BAGDÁ, 18 de fev de 2021 às 14:26
A viagem do Papa Francisco ao Iraque, marcada de 5 a 8 de março, acontecerá em um momento em que o país enfrenta muitos desafios políticos, socioeconômicos e de segurança, que o embaixador da União Europeia considera uma situação muito crítica.
No dia 16 de fevereiro, o embaixador da União Europeia no Iraque, Martin Huth, dirigiu-se a outros diplomatas no lançamento virtual do relatório “Irak: A road map for recovery” (Iraque: Um roteiro para a recuperação) realizado por Atlantic Council, organização que congrega especialistas norte-americanos na área de assuntos internacionais.
Durante o encontro, Huth, orador principal no lançamento do relatório, disse que o Iraque enfrenta atualmente "múltiplos desafios graves, agravados tanto pela situação da Covid-19, como por um entorno regional instável”.
“Gostaria de enfatizar a necessidade absoluta e primordial de reforma da economia iraquiana e de que os cidadãos iraquianos compreendam essa necessidade. Vemos isso como uma - senão a - prioridade para o país", assinalou.
"E, como o Iraque enfrenta múltiplas crises políticas e socioeconômicas, esta pode ser a última oportunidade para alcançar o que deve ser inevitavelmente um modelo econômico completamente novo para o Iraque", disse.
Huth referiu-se especificamente à necessidade de diversificar, criar oportunidades de investimento e reativar o setor agrícola, ao mesmo tempo em que se reduz drasticamente o gasto em outras áreas como, por exemplo, os salários do governo. Além disso, mencionou a atual disputa entre os governos de Bagdá e Erbil como um potencial obstáculo para conseguir a reforma econômica.
O relatório, que foi escrito pelo Dr. C. Anthony Pfaf, esclarece as circunstâncias que rodearam os protestos contra o governo desde outubro de 2019, e as realidades socioeconômicas por trás do alto desemprego no Iraque.
Aproximadamente 60% da população iraquiana tem menos de 25 anos. Segundo o relatório, “muitos desses jovens iraquianos estão desempregados, ou pelo menos pouco ocupados, o que significa que muitas vezes estão empobrecidos, entediados e ressentidos. Muitos ficaram traumatizados por uma guerra quase constante”.
“Os anos de conflito reduziram significativamente as oportunidades educacionais, deixando muitos iraquianos desempregados, mesmo nos ofícios, devido à falta de habilidades. Provavelmente, não há iraquianos qualificados em número suficiente para assumir empregos técnicos, caso a necessidade desses empregos aumente", assinala o relatório.
Em suma, estima-se que haja uma taxa de desemprego de 36% para os jovens no Iraque. Os preços baixos do petróleo, o desperdício e a corrupção do governo e as más condições de segurança prejudicam ainda mais o potencial de crescimento econômico do país, indica o relatório.
É importante assinalar que quando o movimento de protesto iraquiano ganhou terreno pela primeira vez em outubro de 2019, o Papa Francisco exortou os cidadãos a “buscarem soluções apropriadas para os desafios e problemas do país” com o apoio da comunidade internacional.
Da mesma forma, o Papa exortou os líderes do governo iraquiano a "que escutem o grito da população que pede uma vida digna e pacífica".
No primeiro dia da próxima viagem do Papa Francisco ao Iraque, o Santo Padre fará um discurso às autoridades governamentais e aos líderes da sociedade civil no palácio presidencial em Bagdá.
Ele também terá reuniões privadas com o primeiro-ministro iraquiano Mustafa Al-Kadhimi e com o presidente iraquiano Barham Salih, bem como um encontro com o Grão-Aiatolá Ali al-Sistani, líder dos muçulmanos xiitas no Iraque, e as autoridades do Curdistão, em Erbil.
Após um ataque com mísseis contra Erbil, em 15 de fevereiro, circularam rumores nos meios de comunicação árabes de que a viagem do Papa seria adiada devido a questões de segurança e ao surto de Covid-19.
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No entanto, o Arcebispo Mitja Leskovar, Núncio Apostólico em Bagdá, emitiu um comunicado no dia seguinte para esclarecer que os rumores são "notícias falsas".
Um grupo militante xiita que se autodenomina "Saraya Awliya al-Dam", ou "Guardians of Blood Brigade" (Brigada de Guardiões do Sangue), assumiu a responsabilidade pelo ataque desta semana.
O Estado Islâmico, um grupo jihadista sunita, reivindicou os atentados suicidas do mês passado, em Bagdá, que mataram 32 pessoas.
A segurança continua sendo um grande desafio para o Iraque. De acordo com o relatório, o Estado Islâmico continua operando e desestabilizando o país, enquanto as milícias apoiadas pelo Irã também contribuem para a atual "situação de segurança instável”.
Em 10 de fevereiro, em uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, Vladimir Voronkov, chefe da luta contra o terrorismo da ONU, disse que a ameaça representada pelos combatentes terroristas do Estado Islâmico está "aumentando novamente".
Assinalou que cerca de 10 mil combatentes, principalmente no Iraque, estão em busca de uma insurgência prolongada que representa "uma ameaça significativa, de longo prazo e global".
"Não preciso mencionar a importância de que a coalizão internacional contra o Daesh [Estado Islâmico] permaneça no Iraque, pois isso é evidente para todos", disse Huth.
"O que também é evidente é que o Iraque não deve ser o campo de batalha permanente que sempre foi", assinalou, acrescentando que o recente ataque "às instalações da coalizão em Erbil foi outro lembrete disso".
O Iraque faz fronteira com o Irã, Arábia Saudita, Turquia, Síria, Jordânia e Kuwait. Huth disse que o governo iraquiano está tentando alcançar uma estabilidade e equilíbrio em sua política externa, porque "devido à sua posição geográfica, o Iraque [...] precisa manter as melhores relações possíveis com todos os seus vizinhos".
"E, embora a atenção internacional esteja frequentemente focada em outros lugares, por exemplo, Síria e Irã, este país precisa de atenção e apoio ativos em vista de seu potencial tanto positivo quanto negativo", concluiu.
Publicado originalmente em CNA.
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— ACI Digital (@acidigital) February 18, 2021