MADRI, 29 de dez de 2020 às 06:00
Carlos e Cristina são um casal de Madri (Espanha), têm 8 filhos, o último deles nasceu com malformações graves, viveu 5 anos e nesse tempo nasceu no casal a vocação de cuidar das crianças com doenças terminais abandonadas para que na reta final de suas vidas possam sentir o amor da família.
O testemunho deste casal faz parte da série para YouTube "Contagiosos" produzida por Infinito + 1 e dirigida por Juan Manuel Cotelo.
¡Os presentamos nuestra 1ª serie para Youtube! ?
— INFINITO + 1 (@infinitomasuno) October 14, 2020
Esta gente tiene algo. Su mirada, su sonrisa, su voz… ¡transmiten paz! ?Su testimonio nos invita a vivir con + alegría + amor + fe + esperanza. Contagian luz entre tanta oscuridad. #Contagiosos Estreno Cap. 1 -> 21 OCT pic.twitter.com/OqITpBBBFH
Cristina explica que a chegada de seu oitavo filho, Pedro, mudou tudo. “Veio ao mundo com muitos problemas, tinha malformações em seus pulmões, coração, cérebro e não tinha olhos. A sua expectativa de vida era muito curta e cada dia de vida foi um presente, e assim o vivemos”,
Passaram longos períodos na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital e, segundo Cristina, nesse tempo pôde comprovar "que o amor cura".
Por fim, puderam levar o filho Pedro para casa e foi “o melhor momento”, porque “pôde estar com a família, rodeado dos beijos dos irmãos, que o adoravam”.
Carlos lembra como inseriram Pedro na rotina familiar, levavam-no todas as semanas para nadar, “apesar de ele ter traqueostomia, oxigênio e ventilação. Ele gostava. Também o levávamos ao mar no verão e para o parque da Eurodisney”.
Pedro morreu com 5 anos e meio. "Ele foi uma criança muito feliz, embora estivesse muito doente, mas raramente triste".
Cristina explica que durante as temporadas que passaram no hospital com o filho Pedro, descobriram que havia muitas crianças muito doentes que foram abandonadas pelos pais.
“Por isso, quando o Pedro estava na UTI, aproveitávamos e um de nós estava com o Pedro e o outro ia visitar essas crianças. Aí vimos que nasceu em nós a vocação de estar com essas crianças que precisavam ser hospitalizadas e que não tinham o amor dos pais. Tínhamos essa vocação e tínhamos que fazer mais”, afirma.
Assim conheceram a Casa Belém, onde vivem crianças com doenças graves e que estão sob os cuidados da Comunidade de Madri e depois de fazerem o curso necessário para se tornarem uma família de acolhida, acolheram Javier.
Esta criança “nasceu muito prematura, 27 semanas, teve um derrame cerebral, intervenções cardíacas… Desde o primeiro dia que o acolhemos, Javi começou a mudar. É um menino muito feliz e acaba de fazer 5 anos”.
Ao mesmo tempo, começaram a solicitar a acolhida de outra menina que ficou "em seus corações" quando a conheceram. "Ela tinha microcefalia, estava mais doente do que Javi e havia estado muito mal, quase a ponto de morrer”.
Carlos conta que no dia seguinte ao que acolheram esta pequena, ela ficou muito mal. Inicialmente pensaram que era um resfriado, mas depois tiveram que chamar os médicos. “Começou a ser tratada e pela noite piorou. Ao dia seguinte pela manhã, ela morreu. Pudemos disfrutar a Claudia por apenas três dias, mas esteve feliz conosco e com nossos filhos”, explica.
“Na noite em que ela ficou muito mal, a única coisa que pudemos fazer foi acompanhá-la, segurá-la nos braços, cantar suas canções, rezar com ela, mimá-la. E foi embora tranquilamente, como o anjinho que era”, destaca Carlos.
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“Na noite em que Claudia ficou tão doente, eu não tinha percebido, mas ela agarrou meu dedo. Em um momento em que fui me separar dela para pegar um remédio, ela apertou a minha mão como se estivesse dizendo “não se separe de mim”. Uma menina, que estando tão doente como estava, sabia que seu pai esta ali, que a amava e que não queria que me separasse dela”, recorda Carlos.
Além disso, explica que estão abertos “a que venham outras crianças. Não temos medo da morte, temos medo da dor que fica, principalmente da dor que isso causa aos nossos filhos, mas o sofrimento dos nossos filhos e o nosso é porque os amamos e se os amamos, cada criança percebe. Podem estar muito doentes e parecer que não sabem de nada, mas isso eles percebem”.
E enfatizam que “não há uma criança, por pior que esteja, que não perceba o amor e que não esteja melhor em uma família. Porque os cuidados que tinham na casa em que estavam são excelentes, extraordinários. Mas ter pais e irmãos é melhor. É um calor diferente e sem dúvida as crianças notam isso e para eles é a felicidade”.
Este casal explica que nestes pequenos veem “a imagem mais nítida de Jesus recém-nascido e de Jesus na Cruz. Porque são inocentes que sem ter feito nada de errado estão sofrendo. Colocar-se a seus pés é como quando a Virgem estava aos pés de Jesus na cruz. Poder aliviar as suas dores, dar-lhes a certeza de que lhes amamos, acalmá-los e acompanhá-los no momento da morte é o melhor”.
Carlos explica também que há quem viva a doença com “uma angústia terrível”, mas se for capaz “de transcender, e saber que a vida não acaba aqui. O que vai temer? A morte? Se morrer, vai para um lugar melhor, terá um santo no céu intercedendo por vocês. Doer, dói, mas não tem angústia”.
Por sua vez, Cristina destaca que, do ponto de vista da fé, “as experiências vividas foram maravilhosas” e lembra de uma época em que seu filho Pedro teve uma parada cardíaca em casa. Pensaram que era o momento de sua morte. Mas um de seus filhos mais velhos, que é socorrista, pediu para tentar reanimá-lo. O resto da família começou a rezar o terço.
“Terminamos de rezar o terço e meu filho, que não acreditava em Deus, me disse: ‘Mãe, continue rezando porque quando você para ele para e quando você continua, ele continua’. Sempre que comentamos sobre isso, meu filho sempre diz: ‘É verdade, porque eu vi isso, vivi isso’".
Também asseguram que não têm nada de especial por fazer esse tipo de coisa, que são "muito pecadores, muito miseráveis e nos irritamos muito, mas o Senhor quis nos dar isso".
Por sua vez, Carlos destaca que atualmente “toda cultura nos diz que temos que ter sucesso, e que sucesso é ter o melhor trabalho possível com o melhor salário. Tenho certeza de que o dinheiro pode trazer comodidades, mas o que noz faz sentir bem é ser útil para os demais”.
“Quando vejo meus filhos que são ternos ou caridosos com outras pessoas, com outras crianças. Quando vejo que são capazes de se doar, prescindindo de seus pais para que possamos adotar outras crianças sabendo que vamos sofrer quando morram, isso me faz mais feliz que qualquer promoção e qualquer dinheiro. E estou convencido de que sou uma das pessoas mais felizes do mundo”.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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