REDAÇÃO CENTRAL, 25 de nov de 2020 às 12:49
O missionário brasileiro Edegard Silva se disse “em estado de choque” ao relatar a destruição que testemunhou após ataque realizado por grupos armados à missão católica de Nangologo, em Moçambique.
A missão de Nangologo, no distrito de Muidumbe, é a segunda mais antiga da Diocese de Pemba. No dia 30 de outubro, foi atacada por terroristas que permaneceram no local até 19 de novembro. Este foi o segundo ataque sofrido pela missão, que também foi alvo dos terroristas em abril.
Em um telefonema à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) de Portugal, o missionário saletino indicou que este ataque de agora foi “de uma proporção muito maior do que em abril”.
Segundo ele, tudo foi destruído. “Para ter uma ideia, como eu saí rápido de lá, tudo [o que era] meu de três anos, coisa que eu trouxe da minha história de 34 anos de padre, foi tudo, tudo destruído. Tudo virou cinza. Todos os livros da secretaria, de batismo, de casamento, de crisma, livros de [uma] história de 100 anos da paróquia, foi tudo destruído. Tudo. Eles foram muito violentos desta vez…”.
“Você ver, de uma hora para a outra, tudo isso queimado… fiquei em estado de choque e, humanamente falando, chorei muito. Chorei muito ao ver tudo aquilo”, expressou.
Em uma mensagem anteriormente à Fundação ACN, o missionário contou que, após a chegada dos terroristas, a população fugiu para o mato. “Nós nos refugiamos em Pemba”, disse.
Após a saída dos terroristas, alguns responsáveis, “mesmo correndo perigo, foram até a Aldeia de Muambula e, com muita dificuldade conseguem ligar” para Pemba fazendo o relato da destruição.
O missionário relatou que “está tudo destruído… a casa onde residíamos transformou-se em cinzas… todos os equipamentos foram queimados”. “O templo onde fica a sede da Paróquia destruído… a sala da rádio comunitária queimada. A casa das irmãs destruída…”.
Entretanto, a destruição vai além dos bens materiais, o sacerdote chegou a falar em “massacre”. “Pelos caminhos, estão encontrando muitos corpos já em decomposição e que aconteceram massacres. As ações dos terroristas são violentas, muitas pessoas foram decapitadas, casas queimadas e derrubadas…”, lamentou.
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Razões religiosas e econômicas
No telefonema à Fundação ACN de Portugal, Pe. Edegard pontuou algumas questões que estão por trás dessa violência, como o fundamentalismo religioso e motivos econômicos.
“Destruíram a cruz, uma cruz que é histórica lá para o povo, destruíram o pequeno santuário com a imagem de Nossa Senhora de Fátima… dá para parecer que estão mesmo fazendo isso como uma ofensa para os cristãos”, salientou.
Entretanto, observou ainda que “isso é [apenas] uma das hipóteses, não é a única”, pois “se a gente assumir só o fundamentalismo religioso, [então] vai camuflar e esconder um dos motivos fortíssimos que é essa questão da riqueza dessa região, com o gás, o petróleo, a madeira, a grafite… Claro que essa questão econômica também está por trás”.
Estima-se que 500 mil pessoas estejam deslocadas em Cabo Delgado em consequência dos ataques de grupos armados que reivindicam pertencer ao Estado Islâmico. Além disso, calcula-se que mais de 2 mil pessoas tenham perdido a vida.
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— ACI Digital (@acidigital) November 17, 2020