ISTAMBUL, 9 de out de 2020 às 11:37
A histórica catedral armênia de Ghazanchetsots (São Salvador) na cidade de Shushi, localizada na região de Nagorno Karabakh (sudeste da Armênia), cuja soberania é disputada entre a Armênia e o Azerbaijão, foi destruída como resultado de dois bombardeios que deixaram várias pessoas feridas.
Os bombardeios ainda não foram reivindicados por nenhuma das partes em conflito pelo controle deste território, mas o governo armênio acusou o exército do Azerbaijão, algo que o Ministério da Defesa deste país nega.
The Ghazanchetsots (Holy Saviour) Cathedral, an iconic site for the Armenian Apostolic Church, came under rocket fire as fighting raged between Armenian and Azerbaijani forces over the disputed region of Nagorno-Karabakh https://t.co/gj3mrlZF5R
— AFP news agency (@AFP) October 8, 2020
A cidade de Shushi, onde fica a catedral, fica em um local isolado, longe de qualquer área estratégica que pudesse ser considerada um alvo militar. Esse fato seria a prova de que a destruição do templo ocorreu por motivos religiosos e não militares.
De acordo com a agência de notícias armênia Zartonk Media, o ministério da defesa armênio confirmou a autoria do exército do Azerbaijão. Ghazanchetsots é a sede da Diocese de Artsakh, da Igreja Apostólica Armênia.
A sua construção data dos anos 1868 e 1887, embora tenha sido consagrada um ano depois. Já havia sofrido danos significativos após a queda da União Soviética e a guerra de independência da República de Artsakh (1991-1994), nome do estado estabelecido em Nagorno Karabakh e reconhecido apenas pela Armênia.
Nesse conflito, as tropas do Azerbaijão ocuparam o templo e o usaram como depósito de armas. Após aquela primeira guerra, que terminou com vitória armênia, a catedral foi restaurada e consagrada novamente em 1998.
Há uma semana, a Armênia e o Azerbaijão lutam militarmente pela região de Nagorno Karabakh (conhecida pelos armênios como Artsakh), um território montanhoso de maioria armênia, mas cuja soberania é reconhecida pelo Azerbaijão.
O Azerbaijão, um país com maioria muçulmana xiita aliada da Turquia, iniciou nos últimos dias uma ofensiva militar para expulsar o exército armênio, um país com maioria cristã ortodoxa.
Embora inicialmente o conflito seja político e não tenha nada a ver com religião, o componente religioso começa a ganhar cada vez mais relevância, e o ataque à catedral seria uma prova disso.
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A guerra adquiriu um componente internacional, embora a atitude da Turquia (aliada do Azerbaijão) e da Rússia (aliada da Armênia) seja diferente.
A Turquia apoia abertamente o Azerbaijão, enquanto a Rússia até agora se limitou a pedir o diálogo sem se envolver diretamente no conflito.
Militarmente, o Azerbaijão é superior à Armênia, pois possui armas e apoio logístico da Turquia e do Irã. O papel da Turquia está sendo essencial. Este país, a meio caminho entre a Ásia e a Europa, é a grande potência muçulmana do Mediterrâneo oriental e, junto com o Irã, do Cáucaso.
Seu presidente, Recep Tayyip Erdogan, é um político nacionalista e islâmico que embarcou o seu país em uma corrida militarista destinada a aumentar sua hegemonia no Oriente Médio e no Mediterrâneo oriental e a recuperar o poder nos territórios onde, no passado, estava o Império Otomano.
Esta estratégia da Turquia, conhecida na geopolítica como "neotomanismo", levou a Turquia a enfrentar a Grécia pelo controle dos campos de petróleo no fundo do Mediterrâneo em águas que a Grécia reivindica como suas.
Também levou o exército turco a ocupar áreas do norte da Síria e interferir na guerra civil da Líbia, onde o Egito também tem interesses.
Por isso, a ofensiva do Azerbaijão contra a Armênia está circunscrita à estratégia do expansionismo turco, que busca assim se tornar a potência hegemônica do Cáucaso. A esse respeito, o governo armênio acusou a Turquia de enviar armas ilegais (como bombas coletivas) e mercenários sírios, muitos deles jihadistas, para lutar em Nagorno Karabakh.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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