culturais e as crianças da região costumam visitá-la para brincar.
Por sua vez, o Pe. Gabriel Ávila Luna disse à ACN que, embora os furacões sejam comuns em Havana, nunca em 500 anos ocorreu na cidade um fenômeno tão devastador a ponto de colocar suas vidas em risco de morte.
“Parecia um bombardeio, soava como um tiroteio e realmente pensamos que íamos morrer”, disse o Pe. Rodolfo Rojas à ACN.
Como recorda o Pe. Ávila, supervisor da comunidade, quando ocorreu o incidente havia apenas três sacerdotes morando na casa paroquial, os outros dois ingressaram na missão depois. “Naquela noite eu estava com frei Rodolfo, porque o outro frade estava fora. Acho que foi providencial que ele não estivesse lá porque seu quarto foi o mais afetado”, afirmou.
A casa onde moram os frades sofreu danos nas janelas e portas, e os danos foram tão terríveis que “ainda existem pedaços de azulejos de casas vizinhas incrustados nas paredes do templo e do convento”. Além disso, alguns pisos estão afundando e na época das chuvas a água escorre para todos os lados, disse o Pe. Ávila.
“A igreja e a casa paroquial continuam em estado deplorável e a deterioração é cada vez maior”, lamentou o sacerdote. Aos domingos, reunimos os fiéis fora do templo, mas "em épocas de chuva isso não é possível", por isso é extremamente urgente repará-lo, indicou.
Em resposta, a ACN se comprometeu em restaurar o templo nos próximos meses. Segundo Eduardo Andrés, responsável pelo projeto de reconstrução, “a cobertura colonial de madeira e as paredes de alvenaria sofreram danos irreparáveis e quase todos os bancos, estátuas e outros objetos foram destruídos ou desapareceram pela força do vento que abriu o grande portão da entrada principal".
Da mesma forma, “a cruz de ferro localizada na torre sineira foi arrancada abruptamente e caiu como um projétil sobre a parte do templo localizada perto do coro, o que deixou uma rachadura imensa”, disse ele.
O furacão não causou apenas danos materiais, mas também fez com que os vizinhos, inclusive os sacerdotes, vivessem com medo de que “algo assim volte a acontecer”, principalmente na época dos ciclones e furacões que se aproximam no Caribe.
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Pe. Ávila não sente medo apenas disso, mas aos 29 anos está muito preocupado, porque como superior de sua comunidade em Cuba, não sabe como resolver os outros problemas que têm e teme que a crise econômica que estão passando possa afetar a permanência de sua missão em Cuba.
“Chegamos à ilha em 2012, depois de 125 anos de ter saído de Cuba. Frei Rodolfo foi um dos primeiros a professar depois de nossa chegada. Vivemos da providência: alimentação, remédios ou despesas pessoais, tudo depende da generosidade dos fiéis”, frisou.
“Não é tanto por nós, mas porque temos três seminaristas, jovens que querem entrar na nossa comunidade, mas que estão em casa devido à deterioração do nosso convento”, acrescentou.
O projeto da ACN promove que se ofereçam Missas em paróquias de missão pelos benfeitores que contribuem economicamente para sustentar a Igreja local, e embora os sacerdotes mercedários tenham recebido ajuda em momentos de grande desespero, o apoio ainda é insuficiente para evitar que deixem a ilha.
“Foi uma gotinha d'água que agradecemos muito, mas as coisas em Cuba estão muito mal”, disse o Pe. Ávila com impotência e tristeza, segundo a ACN. “Nossa presença na ilha está em perigo”, porque a falta de recursos econômicos impede “que possamos manter a missão”, disse.
“Como não temos economia, teríamos que emigrar para o México [...]. Se não acontecer um milagre, teremos que abandonar Cuba. Seria uma grande tristeza porque acredito que, por causa de nosso carisma redentor, nossa presença é necessária para os habitantes daqui. Seria muito triste ter que partir novamente, mas não sei como evitar o fechamento desta grande missão”, concluiu.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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