MOSSUL, 12 de nov de 2020 às 08:55
A igreja dominicana de Nossa Senhora do Ora é uma das mais emblemáticas para a comunidade cristã de Mossul, no norte do Iraque.
O templo, cujo nome oficial em árabe é al-Saa'a, está localizado na cidade velha de Mossul, um bairro histórico caracterizado por suas tradicionais boas relações entre culturas e religiões: cristãos, yazidis e muçulmanos sunitas e xiitas; árabes, caldeus e curdos. Um diálogo em cuja construção se destacaram os frades dominicanos.
No entanto, esse frágil equilíbrio foi quebrado com a invasão e ocupação da cidade por terroristas do Estado Islâmico no verão de 2014.
A igreja, como grande parte da histórica cidade de Mossul, foi destruída pelos jihadistas e pelos combates durante a ofensiva do exército iraquiano para retomar a cidade.
Agora, desde abril passado, a Unesco iniciou as obras de restauração da igreja de al-Saa'a e da cidade velha de Mosul e, mais uma vez, os dominicanos estão participando ativamente para que esta reconstrução não se limite ao material, mas também pressuponha que se restabeleça as pontes entre as comunidades culturais e religiosas.
“São Domingos e o Papa nos enviaram a esta terra para construir relações com as Igrejas locais e com as culturas locais. Nosso papel é ajudar as pessoas, não mudá-las, nosso objetivo é enriquecê-las”, declarou a ACI Prensa – agência em espanhol do Grupo ACI – Padre Oliver Poquillon, representante dos dominicanos em Mossul.
Entre os principais países que financiam este projeto da Unesco estão os Emirados Árabes Unidos alinhado com a Declaração sobre a Fraternidade Humana assinada pelo Papa Francisco e pelo Grande Imã de Al Azhar Ahmed bin-Tayyeb, em 4 de fevereiro de 2019 .
O programa da Unesco também prevê a restauração da catedral siro-católica de Tahera, em cujas ruínas foi celebrada uma histórica Missa pela Paz em 28 de fevereiro de 2018.
Pe. Poquillon explicou que, “desde o fim da ocupação do Estado Islâmico, estão a ser feitas obras de reconstrução da cidade velha. No último mês foram feitas melhorias e, agora, água e luz voltaram às ruas da cidade”.
O objetivo do projeto, destacou, não é apenas a recuperação do património histórico-cultural, mas sim "reunir a comunidade, oferecendo uma nova oportunidade às pessoas que trabalham juntas em um projeto".
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“O primeiro passo após a ocupação do Estado Islâmico é restabelecer a confiança. São pessoas de diferentes comunidades que estão redescobrindo, trabalhando juntos, que amam, por exemplo, a mesma música ”.
A igreja de Nossa Senhora do Ora pertence à Província Dominicana da França. O templo foi sede da pregação em vários idiomas. Por exemplo, em Mossul os cristãos falam árabe, não aramaico, mas em Qaraqosh e Alqosh, falam surat, uma língua vernácula do aramaico.
Foi precisamente em Mossul, uma cidade entre caminhos, que os dominicanos desenvolveram o primeiro alfabeto da região. Neste alfabeto também se imprimiu a primeira gramática curda.
A parte do projeto que avança mais rapidamente é a da formação cultural, assinalou Pe. Poquillon, porque “os jovens acadêmicos têm sede de cultura e estão redescobrindo as igrejas de Mossul. Eles não tinham visto a cidade de Mossul como era antes e estão sedentos por descobri-la. Estamos, passo a passo, redescobrindo a documentação que temos”.
Quanto à parte material, está a sendo preparada a abertura de um laboratório para aprender as técnicas tradicionais de construção e escultura típicas de Mossul. Metade da população de Mossul é de jovens entre 20 e 30 anos que precisam ser formados e redescobrir sua própria história e capacidade técnica.
Publicado originalmente em ACI Stampa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.
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