LONDRES, 8 de jan de 2021 às 11:17
Em meio ao aumento dos testes pré-natais, o número de bebês com síndrome de Down nascidos na Europa caiu pela metade entre 2011 e 2015, confirmando os temores de ativistas pró-vida no Reino Unido.
Um estudo publicado em dezembro de 2020 no European Journal of Human Genetics examinou o período entre 2011 e 2015 para determinar o número de bebês nascidos com síndrome de Down em todos os países da Europa, e comparou esses números com estimativas de quantos bebês teriam nascido com esta condição se não tivessem sido abortados.
O estudo descobriu que 54% menos bebês com síndrome de Down nasceram durante esse período no Reino Unido do que as estimativas esperadas, atingindo um número quase em linha com a média europeia.
Em particular, no Reino Unido, os testes pré-natais não invasivos para a síndrome de Down estão disponíveis desde 2012 para qualquer mulher disposta a pagar 500 euros (cerca de 617 dólares), informa BBC.
Na Espanha e na Itália, o percentual de redução foi de 83% e 71%, respectivamente.
O aborto é legal no Reino Unido até a 24ª semana de gravidez, exceto quando a continuação da gravidez for perigosa para a saúde física ou mental da mãe, bem como nos casos em que o bebê “sofrerá de anormalidades físicas ou mentais, como estar seriamente deficiente”.
Para essas deficiências, que podem incluir síndrome de Down, lábio leporino e pé torto, o aborto é legal até o nascimento. A maioria dos cerca de 200 mil abortos por ano no país ocorre antes das 13 semanas.
Right to Life UK, um dos principais grupos pró-vida do país, documentou vários casos de mulheres que foram pressionadas a abortar seus filhos como resultado de testes pré-natais. Entre eles está o caso de uma mãe a quem foram oferecidas "cerca de 15 interrupções", mesmo quando estava com 38 semanas de gravidez.
De acordo com algumas estimativas, nove em cada dez mulheres no Reino Unido que são diagnosticadas com síndrome de Down abortam seus filhos.
O aumento do uso de NIPT (teste pré-natal não invasivo) levou várias organizações profissionais médicas no Reino Unido, incluindo o Royal College of Obstetricians and Gynecologists, a emitir diretrizes exortando os médicos a não pressionar o aborto com base nos resultados do teste.
Uma investigação no verão passado descobriu que o número de nascimentos de bebês com síndrome de Down caiu 30% nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde que oferecem NIPT.
A campanha "Don't Screen Us Out" (Não nos descarte) no Reino Unido, nos últimos quatro anos, tem aumentado a conscientização e buscando mudar as leis de aborto do Reino Unido, a fim de alterar a Lei do Aborto de 1967. Assim, o aborto por incapacidades não fatais seria proibido no terceiro trimestre, que começa por volta da 28ª semana de gravidez.
Lynn Murray, porta-voz da campanha, disse à CNA – agência em inglês do Grupo ACI – em uma entrevista no ano passado, que a campanha começou em resposta à proposta do governo de um método de detecção relativamente novo para a síndrome de Down, conhecido como teste de "DNA livre de células", que o governo diz que detectaria 102 casos adicionais de síndrome de Down por ano.
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Dada a alta taxa de abortos de bebês com síndrome de Down no Reino Unido, a campanha foi formada para tentar fazer com que o governo avaliasse o impacto da técnica de teste pré-natal não invasivo – que já é oferecida nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde (NHS) – teria na comunidade com síndrome de Down. A campanha atraiu a atenção de britânicos com preocupações semelhantes, disse.
No início de 2020, uma mulher britânica de 25 anos com síndrome de Down, Heidi Crowter, entrou com um processo contra o governo do Reino Unido, buscando mudar as leis.
Uniu-se a Crowter no processo de Cheryl Bilsborrow, mãe de um menino de dois anos com síndrome de Down, que confessou que foi encorajada a fazer um aborto depois que os médicos realizaram o teste de detecção em seu filho no ventre. Máire Lea-Wilson, mãe de Aiden, de quase dois anos que tem síndrome de Down, também se juntou ao processo.
Em outubro, o Supremo Tribunal da Inglaterra e País de Gales concordou em ouvir o recurso legal.
O Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência tem criticado consistentemente os países que preveem o aborto por motivos de deficiência. Em alguns países, como a Islândia, a taxa de aborto de bebês que se acredita terem síndrome de Down é de quase 100%.
O Servo de Deus Jerome Lejeune descobriu a causa genética da síndrome de Down, uma cópia adicional do cromossomo 21, em 1958. Ele passou o resto de sua vida pesquisando tratamentos e curas para a doença, combatendo o uso de testes pré-natais e aborto de nascituros com síndrome de Down.
Berthe Lejeune, viúva do Dr. Lejeune, disse que seu marido ficou de coração partido porque muitos médicos e governos desde então usaram sua descoberta para "descartar" bebês com síndrome de Down.
“Ele achava que todos os médicos ficariam felizes em encontrar pesquisas para curá-los. Mas, infelizmente, todos os governos, não apenas a França, disseram: ah, é uma descoberta maravilhosa. Você pode detectar essas crianças doentes antes de nascerem e, assim, tirá-las com um aborto", disse Lejeune à EWTN Pro-Life Weekly em 2017.
Publicado originalmente em CNA. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.
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Conheça a jovem com síndrome de Down que luta contra o aborto no Reino Unido https://t.co/rUj8zy6RK6
— ACI Digital (@acidigital) October 30, 2020