Damasco, 3 de fev de 2021 às 06:00
A religiosa portuguesa Maria Lúcia Ferreira (também conhecida como Ir. Myri) é missionária na Síria e alerta que no país “a situação está cada vez pior, as pessoas estão quase a passar fome, há já [mesmo] quem passe fome…”.
A declaração foi dada durante um telefonema à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) de Lisboa, na qual narrou que a crise econômica tem se agravado na Síria de um dia para outro, fruto não só de uma década de guerra, mas também das sanções econômicas impostas ao regime de Bashar al Assad e às consequências da pandemia do coronavírus.
Pertencente à Congregação das Monjas da Unidade de Antioquia, Ir. Myri vive em um mosteiro na vila de Qara, relativamente perto da fronteira com o Líbano. De acordo com ela, na Síria, “tudo está cada vez mais caro” e assim “é muito difícil viver”.
Segundo a Fundação ACN, a religiosa relatou que a crise econômica está atingindo toda a sociedade e explicou que são muito frequentes e prolongadas as quebras no fornecimento de eletricidade, mas também é cada vez mais difícil encontrar combustíveis para os automóveis e para o aquecimento das casas.
“A eletricidade às vezes passa 12 horas sem vir e quando vem às vezes é só por meia hora”, disse, acrescentando que “também é muito difícil encontrar gasolina… as pessoas estão na fila à espera e não encontram”.
“Também o ‘mazut’ [óleo] para as pessoas se aquecerem é muito difícil… Tudo o que é carburantes é muito difícil [de encontrar], assim como aqui na região não há muita madeira”, indicou.
Conforme assinalou Ajuda à Igreja que Sofre, o relato de Ir. Myri vai ao encontro do que disse ao secretariado britânico da Fundação Pontifícia a Ir. Annie Demerjian, da Congregação de Jesus e Maria, responsável há quase uma década pelas campanhas de ACN nas cidades de Aleppo e Damasco.
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De acordo com ela, “as pessoas estão com fome, não têm o que comer” e “apenas a cada duas horas temos uma hora de eletricidade”. “Isso não é suficiente para aquecer uma casa. Não há gás suficiente para cozinhar alimentos”, completou.
A religiosa ainda lamentou: “O mundo começou a esquecer-se da Síria e isso é doloroso”.
Diante disso, assinalou a Fundação ACN, torna-se mais relevante o trabalho realizado por esta Fundação Pontifícia na Síria, permitindo que famílias mais empobrecidas possam ter acesso a bens essenciais como leite para as crianças, alimentos, medicamentos e acesso a cuidados de saúde e produtos de higiene pessoal.
A ajuda da Fundação ACN abrange atualmente 273 famílias em Aleppo e mais de uma centena em Damasco, a capital da Síria. “Graças ao apoio da Fundação AIS, podemos dar-lhes todos os meses ajuda de subsistência básica, incluindo vales para a compra de artigos essenciais como comida e gás para cozinhar”, explicou Ir. Annie em novembro, quando a Ajuda à Igreja que Sofre lançou a campanha de Natal em que se ofereceram blusas a milhares de crianças que vivem nas cidades de Damasco e Aleppo, mas também em Homs, Kameshli, Hassakeh, Swidaa e Horan.
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