“Existe um perigo mortal para a Igreja: o de viver como se Cristo não existisse, ‘etsi Christus non daretur’”, disse o Pregador da Casa Pontifícia, Padre Raniero Cantalamessa em sua segunda pregação para a Quaresma.

“É o pressuposto segundo o qual o mundo fala o tempo todo da Igreja”, disse Cantalamessa. “Dela, interessam a história, a organização, os fatos, ou, mais comumente, as fofocas. Dificilmente se encontra o nome de Jesus. A isso se soma um fato objetivo: Cristo não entra em nenhum dos três grandes diálogos que hoje ocupam as relações entre a Igreja e o mundo.” Cantalamessa afirma que o nome de Cristo não entra no diálogo entre a fé e a filosofia, nem no diálogo da ciência e “nem mesmo no diálogo inter-religioso”.

Para o padre que prega para o Papa Francisco durante a Quaresma, “até nós corremos o risco de nos comportar como se Cristo não existisse.”

Lembrando que lhe haviam tocado profundamente as palavras do Papa Francisco na audiência geral de 25 de novembro, segundo as quais há quatro características da vida eclesial: a escuta dos apóstolos, a custódia da comunhão recíproca, a fração do pão, a pregação. “Essas coisas nos lembram que a existência da Igreja só tem sentido se permanece solidamente unida a Cristo.” “Tudo o que cresce fora dessas coordenadas é sem fundamento”, continuou Cantalamessa.

Propondo-se a pôr Jesus “em primeiríssimo plano”, o Pregador da Casa Pontifícia ressaltou que “a Igreja crê e prega de Cristo tudo aquilo que o Novo Testamento prega sobre Ele: tudo o que se diz de Cristo deve respeitar o dado de que Ele é Deus e Homem na mesma pessoa.”

Para o padre, ninguém hoje duvida da humanidade de Cisto como aconteceu no início do Cristianismo com os docetistas e outros hereges. “Assiste-se antes a um fenômeno estranho e inquietante: a verdadeira humanidade de Cristo vem afirmada como tácita oposição à sua divindade, como uma espécie de contrapeso.”

“Jesus é a santidade de Deus”, prossegue o Cardeal, “não é o homem que se assemelha a todos os demais, é o homem a quem todos os demais devem se assemelhar. Jesus é a medida de todas as coisas.”

“A santidade de Jesus não é um princípio abstrato, é uma santidade real, vivida, nas situações concretas da vida. As Beatitudes são o autorretrato de Jesus, Ele ensina aquilo que faz,” disse Cantalamessa. “A consciência de Jesus é um cristal transparente, sempre na certeza de estar na verdade e no que é justo. Ninguém nunca ousou dizer isto de si mesmo. Isto ultrapassa toda medida: a Ressurreição de Cristo demonstra que era a pura verdade.”

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Ao chamar a atenção para o “aspecto mais prático da santidade de Cristo,” o pregador sublinhou que “aqui vem ao nosso encontro uma boa notícia, não só Jesus é o santo de Deus, mas que Jesus dá, presenteia a nós sua santidade.”

O Cardeal encerrou sua pregação convidando: “Devemos passar à imitação. Não se chega à fé partindo das virtudes, mas ao contrário. Os cristãos devem aperfeiçoar com sua vida a santidade que já receberam.”

Como propósito o Cardeal sugeriu: “A santidade de Jesus era fazer sempre a vontade do Pai. Tentemos hoje mesmo perguntar diante de cada situação qual é a coisa que mais daria prazer a Jesus? Aquilo que agrada Jesus está escrito no Evangelho e o Espírito Santo nos recorda.”

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