Buenos Aires, 24 de nov de 2020 às 15:48
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, disse que espera que o Papa Francisco não fique chateado com o seu projeto de legalizar o aborto, porque, afirmou, embora se declare católico, precisa resolver um “problema da saúde pública argentina”.
Fernández fez essas declarações no programa argentino Corea do Centro, em 22 de novembro.
O mandatário assegurou: “Eu sou católico, mas tenho que resolver um problema da sociedade argentina. Valéry Giscard d'Estaing foi o presidente da França que aprovou o aborto na França, e em seu momento o Papa de então lhe questionou, como ele sendo católico estava promovendo isso, e a resposta foi ‘eu governo para muitos franceses que não são católico e tenho que resolver um problema da saúde pública’’”.
“Acontece mais ou menos a mesma coisa comigo... Por mais católico que eu seja, no tema do aborto, parece-me que a discussão é outra, não concordo muito com a lógica da Igreja sobre esse tema”, disse Fernández.
Quando perguntado se “o Papa ficará muito chateado com isso?” Alberto Fernández respondeu: “Espero que não, porque ele sabe o quanto o admiro, o quanto o valorizo e espero que ele compreenda que tenho que resolver um problema da saúde pública argentina. Finalmente, o Vaticano é um estado dentro de um país chamado Itália, onde o aborto é permitido há muitos anos. Então, espero que entenda".
“Isso não é contra ninguém, é para resolver um problema; e que a lei do aborto, de legalização do aborto saia, não o torna obrigatório, e aqueles que têm suas convicções religiosas, todas muito respeitáveis, não estão obrigados a abortar”, disse ao justificar o seu projeto de lei.
Fernández apresentou o projeto para a legalização do aborto no dia 17 de novembro, o qual foi uma de suas promessas na campanha eleitoral.
Embora não se saiba a data do início da discussão, o texto deveria ser incorporado com o temário de sessões extraordinárias do Parlamento a partir de dezembro.
As discussões deveriam começar nas comissões de Legislação Geral, de Saúde e Ação Social, de Mulheres e Diversidades, e de Legislação Penal da Câmara dos Deputados e, em seguida, seguir para o Plenário. Se for aprovado - o que se conhece na Argentina como "meia sanção" -, entrará no Senado para ser debatido.
Em 2018, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei do aborto com 129 votos a favor, 125 contra e 1 abstenção. No entanto, após intenso debate, o Senado rejeitou o projeto em agosto por 38 votos contra 31, duas abstenções e uma ausência.
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?“El verdadero debate no es aborto sí o aborto no, es aborto en clandestinidad o aborto en un hospital público”. El presidente @alferdez en #CoreaDelCentro por @CanalNetAr. pic.twitter.com/oYYUrcLLho
— Alberto Fernández Prensa (@alferdezprensa) November 23, 2020
Durante a entrevista, Fernández disse que seu projeto teria os votos necessários para ser aprovado.
Para o presidente argentino, um "debate sério" não é "aborto sim ou aborto não", mas "em que condições os abortos são realizados" na Argentina. Fernández acusou os defensores da vida de quererem "que continuem ocorrendo abortos na clandestinidade". "Aqueles que dizemos ‘aborto sim’, queremos apenas que os abortos sejam feitos em condições sanitárias adequadas”, assegurou.
Depois que Fernández apresentou seu projeto de lei, várias organizações pró-vida anunciaram atividades em oposição à legalização do aborto. Da mesma forma, mais de cem legisladores e vereadores criaram a Rede de Legisladores pela Vida Argentina, para lutar a batalha jurídica em cada província e no Parlamento nacional.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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— ACI Digital (@acidigital) November 19, 2020