27 de jan de 2021 às 15:30
O Seminário de São Pedro da Escócia foi construído há mais de cinco décadas na Escócia, em meio a um auge de vocações sacerdotais e ao crescente número de católicos no país; no entanto, com o tempo teve que ser fechado, pois embora fosse considerado "uma joia da arquitetura", tinha características que faziam com que fosse muito difícil de ser habitado.
O edifício eclesiástico fica no meio de uma floresta distante, localizada ao norte da cidade de Cardross, Dumbartonshire, ao norte de Glasgow. Ao chegar ao local, a primeira coisa que se observa são portas cobertas por arame farpado que possuem uma placa pendurada que diz: "Fique fora", para impedir a entrada de visitantes.
Segundo o National Catholic Register (NCR), em 1958, o então Arcebispo de Glasgow, Dom Donald Campbell, decidiu construir o seminário, pois o antigo seminário de São Pedro localizado em Bearsden foi destruído em 1946, após um incêndio causado por um desastre natural.
Dom Campbell tomou essa decisão em meio ao aumento das vocações ns Igreja Católica de 1950 a 1960. Naquela época, a Igreja na Escócia, como em outros lugares, esperava que essa tendência continuasse ao longo dos anos.
Além disso, a população católica da Escócia, especialmente em Glasgow, estava crescendo significativamente, por isso esperava-se que com o Seminário de São Pedro houvesse sacerdotes suficientes para apoiar as congregações em expansão.
O Prelado decidiu que o complexo seria construído no que era Kilmahew House, uma mansão baronial escocesa de 1860. O contrato de construção foi assinado com Gillespie, Kidd & Coia e os arquitetos foram Isi Metzstein e Andy MacMillan. As obras foram iniciadas em 1962 e foi inaugurado em 1966.
Os designers foram influenciados pelo arquiteto europeu mais importante da época, Le Corbusier, e como a ideia era que o edifício abrigasse muitas gerações de seminaristas, a arquitetura escolhida para o projeto do novo seminário foi modernista e brutalista.
A obra arquitetônica foi reconhecida pela crítica, a ponto de os designers ganharem o prêmio RIBA de arquitetura em 1967. O projeto do seminário se distanciou do que era tradicionalmente a arquitetura da igreja escocesa. “Com efeito, na época, era arquitetonicamente diferente de qualquer edifício público na Escócia”, assinala o NCR.
O crítico de arquitetura Jonathan Glancey disse que o estilo de concreto bruto de Corbu, presente no seminário de São Pedro, "poderia ser visto como um sucessor natural ou um complemento das tradicionais torres escocesas, com suas formas ásperas e materiais duros". Por isso, o seminário projetava "uma retrospectiva aura junto com a sua visão futurística", indicou.
Em outubro de 2005, o Seminário de São Pedro foi nomeado pela revista de arquitetura Prospect como o maior edifício da Escócia após a Segunda Guerra Mundial.
Embora o Seminário de São Pedro tenha sido elogiado pela crítica, "aqueles que tinham que morar no edifício tinham uma percepção completamente diferente”. Por isso, embora a sua capacidade fosse de 100 seminaristas, nunca se aproximou desta quantidade de estudantes.
“O edifício era difícil de aquecer, uma necessidade [prioritária] na Escócia; além disso, tinha vazamentos que eram muito caros para consertar. Só em 1967 ocorreram 63 vazamentos. Do mesmo modo, o seminário tinha um isolamento acústico muito ruim”, explicou NCR.
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Este problema se somou ao fato de que poucos anos depois de sua construção, após o Concílio Vaticano II, ocorreu uma crise nos seminários de todo o mundo, inclusive na Escócia, que resultou em uma queda significativa no ingresso regular de seminaristas no Seminário de São Pedro. Tudo isso levou os diretores do seminário a decidirem fechá-lo em 1980.
Quarenta anos depois, o seminário continua no meio da floresta, mas agora está em ruínas e com seus muros pichados e parcialmente destruídos.
No centro do edifício eclesiástico está o que foi a capela. Embora o desenho da nave e o santuário ainda estejam presentes, o que era o altar principal agora é apenas um pedaço de concreto sem telhado. Abaixo do altar principal existe uma cripta com vários altares, onde os sacerdotes celebravam Missas matinais privadas de acordo com as mudanças litúrgicas da época.
Ao descer por uma escada de pedra cheia de vidros quebrados, ainda se vê muitos altares deste tipo enfileirados. Infelizmente, os altares foram vandalizados com pichações obscenas e macabras, indica NCR.
No verão de 2020, a Arquidiocese de Glasgow conseguiu transferir a propriedade do antigo seminário para uma fundação de caridade. Os novos proprietários do local, Kilmahew Education Trust, planejam "desenvolver uma visão viável, com a educação em seu centro".
O Seminário de São Pedro não só representa um espaço de importância arquitetônica e histórica da Igreja moderna, mas também traz consigo uma “experiência escatológica”. O prédio abandonado e em ruínas demonstra que muito do que tentamos conquistar na terra se apagará muito depois de falecer, e nos recorda que aqui na terra “não temos uma cidade eterna”, concluiu.
Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.
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