Buenos Aires, 11 de jan de 2021 às 11:50
Após a aprovação da lei do aborto no Senado da Argentina, em 30 de dezembro, o Cardeal Mario Aurelio Poli, Arcebispo de Buenos Aires, assegurou que "finalmente o Deus da vida se imporá, pelos caminhos que somente Ele conhece".
Assim indicou o Purpurado em mensagem datada de 8 de janeiro, depois que o Senado aprovou a Lei 27610 sobre o aborto, com a qual se permite esta prática até a 14ª semana de gestação, sem necessidade de justificativa.
Fora desse prazo, o artigo 4 da lei assinala, sem dar maiores detalhes, que o aborto pode ser realizado quando a gravidez for produto de estupro ou “se a vida ou a saúde integral da grávida estiver em perigo”.
Depois do "dia sombrio de 30 de dezembro" e da "consagração do direito de tirar a vida dos seres que estão sendo gerados", o Cardeal Poli compartilhou algumas reflexões para "colocar um olhar esperançoso no momento que vivemos e tenho certeza de que contribuirão para discernir e renovar a nossa confiança de que o Deus da vida prevalecerá definitivamente, por caminhos que só Ele conhece”.
O Cardeal recordou que aquele dia “amanheceu com um céu diáfano de verão, mas para muitos argentinos viveu-se um dia silencioso e sombrio, como se muitos voltassem do sepultamento de um familiar muito querido”.
“Foi difícil definir o sentimento de impotência e tristeza, ao não poder defender o direito de tantas almas inocentes perante uma lei que por muitos motivos nasce injusta e tão contrária à cultura e aos sentimentos do povo”.
Posteriormente, o Arcebispo descreveu que “enquanto um grupo de jovens e militantes partidários celebra até o paroxismo a consagração do direito de tirar a vida dos seres que estão sendo gerados, a grande maioria dos argentinos contemplamos assombrados o avanço de uma legislação que prioriza o descarte dos mais fracos e a negação ao direito elementar que nos permite participar da festa da existência, desde o momento próprio em que acontece o maravilhoso dom da vida, desde o instante da concepção”.
“Paradoxalmente, isso ocorre com um governo que se autodenomina popular e no contexto de uma pandemia que já causou mais de 40 mil mortes até agora e ameaça uma segunda onda de infecções”.
Do mesmo modo, o cardeal Poli indicou que “a Virgem e São José devem ter sofrido a mesma dor a caminho do Egito, quando souberam do infanticídio perpetrado pelo rei Herodes: talvez pensassem na dor das jovens esposas, cujo filho lhes foi tirado, sem poder fazer nada face ao abuso brutal do poder da vez”.
“Enquanto somos peregrinos na terra, e nos custa passar por estes momentos amargos, vem em nosso auxílio o magistério do Papa Francisco, que propôs um ano dedicado à figura de São José, que assumiu para si o cuidado de Maria e do Menino Jesus, e o fez com coração de pai”.
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O cardeal Poli também comentou que "muitas vezes ocorrem em nossas vidas fatos cujo sentido não entendemos e nossa primeira reação muitas vezes é decepção e rebeldia", mas dirigindo o olhar para São José, pode-se ver como ele "deixa de lado seu raciocínio para ceder ao que acontece e, por mais misterioso que pareça, acolhe-o, assume a responsabilidades e reconcilia-se com a sua própria história”
“Se não nos reconciliarmos com a nossa história, não conseguiremos nem dar o próximo passo, porque seremos sempre prisioneiros das nossas expectativas e das consequentes decepções”, frisou.
“A vida espiritual de José não nos mostra um caminho que explica, mas um caminho que acolhe. Só a partir desta acolhida, desta reconciliação, podemos intuir também uma história maior, um significado mais profundo”, continuou.
O Arcebispo também disse que “o realismo cristão, que não rejeita nada do que existe, volta mais uma vez. A realidade, em sua misteriosa irredutibilidade e complexidade, carrega um sentido de existência com suas luzes e sombras” e nas palavras do apóstolo Paulo: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus”.
“A fé que Cristo nos ensinou é a que vemos em São José, que não procurou atalhos, mas enfrentou ‘com os olhos abertos’ o que lhe acontecia, assumindo a responsabilidade em primeira pessoa”, concluiu o Cardeal.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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