REDAÇÃO CENTRAL, 15 de out de 2020 às 06:00
Santa Teresa D’Ávila (1515-1582), a primeira mulher Doutora da Igreja, relatou em seus escritos uma das experiências místicas que marcou profundamente seu coração. Este fato foi tão impactante que a levou a fazer um voto especial a Deus que a impulsionou em suas reformas, fundações e caminho de santidade.
A santa e escritora mística conta que certa vez viu á sua esquerda um anjo em forma humana. Era de baixa estatura e muito belo, seu rosto reluzia e deduziu que devia ser um querubim, um dos anjos de mais alto grau.
“Vi que trazia nas mãos um comprido dardo de ouro, em cuja ponta de ferro julguei que havia um pouco de fogo. Eu tinha a impressão de que ele me perfurava o coração com o dardo algumas vezes, atingindo-me as entranhas. Quando o tirava, parecia-me que as entranhas eram retiradas, e eu ficava toda abrasada num imenso amor de Deus”, descreveu Santa Teresa.
“A dor era tão grande que eu soltava gemidos, e era tão excessiva a suavidade produzida por essa dor imensa que a alma não desejava que tivesse fim nem se contentava senão com a presença de Deus”.
“Não se trata de dor corporal; é espiritual, se bem que o corpo também participe, às vezes muito. É um contato tão suave entre a alma e Deus que suplico à Sua bondade que dê essa experiência a quem pensar que minto”, explicou a Doutora da Igreja (O Livro da Vida 29,13).
Este tipo de vivência espiritual é chamado na Igreja como “transverberação”, que é a experiência mística de ser transpassado no coração causando uma grande ferida.
Mais tarde, buscando responder a este presente divino, Santa Teresa fez o voto de fazer sempre o que lhe parecesse mais perfeito e agradável a Deus. Foi assim que no resto de sua vida, a reformadora e fundadora carmelita se esforçou por cumprir perfeitamente este juramento.
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Quando a santa partiu para a Casa do Pai, a autópsia revelou que no coração de Santa Teresa estava a cicatriz de uma grande e profunda ferida. Na família carmelita, a festa da “transverberação” de Santa Teresa de Jesus é celebrada no dia 26 de agosto.
Como legado, a Doutora da Igreja também deixou plasmada sua experiência mística na seguinte poesia de amor, intitulada “Meu Amado é para mim”:
Entreguei-me toda e assim
Os corações se hão trocado
Meu Amado é para mim,
E eu sou para o meu Amado.
Quando o doce Caçador
Me atingiu com sua seta,
Nos meigos braços do Amor
Minh'alma aninhou-se quieta.
E a vida em outra, seleta,
Totalmente se há trocado:
Meu amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.
Era aquela seta eleita
Ervada em sulcos de amor,
E minha alma ficou feita
Uma com o seu Criador.
Já não quero eu outro amor,
Que a Deus me tenho entregado:
Meu Amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.
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— ACI Digital (@acidigital) 11 de maio de 2018