REDAÇÃO CENTRAL, 28 de jan de 2021 às 06:00
No dia 25 de janeiro, Regina Lynch, gerente de projetos da Pontifícia Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), denunciou o assassinato de centenas de cristãos, entre sacerdotes e fiéis, vítimas do aumento da violência durante o atual conflito político que atravessa Tigray, no país africano da Etiópia.
A região de Tigray, cuja capital é Mekele, é a mais ao norte da Etiópia e faz fronteira com a Eritreia e o Sudão. 95% da população é cristã, da Igreja Copta Ortodoxa Etíope e pertence à etnia tigrey, informou a ACN.
Fontes da fundação “asseguram que a violência não é motivada pela religião”, mas pelo conflito político na região, que eclodiu depois que as eleições parlamentares de 29 de agosto de 2020 foram adiadas, devido à pandemia de Covid-19.
"O partido nacionalista Frente Popular para a Libertação de Tigray (FPLT) organizou, de forma independente e sem a permissão do governo nacional, eleições regionais na região de Tigray no início de setembro, o que criou uma crise política que levou a uma intervenção militar", explicou ACN.
Assinalou que os combates eclodiram em Tigray "depois que o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou para a região tropas federais, que teriam sido acompanhadas por tropas da Eritreia, para lutar contra a Frente Popular para a Libertação de Tigray (PFLT)".
Uma das fontes contatadas pela fundação pontifícia confirmou de forma “anônima por medo de represálias” que “o problema é que as tropas da Eritreia estão envolvidas desde o início. O governo negou, mas aqueles que estão matando no leste e no noroeste de Tigray são as tropas eritreias”.
“É quase impossível confirmar os números, mas recebemos informações sobre pessoas mortas por tropas eritreias em Irob, Zalambassa e Sebeya. Além disso, soube da morte de dezenas de pessoas, incluindo sacerdotes, assassinadas em uma igreja em Gietelo, em Gulemakada".
Lynch confirmou que ninguém sabe o número exato de mortos, mas se abe que "centenas de cidadãos estão sendo assassinados", entre os quais "há sacerdotes e líderes religiosos”.
Também “destruíram e saquearam lojas, escolas, igrejas e conventos. Milhares de pessoas fugiram de suas casas. Muitos cruzaram a fronteira com o Sudão, mas outros buscaram refúgio em áreas remotas, nas montanhas, sem água e sem acesso a alimentos”, acrescentou.
Lynch também se referiu à notícia do possível assassinato de 750 pessoas em novembro em meio a um assalto à igreja ortodoxa de Santa Maria de Sião (Maryam Tsiyon), em Axum, onde segundo a tradição é guardada a Arca da Aliança.
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“Não conseguimos verificar os dados exatos do que seria um verdadeiro massacre. Atualmente não se pode viajar na região e as comunicações são muito restritas, mas recebemos a confirmação de uma longa série de assassinatos e ataques contra pessoas inocentes em muitas partes da região de Tigrey e também na área de Axum. A população está apavorada”, disse.
ACN também destacou que em dezembro de 2020 outro massacre poderia ter ocorrido na igreja de Maryam Dengelat, onde mais de 100 pessoas teriam morrido.
Lynch explicou que o motivo de não saber os números exatos é porque a região está sob isolamento. “A situação no norte da Etiópia é alarmante. A comunicação é muito precária, há quase três semanas a região ficou totalmente isolada do resto do mundo, sem internet ou telefone. As notícias que chegam até nós, de alguns que puderam visitar a área, são terríveis”.
Sobre isso, destacou que o isolamento sofrido pela região torna extremamente difícil o envio de socorros, por isso, pede ajuda.
“É um problema político, mas quem paga com a vida são os cidadãos e os civis. Esta é uma situação terrível. Devemos aliviar o sofrimento de tantas pessoas e dar conforto aos nossos irmãos cristãos que estão isolados do mundo em uma situação de angústia, ameaçados pela violência e pelo terror”, disse.
“No momento é quase impossível acessar as informações, mas estamos procurando soluções para ver como apoiar a igreja local. Enquanto isso, pedimos a todos que unam seus esforços em orações por este país, por sua Igreja e por seu povo”, concluiu.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.
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