A Conferência Episcopal da Venezuela insistiu em solicitar ao governo de Nicolás Maduro "uma mudança radical na condução política" para que ocorram "eleições presidenciais e parlamentares em condições de liberdade e igualdade para todos".

Assim indicaram os prelados em uma exortação pastoral “diante da gravíssima situação do país”, após a sua 95ª Assembleia Plenária encerrada em 11 de janeiro.

“Acompanhando e interpretando o sentimento da maioria dos venezuelanos, mais uma vez insistimos que o país precisa de uma mudança radical na condução política, que requer por parte do Governo integridade suficiente, racionalidade e um sentimento de amor pelo país para deter este mar de sofrimento do povo venezuelano; e a disposição urgente para encontrar o caminho jurídico e pacífico mais ágil, que facilite uma transição democrática e nos leve às eleições presidenciais e parlamentares o quanto antes em condições de liberdade e igualdade para todos os participantes e com o acompanhamento de organizações plurais”, indicaram os bispos.

“Somos conscientes de que estamos pedindo ao governo um ato de coragem; mas isso é necessário para o bem do povo, especialmente dos mais pobres. Assim, nós, venezuelanos, nos encontraremos novamente como irmãos e construiremos uma Venezuela próspera para todos”, destacaram.

Os bispos também pediram às autoridades que garantam a “liberdade de ação das instâncias sociais intermediárias e que as organizações não-governamentais possam ajudar a solucionar os problemas das comunidades em matéria de alimentação, saúde, educação e em geral, na promoção dos direitos humanos”.

“O governo não pode solucionar todos os muitos problemas que sofremos, enquanto as comunidades organizadas, com o apoio de diferentes instituições sociais, podem contribuir com pequenos, mas valiosos grãos de areia. A ajuda humanitária não pode ser politizada, pois todo o país está sofrendo com a terrível crise que vivemos”, destacaram os prelados.

Os bispos venezuelanos disseram que todo o país sofre “as terríveis consequências de um modelo econômico, imposto por um regime e uma ideologia comunista que empobreceu todos, especialmente os mais fracos. E, por outro lado, vemos um grupo minoritário de venezuelanos que enriquece em detrimento da maioria da população”.

Os prelados também denunciaram as graves violações dos direitos humanos no país, o que foi corroborado pelos “relatórios da Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachellet, em junho de 2019, da Missão Especial da ONU, investigadora deste tema, emitidos em 15 de setembro de 2020, e o relatório da Promotoria do Tribunal Penal Internacional de Haia, em 14 de dezembro de 2020" que "se baseiam em um grande número de arquivos de tortura e assassinatos que apontam para crimes supostamente cometidos por autoridades do atual governo”.

Além disso, indicam os bispos, “é notório como a qualidade de vida, educação, saúde e serviços básicos se deterioraram; estamos sofrendo com uma inflação irrefreável e uma desvalorização que empobreceu toda a população”.

Os bispos indicam que a migração de milhões de compatriotas é a “prova mais evidente do grande fracasso das políticas públicas (econômicas e sociais) executadas pelo Governo”.

Depois de relembrar aqueles que morreram em um naufrágio na costa de Güiria, a caminho de Trinidad e Tobago, em meados de dezembro, os bispos se referiram às eleições parlamentares e à consulta popular posterior, convocada pela oposição liderada por Juan Guaidó.

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A primeira de 6 de dezembro, indicaram, foi um processo que esteve "repleto por graves irregularidades, pouco divulgado e desconhecido por um vasto setor internacional".

“Tanto a escassa participação como seus resultados não expressam a vontade do povo, nem refletem o pluralismo social. A instalação de uma Assembleia Nacional que carece de fundamento democrático, em meio de um “revanchismo”, de uma desqualificação dos líderes da oposição, de intimidações e ameaças de perseguição, não ajuda a resolver os problemas do povo nem cria confiança para a recuperação do país”, garantiram.

Sobre a segunda, cujo dia central foi uma semana depois, “levantou aos cidadãos perguntas dirigidas fundamentalmente à realização de eleições presidenciais e parlamentares livres, acompanhadas pela Comunidade Internacional, e embora esta consulta tenha contado, segundo os organizadores, com uma participação muito significativa, não se viu em um futuro imediato a concreção de seus resultados”.

Os bispos recordaram que neste ano se realizará a beatificação do Dr. José Gregorio Hernández e expressaram seu desejo de que seja “uma bela ocasião para não ficar nos anais da história como um acontecimento significativo, mas como ocasião para o encontro que deve durar e ter um objetivo claro: refundar a Venezuela com os princípios da nacionalidade inspirados no Evangelho”.

Por fim, convidaram a participar de um Dia Nacional de Oração e Reflexão, em 2 de fevereiro de 2021, “para que nossas orações fortaleçam a fé e a esperança e nos alcancem de Deus a resolução de nossos conflitos de maneira pacífica, em uma sociedade onde nos reconheçamos uns aos outros como irmãos”.

“Que Maria de Coromoto, padroeira da Venezuela, e São José, ‘pai da coragem criativa’ cuidem e protejam o nosso país”, concluíram.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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