MOSSUL, 14 de nov de 2020 às 07:00
Cerca de duzentas famílias de cristãos deslocados que fugiram de Mosul e da planície de Nínive (Iraque) há 6 anos devido à violência do Estado Islâmico (ISIS), estão prestes a retornar para suas casas.
Em 11 de novembro, a agência vaticana Fides informou que o governador da província de Nínive, Najim al Jubouri, confirmou que cerca de noventa famílias cristãs já estão retornando a Mosul, no norte do Iraque, e estão recuperando a posse de suas casas, tanto no centro como no leste da cidade velha. As outras famílias, cerca de cem, fariam isso nas próximas semanas.
As famílias deslocadas que retornam poderão ocupar suas casas novamente depois de que se restaurem as condições de segurança adequadas de suas moradias e os serviços urbanos necessários.
Entre junho e agosto de 2014, centenas de milhares de cristãos foram forçados a fugir de Mosul e de grande parte da província de Nínive quando o território foi conquistado por milícias jihadistas do autoproclamado Estado Islâmico (ISIS).
Durante esse tempo, o regime jihadista sujeitou os habitantes de ambos os territórios à rigorosa lei da sharia, que incluía conversões e casamentos forçados, execuções em massa, tráfico de seres humanos e venda de mulheres como escravas sexuais. Durante este período, terroristas muçulmanos também bombardearam igrejas e assassinaram sacerdotes.
Segundo assinalou ACN em 2019, "em 2014 havia cerca de 15 mil fiéis de diferentes Igrejas na cidade [Mosul]: caldeus, siro-ortodoxos, siro-católicos e algumas famílias armênias". Explicou que o baixo número de habitantes também foi causado pela fuga de muitas pessoas em 2008, após o assassinato do então Arcebispo de Mosul, Dom Paul Faraj Rahho, e do Pe. Ragheed, fato que teve como consequência o fechamento de muitas igrejas caldeias.
A situação provocou o êxodo de centenas de milhares de cristãos e outras minorias religiosas, que se refugiaram na região autônoma do Curdistão iraquiano e, em particular, nos subúrbios de Erbil, sua capital. Aqueles que não conseguiram fugir enfrentariam a morte se não concordassem em se converter ao Islã ou pagar uma taxa de submissão.
Em 9 de julho de 2017, após três anos de combates envolvendo o exército iraquiano, as forças curdas e a coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos, Mosul foi declarado livre do controle do ISIS. Em setembro, as autoridades locais anunciaram o retorno de 1.400 famílias cristãs refugiadas às suas áreas de origem, principalmente localizadas na planície de Nínive.
Embora o novo retorno de famílias cristãs deslocadas seja “um sinal reconfortante”, a maioria não parece ter qualquer intenção de voltar para casa, mas sim de permanecer alojada em Erbil, na região de Dohuk ou continuar morando no estrangeiro para onde conseguiram emigrar, afirma a Agência Fides.
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Para o Pe. Amanuel Adel Kloo, sacerdote que voltou a Mosul em 2017, as pessoas ainda resistem em voltar porque “ainda têm medo” por causa da violência que sofreram. “No entanto, quando a igreja e os outros edifícios estejam abertos, as pessoas se sentirão seguras... e muitas pessoas voltarão”, disse à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre em 2019.
Desde abril deste ano, a Unesco iniciou os trabalhos de restauração da Igreja Dominicana de Nossa Senhora da Hora, cujo nome oficial é Al-Saa’a e é uma das mais emblemáticas para a comunidade cristã de Mosul. O projeto também inclui a restauração da catedral siro-católica de Tahera.
“O primeiro passo após a ocupação do Estado Islâmico é restaurar a confiança. São pessoas de diferentes comunidades que estão redescobrindo, enquanto trabalham juntas, que amam, por exemplo, a mesma música”, disse o Pe. Oliver Poquillon à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, em novembro.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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— ACI Digital (@acidigital) November 13, 2020