Vaticano, 5 de out de 2020 às 13:00
O Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, defendeu neste sábado o polêmico acordo do Vaticano com a China, alegando que todos os papas recentes esperavam tal acordo sobre a nomeação de bispos.
O Purpurado confirmou no dia 3 de outubro, em Milão (Itália), que a Santa Sé está comprometida em renovar o acordo, que expira em 22 de outubro, lembrando que é "apenas um ponto de partida" para melhorar as relações entre os dois estados.
“Para que o diálogo possa dar resultados mais consistentes é necessário continuá-lo. Da parte da Santa Sé, portanto, deseja-se que o Acordo seja prorrogado, ad experimentum [provisoriamente] como tem sido até agora, para verificar sua utilidade”, disse o Cardeal durante um evento para marcar o 150º aniversário da presença do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras (PIME) na China.
Vatican News informou que o Cardeal Parolin reiterou o que já havia escrito em fevereiro o Cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio dos Cardeais, que Bento XVI aprovou o projeto de acordo sobre as nomeações de bispos que "só poderia ser assinado em 2018".
O Secretário de Estado do Vaticano abordou o que chamou de "mal-entendidos" sobre o acordo, que foi criticado tanto dentro como fora da Igreja. Os críticos argumentam que representa uma traição aos católicos "clandestinos" que permaneceram leais ao Papa Francisco apesar da perseguição e que impediu o Vaticano de denunciar abusos flagrantes dos direitos humanos na China.
A República Popular da China foi o tema de conversações na semana passada entre o Cardeal Parolin e o Secretário de Estado dos Estados Unidos Mike Pompeo, que argumentou que o acordo falhou em proteger os católicos da China de uma ofensiva contra os crentes religiosos sob o Presidente Xi Jinping.
O Purpurado disse: “Surgiram alguns mal-entendidos. Muitos deles nascem da atribuição ao Acordo Provisório entre a Santa Sé e a República Popular da China de objetivos que tal Acordo não tem. Ou da ligação ao Acordo de acontecimentos relativos à vida da Igreja Católica na China que lhe são estranhos. Ou ainda a ligação com questões políticas que nada têm a ver com este Acordo”.
"Recordo mais uma vez - e sobre esse ponto a Santa Sé nunca deixou espaço para mal-entendidos ou confusões - que o Acordo de 22 de setembro de 2018 diz respeito exclusivamente à nomeação dos bispos", disse.
Reconheceu que havia "muitos outros problemas" enfrentados pela Igreja na China, que compreende mais de 10 milhões de católicos.
“Mas não foi possível enfrentá-los todos juntos e sabemos que o caminho para uma plena normalização ainda será longo, como Bento XVI já previa em 2007 [ano em que escreveu uma carta aos católicos chineses]. No entanto, a questão da nomeação dos bispos é de particular importância. É de fato o problema que mais tem feito sofrer a Igreja Católica na China nos últimos sessenta anos”, afirmou.
Um acordo sobre as nomeações era vital para evitar novas ordenações episcopais ilícitas, disse o Cardeal, explicando que o Vaticano decidiu "enfrentar e resolver definitivamente este delicado problema de uma vez por todas".
“Mas a experiência de tantas décadas mostrava (e mostra) que tal solução passava (e passa) necessariamente por um acordo entre a Santa Sé e as autoridades da República Popular da China. Por esta razão, a Santa Sé sublinhou reiteradamente que o objetivo do Acordo é antes de tudo eclesial e pastoral”, disse.
Afirmou que a Igreja esperava que agora pudesse "definitivamente" evitar futuras consagrações ilícitas, e ressaltou que hoje todos os bispos chineses estão em comunhão com o Papa.
O objetivo pastoral, continuou, é "ajudar as Igrejas locais a desfrutarem de condições de maior liberdade, autonomia e organização, de tal forma que possam se dedicar à missão de anunciar o Evangelho e contribuir para o desenvolvimento integral da pessoa e da sociedade".
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Em seu discurso de abertura na conferência intitulada “Outra China. Tempo de crise, tempo de mudança”, o Cardeal Parolin traçou a história das relações da Igreja Católica com a China, a partir da missão do jesuíta italiano Matteo Ricci no século XVI.
Assinalou que, em 1951, o ano em que a República Popular Comunista da China cortou relações com a Santa Sé, as autoridades chinesas e os líderes da Igreja tentaram forjar um acordo que permitiria aos católicos locais continuar reconhecendo o Papa como sua autoridade religiosa, enquanto seguissem as ordens do governo.
“Isso mostra que, desde o tempo de Pio XII, a Santa Sé sente a necessidade do diálogo, ainda que as circunstâncias da época o tornavam muito difícil”, disse.
Mas depois de quatro projetos de um possível acordo, a tentativa foi abandonada, gerando "desconfiança recíproca". "É um fracasso que marcou toda a história subsequente", acrescentou.
Apenas décadas depois o diálogo pôde recomeçar, disse o Cardeal Parolin, lembrando uma viagem exploratória à China do Cardeal francês Roger Echegaray, em 1980.
“Desde então, começou um caminho que, em meio a altos e baixos, conduziu ao presente”, disse.
O cardeal acrescentou que viu sinais de que o acordo estava começando a superar as divisões entre os católicos pertencentes às igrejas "clandestinas" e sancionadas pelo Estado da China, o que enfatizou que era um objetivo fundamental do acordo.
O acordo também buscou consolidar “um horizonte internacional de paz, neste momento em que vivemos tantas tensões a nível global”.
O Cardeal Parolin concluiu que o acordo seguia uma linha que “desde Bento XVI conduz ao Papa Francisco, uma linha mais voltada para o futuro do que para o presente, mais para a Igreja que deve crescer na China do que para as disputas de ontem e hoje”.
Publicado originalmente em CNA. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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